Skeelo compra Skoob e mira crescer no setor de e-books. O desafio: conquistar 10 milhões de leitores

Aquisição foi feita com intermédio da Americanas, que passa por crise

A leitura de um livro não precisa mais acabar na última página. Com as redes sociais, qualquer leitor pode fechar a capa dura ou o Kindle e ir atrás de resenhas, encontrar títulos similares e outras obras do mesmo autor e até descobrir uma comunidade totalmente dedicada ao livro.

Rodrigo Meinberg, founder e CEO da SkeeloRafael Lunes (de Barba), founder e VP de produto e engenharia da Skeelo (Germano Lüders/Exame)

Rodrigo Meinberg, founder e CEO da Skeelo Rafael Lunes (de Barba), founder e VP de produto e engenharia da Skeelo (Germano Lüders/Exame)

Isso pode acontecer em qualquer app com características de rede social, mas são poucas as opções de aplicativos que oferecem um espaço único para quem cultiva o hábito de ler. No Brasil, as maiores são a Skeelo, plataforma de livros digitais, e o Skoob, de comunidades para leitores. E agora, elas vão se tornar uma só: a Skeelo acaba de oficializar a aquisição da Skoob, em busca de oferecer uma experiência mais completa para quem gosta de ler.

A Skeelo foi lançada em 2019 com o objetivo de democratizar o acesso à leitura digital no Brasil. A empresa, que já transacionou mais de 180 milhões de livros e faturou R$ 100 milhões em 2023, tem se destacado por oferecer livros como parte de benefícios em planos de operadoras de telecomunicações e outros serviços. Hoje, qualquer cliente da Claro, por exemplo, tem acesso a mais de 10.000 livros da Skeelo disponíveis gratuitamente.

Já a Skoob, fundada em 2009, é uma rede social dedicada à leitura. Embora o serviço entregue a idade que tem, a plataforma é praticamente o único ponto de encontro para leitores de todo o país — a outra opção seria o Goodreads, cuja língua principal é o inglês —, garantindo um espaço para compartilhar resenhas e organizar suas estantes virtuais.

A rede social de livros também enfrenta problemas financeiros há alguns anos. Em 2021, conseguiu respirar um pouco após ser adquirida pela Americanas — nesta época, a Skeelo já tinha interesse na aquisição, mas teve que desistir —, mas foi deixada de escanteio pela gigante. Logo depois, em 2023, a crise da Americanas abalou profundamente o mercado brasileiro e gerou um impacto significativo em diversas operações da empresa.

Para a Skeelo, foi um momento de oportunidade. A conversa de uma possível aquisição foi retomada com a Americanas e a transição, aconteceu. Mas a oficialização e, posteriormente, a divulgação da transação, teve alguns meses de atraso. Rodrigo Meinberg, co-fundador e CEO da Skeelo, ressalta que “a oficialização da transação não se relaciona à crise das Americanas”, mas o processo foi temporariamente interrompido após a prisão de Miguel Gutierrez, ex-CEO da Americanas, e a nova fase da investigação Polícia Federal, que aconteceu em junho.

Com a aquisição oficializada, a Skeelo planeja integrar as funcionalidades do Skoob à sua plataforma, criando um ambiente onde os leitores possam não apenas acessar e-books e audiobooks, mas também criar um “clube do livro digital”, onde os usuários possam encontrar conteúdos de alta qualidade e interagir de forma mais dinâmica.

O desafio de 10 milhões

Dá para perceber a sinergia na aquisição: uma empresa de livros digitais quer uma rede social para leitores. Segundo Meinberg, a empresa viu na aquisição da Skoob uma oportunidade única de criar um ecossistema que integre a leitura digital com a comunidade ativa de leitores do Skoob.

Mas é também um tremendo desafio para a Skeelo, que terá que convencer os 10 milhões de usuários cadastrados na Skoob para migrar para o novo app e ainda fazer uso dos livros digitais disponíveis. Um exemplo é o caso de Elon Musk com a compra milionária do X, antigo Twitter. Quase dois anos depois, o novo dono continua tomando decisões que pioram a experiência do usuário e, consequentemente, fazem eles migrarem para novos apps.

X (antigo Twitter) fecha escritório no Brasil e cita Moraes como causa

Para Rafael Lunes, co-fundador e VP de produto e engenharia da Skeelo, um dos maiores desafios é a manutenção e o crescimento da comunidade ativa do Skoob, sem perder a identidade que fez da plataforma uma referência entre leitores brasileiros. Lunes também destacou que a fusão das duas plataformas pode ajudar a resolver um problema histórico no Brasil: o baixo hábito de leitura. A ideia é que a gamificação e as funcionalidades sociais incentivem mais pessoas a iniciar e manter a leitura no app.

Outro ponto destacado por Meinberg foi a possibilidade de internacionalização da plataforma após a aquisição. A Skeelo já está de olho em mercados como Argentina e México. Para a Skeelo, as milhares de postagens já publicadas pela comunidade do Skoob são o diferencial competitivo, sem a necessidade dos usuários destes países começarem do zero e se depararem com uma rede social vazia.

Além disso, a Skeelo pretende usar os dados de leitura para melhorar a experiência dos usuários e oferecer conteúdos mais personalizados. Hoje em dia, a empresa já utiliza dados para entender quem realmente lê os livros e quem apenas os baixa, o que pode ser crucial para engajar ainda mais os leitores na nova plataforma unificada.

Com a aquisição da Skoob, a Skeelo se posiciona como uma das principais forças no mercado de livros digitais no Brasil. A empresa, que já conta com uma base de 16 milhões de clientes ativos, espera aumentar essa cifra em 15% até o final de 2024. O foco agora é expandir a oferta de conteúdos e parcerias com editoras e, claro, conquistar os leitores de todo o Brasil.