Líder do CV diz que direção de penitenciária mandou matar juiz e promotor; assista

Uma denúncia sobre um plano para assassinar um juiz e um promotor de Justiça no Mato Grosso foi revelada após a divulgação de um relatório do Grupo de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Prisional (GMF), vinculado ao Tribunal de Justiça do estado (TJMT), com base no depoimento de um detento apontado como liderança do Comando Vermelho (CV). Segundo ele, a ordem para o ataque teria partido diretamente da direção da unidade prisional, no segundo dia de oitivas realizadas com presos.

De acordo com o documento revelado pelo Repórter MT, o diretor Adalberto Dias de Oliveira e o subdiretor Antônio Carlos Negreiros dos Santos teriam determinado que o detento avançasse contra o juiz Marcos Faleiros da Silva e o promotor Luiz Gustavo Mendes de Maio. O objetivo, segundo o depoimento, seria desacreditar a inspeção e enfraquecer denúncias de tortura e abusos relatados pelos presos.

Em troca, o líder do CV receberia benefícios dentro do sistema prisional, como transferência para o Raio Evangélico e autorização para trabalho externo.

“A intenção era atacar o juiz e o promotor para tirar a credibilidade da inspeção”, afirmou o preso em audiência realizada em 30 de outubro de 2025, conforme registrado no relatório.

Líder da facção contou detalhes em audiência

Imagens gravadas durante uma audiência mostram o depoimento do detento Ismael da Costa dos Santos que relata como recebeu a proposta para atacar um promotor de Justiça durante a oitiva e, ao mesmo tempo, evidencia que estava praticamente sem restrições de segurança.

Enquanto fala, Ismael movimenta os braços e demonstra que as algemas estavam folgadas, caindo com facilidade. Ele afirma ainda que foi o único preso conduzido às audiências sem o uso do marca-passo, equipamento utilizado para limitar os movimentos das pernas, circunstância que, segundo o próprio detento, teria sido criada para facilitar uma ação violenta dentro da sala, durante os trabalhos do Grupo de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Prisional (GMF).

No mesmo vídeo, o detento afirma que teria sido orientado a avançar contra o promotor de Justiça em troca de vantagens dentro do sistema prisional. Segundo Ismael da Costa dos Santos, a proposta envolvia provocar um ataque de forma calculada para gerar repercussão e, com isso, comprometer a credibilidade da inspeção judicial realizada na unidade.

Nas imagens, ele reproduz as supostas instruções que teria recebido: “Avança no promotor, faz o panteiro, avança, pega de novo, avança. Você vai ganhar uma mídia, sim. Você vai ser isolado, sim, só que você vai queimar o status do restante, apontando que todos são iguais a você, sem direito a nada e eles na razão. Daqui seis meses eu te tiro para trabalhar”, afirma no vídeo.

Ismael relata ainda que, apesar de inicialmente resistir à proposta, chegou a responder “eu fecho”, mas passou a questionar quais garantias teria de que os benefícios prometidos seriam efetivamente cumpridos.

Audiência ocorreu sem segurança adequada

O relatório aponta que a tentativa de atentado aconteceu durante uma audiência realizada dentro da penitenciária, marcada por uma quebra considerada intencional dos protocolos de segurança.

O detento entrou na sala sem algemas nos pés e com as algemas das mãos colocadas apenas de forma simbólica. Ainda segundo o depoimento, o preso teve acesso a um estilete artesanal, conhecido como “chucho”, mas decidiu não executar o ataque.

O documento destaca que não havia policiais penais na porta da sala, apesar de determinação expressa do magistrado para reforço da segurança durante as oitivas.

Equipe do TJ teria sido seguida após inspeção

O relatório descreve ainda um episódio considerado suspeito após o fim da inspeção. Durante o retorno a Cuiabá, o veículo oficial em que estavam o juiz Marcos Faleiros, servidores do Judiciário e representantes de outros órgãos teria sido seguido e quase interceptado por uma caminhonete Amarok com vidros escuros, na rodovia MT-010.

Inspeção apurava denúncias de tortura

A inspeção extraordinária foi motivada por denúncias de tortura, humilhações, regime de terror e uso excessivo da força contra presos. O relatório menciona práticas como disparos de bala de borracha contra detentos rendidos, uso indiscriminado de spray de pimenta, espancamentos e retaliações após a saída de autoridades da unidade.

O documento foi encaminhado às autoridades competentes para investigação criminal e administrativa.

O que diz a Sejus

Em nota, a Secretaria de Estado de Justiça (Sejus) informou que recebeu o relatório de inspeção do TJMT na última sexta-feira (12). A pasta afirmou que instaurou, ainda em novembro, um procedimento administrativo conduzido pela Corregedoria-Geral para apurar os fatos, que, segundo a secretaria, estariam relacionados a um início de motim por parte de reeducandos.

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