A sétima edição do Panorama Ambiental Global (GEO7), do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), lançada nesta terça-feira (9), em Nairóbi, na África, aponta que a inação frente aos desafios climáticos e ambientais pode resultar em milhões de mortes e enormes danos financeiros. 

O documento, a principal avaliação científica periódica sobre a trajetória ambiental do planeta, também apresenta soluções que podem prevenir mortes, pobreza e render US$ 20 trilhões ao ano à economia mundial, até 2070.
O cientista Robert Watson, copresidente de avaliação do GEO7, ressalta que o relatório aponta a necessidade de mudanças profundas em cinco sistemas e um esforço coletivo e inclusivo para que aconteçam mudanças na trajetória ambiental.
“Vai requerer uma transformação sem precedente, integrada, rápida e inovadora das nossas finanças, economia, dos materiais, energia, sistemas alimentares e ambientais. Requer uma mistura de mudanças de comportamento, tecnológicas e nos governos como um todo. Esse não é um desafio para ministros de Meio Ambiente sozinhos. É para cada ministro, em cada governo no mundo, e para toda a sociedade”, avalia.
De acordo com o GEO7, as recomendações do panorama são o caminho necessário para evitar 9 milhões de mortes prematuras relacionadas à poluição, tirar 200 milhões de pessoas da subnutrição e 150 milhões de pessoas da pobreza extrema. Ressalta ainda que para promover as transformações são necessários altos investimentos.
Custo
O relatório aponta que são necessários US$ 8 trilhões ao ano para que o planeta alcance a meta de neutralizar as emissões de gases do efeito estufa até 2050, e para que as nações consigam restaurar e promover a conservação da biodiversidade.
Segundo Inger Andersen, diretora executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, o custo da inação é muito maior.
“Para dar apenas um exemplo do cenário apontado pelo relatório, as mudanças climáticas reduzirão 4% do PIB anual até 2050, tirarão muitas vidas e aumentarão a migração forçada”, alerta.
A trajetória de aumento da temperatura e os extremos climáticos somam um custo estimado em US$ 143 bilhões ao ano, nas últimas duas décadas, aponta o estudo.
Somam-se ainda perdas econômicas anuais relacionadas à saúde, como as decorrentes da poluição do ar, que apenas em 2019 exigiram US$ 8,1 trilhões, ou as causadas pela exposição a substâncias químicas tóxicas presentes nos plásticos, estimadas em US$ 1,5 trilhão ao ano.
De acordo com os cientistas, diante dos custos sociais e econômicos, o caminho apontado pelo relatório não é mais uma escolha, é inevitável. “Os danos evitados e os retornos de longo prazo sobre os investimentos mais do que compensam o que é necessário. Os benefícios macroeconômicos globais desse caminho aparecem em 2050 e crescem para US$ 20 trilhões ao ano até 2070, com um boom a partir daí”, reforça Inger Andersen.
Abordagem
O relatório também sugere uma mudança no modelo da tomada de decisões adotado atualmente pelas nações em negociações multilaterais e nas métricas adotadas.
“Seguir esse caminho começa por ir além do PIB como medida do bem-estar econômico, utilizando indicadores inclusivos que também acompanham a saúde humana e o capital natural e continuam a transição para modelos econômicos circulares e uma rápida descarbonização”, explica a diretora do Pnuma.
Análise
O relatório reúne o trabalho de 287 cientistas de 82 países, com contribuições de mais de 800 revisores do mundo todo e pretende responder à busca global por soluções efetivas e urgentes, que tornem o planeta mais resiliente.
“Deve servir de motivação para que as nações dêem seguimento aos progressos alcançados na COP30 da UNFCCC [Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, ocorrida em Belém, no mês de novembro], implementando as suas atuais promessas climáticas e descobrindo formas de as reforçar ainda mais”, conclui Inger Andersen.
