Golpe financeiro em academia? Desistências e acordos complicam investigação em Cruzeiro do Sul

O caso, que mobilizou diversas vítimas desde o início das denúncias, enfrenta agora um cenário inesperado

A Polícia Civil segue apurando um possível esquema de golpe financeiro que teria sido conduzido por uma empresária proprietária de uma academia em Cruzeiro do Sul e seu marido, que é militar. O caso, que mobilizou diversas vítimas desde o início das denúncias, enfrenta agora um cenário inesperado: desistências e acordos informais, que têm reduzido o número de representações ativas.

Em alguns casos, as vítimas afirmam ter sido atraídas por uma suposta “plataforma de investimentos”/Foto: Reprodução

As denúncias registradas na delegacia apontam que os valores entregues ao casal variam de pequenas quantias a cifras que ultrapassam centenas de milhares de reais. Há relatos de que o dinheiro teria sido destinado a supostos investimentos com lucro rápido, além de empréstimos não quitados. Em alguns casos, as vítimas afirmam ter sido atraídas por uma suposta “plataforma de investimentos”; em outros, tratava-se de pedidos de empréstimos que nunca foram pagos.

O delegado Lidomar Ventura destacou ao ContilNet que o caso exige uma análise detalhada, já que os relatos não seguem um padrão único. Há boletins de ocorrência que tratam de empréstimos comuns e outros que mencionam uma possível pirâmide financeira, o que amplia o escopo da apuração.

“Essas pessoas estão sendo chamadas a apresentar documentos e comprovantes dessas movimentações. A grande maioria fez apenas acordos verbais, o que dificulta ainda mais entender como tudo era negociado”, afirmou o delegado.

Delegado é responsável pelas investigações/Foto: Reprodução

A próxima etapa é aprofundar as investigações financeiras, a fim de verificar como as operações eram realizadas e se há elementos que caracterizem o crime de estelionato.

Um ponto que chama atenção é que a empresária investigada ainda não foi ouvida. Segundo o delegado, ela apresentou recomendação médica indicando que não está emocionalmente apta a prestar depoimento no momento.

“Temos que ouvir a pessoa quando ela estiver em condições emocionais de responder”, explicou Ventura.

Outro fato que tem influenciado o andamento das investigações é o crescente número de pessoas que estão retornando à delegacia para desistir da representação. Conforme a legislação, o crime de estelionato depende de representação da vítima para prosseguir, e cada desistência reduz o volume de denúncias.

Até agora, pelo menos três pessoas retiraram as queixas. “No início, tivemos cerca de 11 registros. Depois surgiram mais três vítimas, mas com as desistências acabamos retornando ao mesmo número inicial”, relatou o delegado.

Algumas vítimas afirmaram aos investigadores que chegaram a fazer acordos diretamente com a acusada.

Apesar de alguns relatos mencionarem uma possível pirâmide financeira ou plataforma de investimentos, o delegado afirma que não há comprovação da existência desse sistema.

“Fala-se em plataforma de investimento. Oficialmente, essa pirâmide não existe. Estamos investigando a origem dessa informação”, disse.

As investigações continuam individualmente, caso a caso, para verificar se houve conduta que configure estelionato. Caso sejam identificados elementos suficientes, a empresária poderá ser indicada formalmente.

Enquanto isso, as desistências, os acordos informais e a ausência de depoimento da principal investigada mantêm o caso cercado de dúvidas, e longe de uma conclusão definitiva.