Autismo e TDAH estão mais comuns hoje em dia? Entenda o que diz a medicina

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Nos últimos anos, a percepção de que autismo e TDAH se tornaram diagnósticos comuns tem crescido de forma significativa. Se antes era raro conhecer alguém com essas condições, hoje praticamente todo mundo tem contato com uma criança ou adulto que recebeu esse diagnóstico.

Esse aumento aparente desperta curiosidade e até preocupação: será que estamos diante de uma explosão de casos ou apenas de uma maior capacidade de identificar sinais que antes passavam despercebidos?

Este artigo foi pensado para você que deseja compreender melhor esse fenômeno. Ao longo da leitura, vamos explorar opiniões de especialistas e os fatores que explicam por que o número de diagnósticos parece ter aumentado tanto. Confira!

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O que explica o aumento dos diagnósticos?

Menino segurando coração quebra-cabeça colorido na frente do rosto. Conceito do Dia Mundial da Conscientização do Autismo
O aparente aumento de casos de autismo e TDAH não significa que essas condições estejam biologicamente mais comuns/ vejaa-Istockphoto

Antes de mais nada, saiba que a ciência aponta que não há evidências de que o autismo ou o TDAH estejam realmente mais frequentes biologicamente. O que ocorre é uma combinação de fatores sociais, médicos e culturais que tornam os diagnósticos mais visíveis.

Segundo o psicólogo André Varella, pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia sobre Comportamento, Cognição e Ensino, no 6.º Congresso Internacional Sabará-Pensi de Saúde Infantil, os números refletem mudanças na forma como o transtorno do espectro autista (TEA) é definido.

Segundo ele, atualmente indivíduos com manifestações mais leves do espectro acabam recebendo diagnóstico, algo que há duas décadas dificilmente seria reconhecido como autismo. Essa mudança de perspectiva ajuda a compreender o aumento significativo dos registros ao longo dos últimos anos.

Estudo comprova: Paracetamol na gravidez não causa autismo
Estudo comprova: Paracetamol na gravidez não causa autismo (Imagem: Prostock-studio / Shutterstock)

Além disso, há uma maior conscientização dos pais e profissionais de saúde. Muitos sinais que antes eram ignorados, como dificuldades de interação social, padrões repetitivos de comportamento ou problemas de atenção, agora são reconhecidos mais cedo. Isso favorece diagnósticos precoces e acompanhamento adequado.

Diagnósticos em expansão e mudanças de critérios

De acordo com o psiquiatra Luís Augusto Rohde, em entrevista ao jornal O Globo, não há evidências de que a prevalência real de TDAH e autismo tenha aumentado na população mundial. O que cresceu foi o número de diagnósticos formais, impulsionado pela maior conscientização sobre saúde mental e pela ampliação dos critérios clínicos.

No caso do TDAH, antes mais associado a meninos por causa da hiperatividade, hoje já se reconhece que em meninas os sintomas podem aparecer de forma diferente, com predominância de desatenção, o que ampliou os diagnósticos femininos.

menino sentado na frente de cadernos em uma mesa e mão aberta apontada para a frente com a sigla TDAH.
Critérios clínicos mais amplos explicam por que autismo e TDAH parecem mais comuns hoje/Imagem: MGARCIA_CREATIVE/Shutterstock

No autismo, a mudança veio da compreensão do transtorno como um espectro. Antigamente, apenas casos severos eram considerados autismo, mas atualmente perfis mais leves também são incluídos no diagnóstico de TEA. Segundo Rohde, essa flexibilização dos critérios levou ao aumento da chamada “prevalência administrativa”, sem significar que o número de pessoas autistas tenha realmente crescido.

Além disso, ele alerta ainda para o risco da desinformação nas redes sociais, que pode gerar autodiagnósticos equivocados e estigmatização, reforçando que sintomas como desatenção ou isolamento só devem ser considerados preocupantes quando frequentes e prejudiciais às atividades cotidianas.