Soberania cognitiva na era da IA: a reconquista da mente no século da máquina

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Vivemos a era da externalização cognitiva. Delegamos à tecnologia não apenas tarefas, mas também a forma como enxergamos o mundo. A inteligência artificial deixou de ser uma ferramenta para se tornar uma nova camada de realidade — capaz de moldar decisões, afetos e desejos.

O projeto Soberania Cognitiva na Era da IA nasce como uma convocação poética e política: um convite à reconquista da mente humana diante das forças invisíveis que ameaçam nossa liberdade de pensar. Realizado pela White Rabbit, em parceria com a TALK INC e apoio da Fundação Itaú, o estudo investiga como a IA remodela nossa cognição e propõe caminhos concretos para restaurar nossa autonomia mental, emocional e coletiva.

Foram meses de investigação, cruzando 6 grupos exploratórios com 40 formadores de opinião, entrevistas com 23 especialistas e um survey nacional com 1.204 brasileiros. Participaram futuristas, neurocientistas, filósofos, artistas e líderes empresariais. Entre os achados: 87% dos brasileiros já usaram IA, 62% dizem que ela os torna mais produtivos, mas 53% admitem se sentir mais dependentes. A pesquisa revela um paradoxo profundo: vivemos entre a expansão e a atrofia — e ambas acontecem ao mesmo tempo.

Enquanto algumas áreas do cérebro se desenvolvem, outras enfraquecem. O que define o rumo não é a tecnologia em si, mas nossa intencionalidade frente a um design estrutural que favorece o automatismo e não o bem estar individual ou coletivo. A soberania cognitiva começa quando escolhemos o que cultivamos.

Perder a soberania cognitiva é um risco civilizatório, porque equivale a abdicar do que mais nos faz humanos: a consciência e o direito de imaginar.

Seis riscos civilizatórios da era cognitiva

O estudo identifica seis forças que ameaçam a mente contemporânea:

  • Atrofia Cognitiva — do excesso de estímulos ao entorpecimento da hiperconveniência: a delegação de memória, atenção e raciocínio à IA enfraquece o pensamento crítico e apaga o “tédio fértil” que alimenta a criatividade.
  • Intimidade Sintética — do afeto simulado à solidão aumentada: companheiros artificiais e chats afetivos oferecem conforto imediato, mas corroem a experiência da reciprocidade e do vínculo humano.
  • Neocolonialismo Algorítmico — da pasteurização do pensamento à monocultura dos saberes: modelos de IA globais impõem visões de mundo hegemônicas, apagando cosmovisões locais e tecnodiversidade.
  • Design Invisível — da ilusão da escolha à arquitetura dos desejos: interfaces hiperpersonalizadas modulam emoções e crenças, manipulando sem que percebamos.
  • Extrativismo da Mente — da captura da atenção à mineração de emoções: nossos pensamentos e afetos se tornaram matéria-prima de um novo mercado — o da mente como recurso econômico.
  • Erosão da Realidade — da verdade líquida à identidade hiperfragmentada: deepfakes e conteúdos sintéticos corroem a confiança no que é real, dissolvendo o senso de mundo comum.

Esses riscos não pertencem a um futuro distante: já estão entre nós, reorganizando a percepção, a memória e o próprio sentido de humanidade.

Cinco esferas para reimaginar a soberania da mente

O estudo propõe um Guia Sistêmico de Soberania Cognitiva, estruturado em cinco esferas de influência — e um convite aberto à reimaginação coletiva:

  1. Indivíduo / Self — Como reconstruir nossa reserva cognitiva e o espaço da imaginação em meio à hiperconectividade?
  2. Redes de Cuidado (Família e Comunidade Próxima) — Como restaurar vínculos de presença e reciprocidade em um mundo mediado por telas?
  3. Instituições de Formação (Educação, Cultura, Mídia, Religião) — Como educar para a pluralidade cognitiva e proteger a diversidade de saberes e sensibilidades?
  4. Organizações (Empresas, Marcas, ONGs e Líderes) — Como desenhar tecnologias, produtos e narrativas que regenerem — e não explorem — nossa atenção e emoção?
  5. Estruturas de Poder (Governos, Regulação e Infraestruturas Digitais) — Como garantir neurodireitos e políticas que reconheçam a mente como patrimônio coletivo da humanidade?

Essas perguntas formam uma rede imunológica da mente, do autocuidado à governança pública da cognição.

Um manifesto pela imaginação coletiva

Mais do que um estudo estático, Soberania Cognitiva na Era da IA é vivo e inclui a participação de todos que chegam nele. É um chamado à imaginação.

A inteligência artificial deixa de ser promessa e se torna parte da mente coletiva — alterando como pensamos, decidimos e criamos. (Imagem: monsitj/iStock)
A inteligência artificial deixa de ser promessa e se torna parte da mente coletiva — alterando como pensamos, decidimos e criamos. (Imagem: monsitj/iStock)

Um lembrete de que, entre a mente atrofiada e a mente expandida, a atenção e intenção coletiva é crucial no momento que vivemos.

Leia mais:

O movimento tem o lançamento do Manifesto pela Soberania Cognitiva e um report navegável que convidam o público a refletir e contribuir com novas perguntas sobre o futuro da mente humana.

Talvez o verdadeiro avanço tecnológico seja a capacidade de continuar sonhando
— não o sonho das máquinas, mas o da imaginação viva