COP30, vai que já vou: a melhor ideia que Lula teve para preservar as florestas tropicais do planeta foi, mais uma vez, separar os pagadores de impostos do seu próprio dinheiro. Pagadores de impostos brasileiros, mas principalmente estrangeiros.

O presidente brasileiro quer que o recém-tirado da cachola Fundo Florestas Tropicais para Sempre atinja US$ 125 bilhões, dos quais US$ 25 bilhões advindos de fundos soberanos, como aquele fabuloso da Noruega, constituído por receitas geradas a partir da exploração de petróleo e gás natural (os noruegueses continuam se lambuzando em óleo, apesar do discuso ambientalista).
Os US$ 100 bilhões restantes, portanto, seriam tunga direta no bolso dos trabalhadores do mundo inteiro (uni-vos), que trabalham alguns meses por ano — em alguns casos, quase um semestre inteiro — apenas para sustentar os seus governos.
Você e eu já entramos com US$ 1 bilhão, a acreditar no gogó de Lula, e os pagadores de impostos indonésios também. Só que será difícil desta vez levantar bufunfa em freguesias mais abastadas. Digamos que o advérbio de tempo escolhido para nomear o fundo — “sempre” — revela inadvertidamente o seu caráter de conto de fadas destinado a ganhar manchetes.
As manchetes estão aí, mas o dinheiro, assim como a felicidade, nunca foi para sempre. A grana, o arame, dos países ricos acabou. Melhor se contentar com o Fundo Amazônia, que já está de bom tamanho.
Se não, vejamos. A Noruega, um dos poucos países da Europa que ainda têm dinheiro (graças ao petróleo, é bom enfatizar) anunciou que fará um aporte de US$ 3 bilhões.
Os petistas festejaram, a imprensa amiga comemorou, mas calma, há condições: os noruegueses só vão liberar o dinheiro se o fundo obtiver US$ 10 bilhões de outros países até o final do ano que vem e desde que os recursos noruegueses não representem mais do que 20% do total do capital arrecadado. Também condicionou o aporte a que o risco seja aceitável, e a barra do aceitável está alta como um fiorde.
Se depender dos seus vizinhos europeus, os noruegueses depositarão pouco no fundo para sempre de Lula. O Reino Unido não levou a sério a proposta do presidente brasileiro, o que causou muxoxos na comitiva brasileira em Belém; a França, por sua vez, disse que contribuiria com 500 milhões de euros.
Abro parêntese. A França, não, o presidente Emmanuel Macron, que só é popular no Brasil. De onde ele vai tirar esse dinheiro, ninguém sabe, se é que vai tirar de verdade, visto que o país é o novo homem doente da Europa, com um buraco orçamentário que só faz aumentar e uma crise política sem data para terminar, tudo muito atribuível a Macron, o político mais odiado entre os franceses (11% de aprovação, e contando). Fecho parêntese.
Retomando: a Alemanha pode contribuir para o fundo para sempre? Sim, os verdes continuam fortes lá, mas jamais será com a quantia esperada pelo presidente brasileiro e o seu entourage. Os alemães precisam gastar centenas de bilhões de euros com armas para defender-se daquele amigão de Lula, o ditador russo Vladimir Putin.
Dinheiro americano, obviamente não haverá, pelo menos até que um democrata volte a ser presidente dos Estados Unidos. China? Não será suficiente para dar conta das pretensões trombeteadas pelo presidente brasileiro.
Ninguém precisa perder o sono, porém. O mais importante nunca foi salvar as florestas tropicais e sim dar a Lula um discurso para chamar de seu na COP30 — e, desse modo, mitigar a repercussão negativa, junto aos ambientalistas, da sua decisão de autorizar a exploração de petróleo na Foz do Amazonas. Nunca é para sempre.
