Enquanto o Brasil comemora a redução de 8,5% nas emissões por desmatamento em 2024, outros setores da economia seguem na direção oposta, ameaçando os compromissos climáticos do país. Dados do SEEG, o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima, mostram que processos industriais, resíduos e energia tiveram alta de 2,8%, 3,6% e 0,8%, respectivamente, no último ano.
Em 2024, a queda do desmatamento na Amazônia e no Cerrado, na esteira de ações do Ibama, provocou a maior redução da história nas emissões por mudança de uso da terra: 32,5%. As emissões brutas desse setor, que abarca sobretudo o desmatamento, caíram de 1,341 GtCO2e para 906 GtCO2e. Em todos os outros setores da economia as emissões ficaram estáveis ou subiram.
Os dados chegam faltando uma semana para a COP30, o maior evento sobre o clima do mundo, que pela primeira vez acontece no Brasil.

Agropecuária
O setor agropecuário registrou ligeira queda de 0,7% nas emissões, alcançando 626 milhões de toneladas de CO₂ equivalente. Dois fatores contribuíram para esse resultado: uma redução de 0,2% no rebanho bovino e menor aplicação de fertilizantes nitrogenados (-3,8%) e calcário (-3,3%). No entanto, a queima de resíduos agrícolas cresceu 24,8%, reflexo dos incêndios em áreas de cultivo de cana-de-açúcar.
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Energia
O setor energético teve suas emissões contidas graças ao desempenho dos biocombustíveis. O consumo de álcool atingiu a marca histórica de 36 bilhões de litros, resultando em queda de 3% nas emissões do transporte de passageiros. “Cerca de 20% do etanol já vem do milho, mostrando o sucesso dos incentivos aos biocombustíveis”, destaca análise do Instituto de Energia e Meio Ambiente.
O que isso significa?
“O desmatamento cai, mas todos os outros setores sobem”, afirma David Tsai, coordenador do SEEG. “Estamos falando de uma projeção, mas o número indica que o Brasil ainda está fora da sua meta de clima. Toda a mitigação fica nas costas do combate ao desmatamento, e isso precisa mudar.”

Estima-se que o Brasil deve ultrapassar em 9% o limite de 1,32 bilhão de toneladas líquidas estabelecido em sua Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC). Este cenário evidencia a insuficiência das políticas atuais para promover a descarbonização generalizada da economia.
Especialistas defendem medidas como a antecipação da rastreabilidade obrigatória do rebanho bovino – atualmente prevista apenas para 2033 – e a ampliação de políticas de produção sustentável para reverter esse cenário. O relatório deixa claro: o sucesso no combate ao desmatamento precisa ser acompanhado por transformações em toda a economia brasileira.
