Por que temos febre? Entenda as causas, sintomas e como o corpo reage

As informações presentes neste texto têm caráter informativo e não substituem a orientação de profissionais de saúde. Consulte um médico ou especialista para avaliar o seu caso.

A febre é um dos sintomas mais comuns em seres humanos e, ao mesmo tempo, um dos mais incompreendidos. Muita gente a vê apenas como sinal de doença ou algo a ser combatido imediatamente com remédios.

No entanto, a febre é, na verdade, um mecanismo de defesa natural do organismo, usado para enfrentar infecções e desequilíbrios internos. Quando a temperatura corporal se eleva além do normal, isso indica que algo não está funcionando como deveria, seja uma infecção viral, bacteriana ou até mesmo uma reação inflamatória.

Mas, afinal, por que temos febre? Como o corpo decide “aumentar a temperatura” e qual a utilidade disso? Vamos mergulhar na ciência por trás da febre, explicando suas principais causas, os riscos envolvidos, quando procurar ajuda médica e o que realmente acontece dentro do nosso corpo durante esse processo.

O que é febre?

A febre é caracterizada pelo aumento da temperatura corporal acima dos valores considerados normais, geralmente ultrapassando 37,8 °C quando medida na boca ou 38 °C no reto. O corpo humano mantém sua temperatura estável em torno de 36,5 °C a 37 °C, graças a um centro de regulação localizado no hipotálamo, região do cérebro que funciona como um “termostato interno”.

Quando há algum agente estranho como vírus, bactérias, fungos ou toxinas, o organismo libera substâncias chamadas pirógenos. Essas moléculas sinalizam ao hipotálamo que é hora de ajustar a temperatura para cima. O aumento não é um erro: é uma estratégia evolutiva para dificultar a sobrevivência de microrganismos invasores.

Imagem mostra mãos segurando termômetro para medir a febre
(Imagem: Polina Tankilevitch / Pexels)

Por que temos febre?

A febre acontece porque o corpo percebe que está em risco. Os pirógenos endógenos, liberados por células de defesa como os macrófagos, avisam ao hipotálamo que precisa redefinir a temperatura corporal. O organismo entende que elevar alguns graus pode ser benéfico:

  • Inibe a multiplicação de microrganismos: muitas bactérias e vírus não conseguem se reproduzir bem em temperaturas mais altas.
  • Estimula o sistema imunológico: células de defesa, como os linfócitos, funcionam de forma mais eficiente em temperaturas elevadas.
  • Acelera reações metabólicas: favorecendo uma resposta mais rápida contra a infecção.

Ou seja, a febre é menos um inimigo e mais um aliado silencioso, embora cause desconforto.

Principais causas da febre

A febre pode surgir em diferentes contextos, alguns simples e passageiros, outros mais sérios. Entre os principais estão as infecções virais, que são as causas mais frequentes e costumam aparecer em gripes, resfriados, Covid-19, dengue e diversas outras viroses. Já as infecções bacterianas, como amigdalite, pneumonia, infecção urinária e meningite, tendem a provocar febres mais altas e persistentes.

Em alguns casos, processos inflamatórios relacionados a doenças autoimunes, como lúpus ou artrite reumatoide, também podem desencadear febre, mesmo sem a presença de microrganismos. Outro fator possível são as reações a medicamentos, quando determinados fármacos provocam a chamada febre medicamentosa.

Há ainda situações em que a elevação da temperatura não está ligada a infecções, como nos golpes de calor e insolação, quando o corpo perde a capacidade de regular seu equilíbrio térmico. Por fim, certos cânceres e doenças crônicas, principalmente os hematológicos, como linfomas e leucemias, também podem gerar febres recorrentes.

Pode tomar antitérmico depois da vacina
Imagem: Pormezz / Shutterstock

Sintomas associados

A febre raramente aparece sozinha. Normalmente, vem acompanhada de outros sinais que ajudam a identificar a causa:

  • Calafrios e tremores: resultado do corpo tentando se aquecer rapidamente.
  • Suor intenso: ocorre quando a temperatura começa a cair, como tentativa de resfriar o organismo.
  • Cansaço e fraqueza: consequência do esforço metabólico.
  • Dor de cabeça e desconforto geral: comuns em infecções virais.
  • Aumento da frequência cardíaca: o coração bate mais rápido para distribuir calor e oxigênio.

Esses sintomas variam conforme a causa e a intensidade da resposta do organismo.

Quando a febre é perigosa?

Apesar de ser um mecanismo natural do corpo, a febre pode se tornar perigosa em algumas situações. Quando a temperatura ultrapassa os 40 °C, é considerada uma emergência médica, já que pode causar convulsões e até danos celulares.

A persistência da febre por mais de três dias também merece atenção, pois pode indicar uma infecção grave. Em crianças pequenas, especialmente bebês de até três meses, qualquer sinal de febre exige avaliação médica imediata.

Já em idosos ou pessoas imunossuprimidas, o sintoma pode evoluir rapidamente e sinalizar quadros sérios de infecção. Além disso, é fundamental redobrar a cautela quando a febre vem acompanhada de rigidez na nuca, dificuldade respiratória, manchas na pele ou alterações no nível de consciência.

Leia também:

Como medir corretamente a febre

Usar um termômetro é a forma mais confiável de identificar febre. Os métodos mais comuns são:

  • Oral: prático, mas pode variar após ingestão de líquidos quentes ou frios.
  • Axilar: o mais usado, porém menos preciso, com média de 0,5 °C a menos que a real.
  • Retal: considerado o mais preciso, usado principalmente em bebês.
  • Timpânico ou infravermelho: rápido e conveniente, mas pode ser afetado por cera ou posição incorreta.

Como tratar a febre?

Nem toda febre precisa ser combatida. Se estiver em torno de 38 °C e a pessoa estiver relativamente bem, pode ser melhor deixar que o corpo faça seu trabalho. Porém, quando há desconforto ou temperaturas mais altas, algumas medidas ajudam:

  • Antitérmicos: como dipirona, paracetamol ou ibuprofeno. Sempre conforme orientação médica.
  • Hidratação: beber bastante líquido para evitar desidratação.
  • Repouso: o corpo precisa de energia para combater a infecção.
  • Banho morno: ajuda a aliviar o desconforto, mas sem uso de água gelada, que pode causar choque térmico.

Febre em crianças

Nos pequenos, a febre costuma gerar grande preocupação nos pais, mas algumas recomendações ajudam a lidar melhor com a situação. A primeira delas é nunca automedicar, principalmente com aspirina, já que seu uso em crianças pode levar à síndrome de Reye, uma complicação rara, mas grave.

Mais do que se prender apenas ao número mostrado no termômetro, é essencial observar o comportamento da criança: avaliar se ela continua ativa, se está se alimentando bem ou se apresenta sinais de apatia.

Outro ponto importante é a possibilidade da convulsão febril, que pode ocorrer em crianças entre 6 meses e 5 anos. Embora, na maioria dos casos, não deixe sequelas, esse quadro exige avaliação médica para garantir que não haja algo mais grave por trás do sintoma.

criança com febre
Crianças do Nordeste e Centro-Sul estão mais sujeitas ao rinovírus (Imagem: Suzi Media Production/iStock)

Quando procurar ajuda médica

É importante procurar ajuda médica em situações específicas, já que a febre pode ser sinal de algo mais grave. Se a temperatura ultrapassar 39,5 °C, se persistir por mais de 72 horas ou se vier acompanhada de sintomas como falta de ar, confusão mental, convulsões ou manchas na pele, a avaliação profissional é indispensável. Da mesma forma, qualquer sinal de febre em bebês menores de três meses exige atenção imediata de um médico.

Por que a febre é mais comum à noite?

A febre tende a piorar no fim do dia porque a temperatura corporal naturalmente sobe durante a noite, seguindo o ritmo circadiano. Além disso, nesse período o corpo reduz a produção de cortisol, hormônio que ajuda a controlar inflamações, deixando a febre mais evidente.

A febre sempre precisa ser combatida?

Não. Esse é um mito. A febre faz parte do processo de defesa do organismo e nem sempre deve ser combatida de imediato.

Tomar banho frio ajuda a baixar a febre?

Parcialmente. O banho frio pode reduzir a temperatura momentaneamente, mas também pode causar tremores, o que aumenta a produção de calor interno e pode acabar elevando ainda mais a febre.

Febre alta pode causar dano cerebral?

Não, esse é mais um mito. A febre só representa risco real de dano cerebral em casos extremos, quando ultrapassa os 41 °C.

Suor significa que a febre está passando?

Sim. O suor é um sinal de que o corpo está se resfriando, indicando que a febre está cedendo.

A febre não deve ser vista como inimiga, mas como um sinal de alerta do corpo. Ela mostra que algo não está bem e que o organismo está mobilizando suas defesas para enfrentar a situação. Embora cause desconforto, muitas vezes ela acelera a recuperação. No entanto, é fundamental saber identificar quando a febre pode representar um risco maior, exigindo atenção médica imediata.