Autoridades judiciais em Bayeux avançaram no processo contra o influenciador digital Hytalo Santos e seu companheiro, Israel Nata Vicente, conhecido como Euro. A decisão recente da 2ª Vara Mista do município aceitou parcialmente a denúncia apresentada pelo Ministério Público da Paraíba, focando no crime de produção de conteúdo pornográfico envolvendo crianças e adolescentes.
O caso ganhou contornos graves ao envolver violações ao Estatuto da Criança e do Adolescente, com indícios de um esquema organizado que explorava menores em produções para redes sociais. A prisão preventiva do casal, em vigor desde agosto, reflete a urgência das investigações conduzidas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado.

Justiça aceita denúncia e torna réus Hytalo Santos e marido por produção de pornografia infantil/Foto: Reprodução
Investigadores identificaram padrões de atração de vítimas vulneráveis por meio de promessas de visibilidade e benefícios financeiros, o que configura um modus operandi premeditado. A transferência dos acusados para o Presídio do Roger, em João Pessoa, ocorreu após sua detenção inicial em São Paulo, onde residiam temporariamente.
- Principais elementos da denúncia inicial: produção de materiais explícitos com menores, controle rigoroso sobre rotinas das vítimas e alteração de aparências físicas para fins sexualizados.
- Consequências imediatas: bloqueio de perfis em plataformas digitais e suspensão de monetização de conteúdos antigos.
- Envolvimento de instituições: Ministério Público do Trabalho e Polícia Civil atuaram em conjunto para buscas e apreensões.
- Valor requisitado em indenização: R$ 10 milhões por danos morais coletivos às vítimas e à sociedade.
Detalhes da decisão judicial em Bayeux
O juiz Bruno Cesar Azevedo Isidro justificou o recebimento parcial da denúncia com base na competência limitada da Vara da Infância e Juventude, que abrange apenas infrações ao Estatuto da Criança e do Adolescente. Outros delitos, como tráfico de pessoas e favorecimento à prostituição, foram remetidos à Vara Criminal para análise separada, garantindo o prosseguimento integral do caso.
Essa divisão processual evita atrasos e assegura que cada acusação receba o escrutínio adequado. A denúncia original, protocolada pelo Gaeco, descreve como o casal utilizava fraudes e incentivos materiais para recrutar adolescentes em situação de vulnerabilidade, submetendo-os a filmagens com conotação sexual em ambientes controlados.
Desde o final de 2023, o Ministério Público da Paraíba monitorava as atividades de Hytalo Santos, inicialmente a partir de denúncias locais em Cajazeiras, sua cidade natal. A escalada veio com a exposição pública de conteúdos que viralizaram, revelando interações inadequadas entre menores e adultos em vídeos de dança e simulações de relacionamentos.
A prisão em 15 de agosto, em Carapicuíba, na Grande São Paulo, resultou na apreensão de oito celulares e um veículo de luxo, materiais que agora subsidiam perícias técnicas. Autoridades destacam que o casal mantinha vigilância sobre comunicações das vítimas, limitando contatos familiares e impondo horários estritos.
Perfil do influenciador e o alcance dos conteúdos
Hytalo Santos, de 28 anos, construiu uma carreira como criador de conteúdo focado em desafios virais e rotinas de uma suposta “família adotiva” composta por adolescentes. Seus perfis acumulavam mais de 25 milhões de seguidores antes do bloqueio, com vídeos que somavam bilhões de visualizações no YouTube e Instagram.
Os materiais produzidos frequentemente exibiam jovens em trajes mínimos, dançando de forma sugestiva ou encenando cenas de namoro e traições, o que gerou alertas sobre exposição precoce a temas adultos. Israel Nata Vicente, parceiro de Hytalo há cerca de cinco anos, participava ativamente das gravações, dirigindo sequências que incentivavam interações físicas entre os participantes menores de idade.
A monetização ocorria via anúncios, parcerias com marcas e sorteios promovidos em lives, onde imagens de adolescentes eram usadas para atrair engajamento. Denúncias de vizinhos no condomínio de luxo em Bayeux, onde o casal residia, apontaram para o recrutamento local de jovens, muitos oriundos de famílias de baixa renda.
Perfis como o de “Kamylinha Santos”, uma adolescente de 17 anos apresentada como “filha adotiva”, foram suspensos pela Meta após repercussão nacional. A jovem aparecia em dezenas de vídeos com maquiagem pesada, tatuagens e roupas provocantes, contrastando com sua idade real.
Acusações adicionais e o desmembramento do processo
Além da produção de pornografia infantil, prevista no artigo 240 do ECA com pena de dois a quatro anos de reclusão, o casal enfrenta imputações por tráfico de pessoas sob o artigo 149-A do Código Penal. Esse delito envolve o aliciamento e transporte de menores para fins de exploração sexual, com penas que podem chegar a oito anos de prisão.
O favorecimento à prostituição, artigo 228, e a exploração sexual de vulneráveis, artigo 218-B, completam o quadro, totalizando potencial cumulativo de mais de 20 anos de detenção. O desmembramento permite que a Vara Criminal de Bayeux avalie essas condutas sem interferir no julgamento principal pelo ECA.
Investigadores do Gaeco revelaram que procedimentos estéticos, como tatuagens com símbolos sexualizados, eram financiados pelo casal para “adultizar” as aparências das vítimas. Controle sobre redes sociais e proibição de interações externas isolavam os adolescentes, facilitando a dependência emocional e financeira.
A operação que levou às prisões integrou forças federais, estaduais e municipais, incluindo o Laboratório de Operações Cibernéticas do Ministério da Justiça. Buscas em endereços ligados ao casal, autorizadas em 14 de setembro, visam recuperar dados deletados de dispositivos.
- Etapas da investigação: início em 2023 com queixas locais, aceleração em agosto de 2025 após vídeo viral e prisões preventivas.
- Medidas protetivas: proibição de contato com vítimas e bloqueio de bens no valor de R$ 20 milhões pela Justiça do Trabalho.
- Papel do Ministério Público do Trabalho: apuração de trabalho infantil irregular em produções artísticas digitais.
- Repercussão inicial: denúncia pública em 6 de agosto, levando a mais de 100 relatos semelhantes em uma semana.
Repercussão do caso nas redes e medidas protetivas
O vídeo de denúncia lançado em agosto por um criador de conteúdo conhecido expôs trechos de vídeos onde adolescentes simulavam atos íntimos, gerando debates sobre os limites da “adultização” online. Plataformas como Instagram e YouTube removeram contas associadas, citando violações de políticas contra exploração infantil.
Autoridades paraibanas registraram aumento de 150% em denúncias de conteúdos semelhantes após o caso, com foco em influenciadores regionais. O Ministério Público enfatiza a importância de algoritmos que priorizam materiais sensacionalistas, alimentando ciclos de visualizações.
Vítimas identificadas receberam apoio psicológico e jurídico, com ordens judiciais para monitoramento de saúde mental. Famílias afetadas relataram alívio com a intervenção, mas pedem agilidade no julgamento para evitar revitimização.
A defesa do casal protocolou habeas corpus em setembro, argumentando falta de acesso integral aos autos sob sigilo. Advogados afirmam confiança na comprovação de inocência, mas a Justiça manteve a prisão para preservar provas e evitar obstrução.
Estratégias de aliciamento reveladas nas apurações
O Gaeco detalhou como promessas de fama e viagens atraíam jovens de cidades vizinhas, como João Pessoa e Cajazeiras. Uma vez integrados à “turma”, os adolescentes assinavam termos informais de participação, mas sem remuneração proporcional ao risco envolvido.
Filmagens ocorriam em estúdios improvisados no condomínio, com iluminação profissional e roteiros que escalavam de danças leves a encenações explícitas. Registros mostram que Hytalo editava os vídeos para maximizar engajamento, usando hashtags como #família e #desafios para disfarçar o teor.
Israel Vicente gerenciava o cronograma, agendando sessões noturnas e restringindo saídas. Uma vítima relatou em depoimento anônimo que recusas levavam a pressões emocionais, como exclusão do grupo.
A indenização de R$ 10 milhões visa reparar danos coletivos, financiando programas de prevenção em escolas paraibanas. Especialistas em cibercrimes destacam que casos assim expõem falhas em regulamentações de conteúdo gerado por usuários.
- Táticas identificadas: uso de lives para recrutar, ofertas de roupas e maquiagem como iscas e isolamento via grupos privados de mensagens.
- Impacto nas vítimas: relatos de ansiedade e baixa autoestima pós-exposição, com necessidade de terapia contínua.
- Ações corretivas: campanhas educativas do MPPB sobre direitos digitais para menores.
- Paralelos regionais: similaridades com outros influenciadores investigados por exposição inadequada em 2024.
Bloqueio de bens e implicações financeiras
A Justiça do Trabalho bloqueou ativos do casal, incluindo veículos de luxo e contas bancárias, totalizando R$ 20 milhões. Essa medida responde à suspeita de lavagem de ganhos oriundos de parcerias publicitárias que usavam imagens de menores.
Hytalo Santos faturava com rifas e sorteios promovidos via Lotep, mas a entidade suspendeu contratos após análise de irregularidades. Conteúdos antigos ainda geram receita residual, mas a desmonetização imposta limita fluxos futuros.
Investigadores rastreiam transferências para familiares, visando recuperar valores desviados. O casal mantinha estilo de vida ostentoso, com viagens frequentes a São Paulo para gravações, financiadas por doações de fãs.
Essa dimensão financeira reforça a tese de exploração organizada, onde o lucro motivava a perpetuação dos atos. Autoridades planejam leilões de bens apreendidos para fundos de assistência a vítimas de violência online.
Avanços na proteção digital contra explorações
Plataformas digitais intensificaram filtros de moderação após o caso, com treinamentos para identificadores de conteúdo suspeito. O YouTube removeu mais de 500 vídeos de Hytalo, que acumulavam 1,5 bilhão de views desde 2020.
O Ministério da Justiça coordenou a Operação Justiça em Ação, que resultou em prisões semelhantes em outros estados. Na Paraíba, linhas de denúncia anônima registraram picos de chamadas, orientando pais sobre monitoramento de apps.
Educadores em Bayeux incorporam módulos sobre segurança online em currículos escolares, enfatizando consentimento e limites etários. Especialistas jurídicos preveem reformas no ECA para incluir penas agravadas por disseminação digital.
O caso de Hytalo Santos serve como precedente, incentivando relatorias no Congresso sobre “lei da adultização”, com propostas de criminalização específica para produtores de conteúdo exploratório.
- Iniciativas recentes: parcerias entre MPPB e Meta para alertas automáticos em buscas por termos sensíveis.
- Estatísticas nacionais: mais de 2 mil denúncias de pornografia infantil online em 2025, 30% envolvendo influenciadores.
- Recomendações para usuários: verificação de idades em colaborações e relatórios imediatos de suspeitas.
- Futuro regulatório: audiências públicas marcadas para outubro em Brasília.