A votação da chamada PEC da Blindagem na Câmara dos Deputados deixou uma marca clara na bancada federal do Acre. Entre discursos inflamados, alinhamentos automáticos e uma aprovação que passou com folga, apenas uma parlamentar votou contra: a deputada federal Socorro Neri (PP).
Não é a primeira vez que Neri se coloca como voz destoante — no bom sentido — em meio a um Congresso tomado por radicalizações. Ela já demonstrou, em outras ocasiões, equilíbrio e sensatez, qualidades que a fazem se destacar em uma bancada acostumada a seguir cartilhas prontas, seja da direita bolsonarista, seja de interesses pouco republicanos.
Esse posicionamento contra a PEC, que críticos classificam como um retrocesso no combate à corrupção e um salvo-conduto para políticos com problemas na Justiça, reforça a imagem de Neri como alguém que não teme nadar contra a maré quando entende que o interesse público está em jogo.
No Acre, onde a política ainda se guia muito por paixões, grupos de poder e alianças circunstanciais, a postura dela começa a pesar no tabuleiro de 2026. Se hoje a PEC da Blindagem dividiu o país, amanhã pode dividir também o eleitorado: quem foi conivente e quem não foi. E Socorro Neri terá o capital político de dizer que esteve do lado da transparência.
Mais do que apenas um voto, a atitude dela foi um recado: existe espaço para moderação, lucidez e coragem na política acreana. E é justamente isso que a torna, hoje, a esperança da bancada federal do Acre.
Enquanto isso no Acre …
Para quem ainda alimentava a ideia de que poderia haver alguma reaproximação entre Gladson Cameli e Jorge Viana em 2026 — depois daquela famosa agenda do presidente Lula no Acre, que muitos viram como um ensaio de diálogo —, pode esquecer.
A cena desta terça-feira (16), durante a visita do ministro do Trabalho a Rio Branco, foi reveladora: os dois trocaram farpas públicas e duríssimas, mostrando que qualquer hipótese de aliança virou ficção.
O clima entre eles, segundo relatos de bastidores, foi de constrangimento até para aliados presentes. Ou seja: se alguém apostava em 0,01% de chance de união, pode zerar essa conta. Gladson e Jorge não estão apenas em lados opostos — estão cada vez mais distantes.
Climão
Ainda sobre a agenda do ministro do Trabalho em Rio Branco: um secretário de Estado saiu da cobertura da imprensa com dor de cabeça política. Ele foi flagrado, durante entrevistas, bem ao lado de Jorge Viana — justamente no momento em que o petista fazia críticas pesadas à gestão do governo estadual.
A cena não repercutiu nada bem no Palácio Rio Branco. Internamente, a leitura foi de que o secretário poderia estar dando aval, ainda que involuntário, às críticas. Resultado: a cúpula do governo chamou o auxiliar para uma conversa nada amistosa.
Pressão no sistema prisional
Quem também está na berlinda é o presidente do Iapen no Acre. Nos últimos meses, as fugas de detentos e as críticas constantes sobre as condições físicas das penitenciárias do Estado aumentaram a pressão sobre sua gestão.
Dentro do próprio governo, já há quem avalie que a permanência dele no cargo começa a pesar politicamente. A leitura é de que cada nova ocorrência fragiliza não só o comando do sistema prisional, mas também a imagem de firmeza que o Palácio Rio Branco tenta sustentar na área de segurança pública.
Gonzaga cobra agilidade na BR-364
O deputado federal Luiz Gonzaga (PSDB), de Cruzeiro do Sul, voltou a levantar sua principal bandeira: a defesa da BR-364. Nesta semana, ele cobrou que o DNIT contrate mais equipes para acelerar as obras de recuperação da estrada que liga Rio Branco a Cruzeiro do Sul.
O pedido é considerado plausível até mesmo por aliados e técnicos do setor. Isso porque o inverno amazônico já se aproxima e, com ele, a intensificação das chuvas que tornam ainda mais difícil a manutenção da rodovia. Gonzaga, que há anos se dedica ao tema, avalia que sem reforço imediato nos trabalhos o trecho corre sério risco de se tornar intransitável nos próximos meses.
Sinal verde no PCCR da Saúde?
A coluna apurou nos bastidores que os servidores da Secretaria de Saúde do Acre podem ter, enfim, uma boa notícia nas próximas semanas. O Plano de Cargos, Carreiras e Remuneração (PCCR), aguardado há nada menos que 25 anos pela categoria, pode ser colocado em pauta na Assembleia Legislativa (Aleac).
A expectativa é grande dentro da pasta, mas a movimentação ainda é tratada com cautela. Isso porque qualquer avanço nesse tema terá impacto direto nas contas do governo e, portanto, dependerá de costura política fina entre Palácio Rio Branco e base parlamentar.