Disputa judicial sobre bônus regional leva Ufac a estudar mudança no processo seletivo de Medicina

A possibilidade foi mencionada pela pró-reitora de Graduação, Ednaceli Damasceno

A Universidade Federal do Acre (Ufac) estuda implementar, futuramente, um vestibular totalmente presencial para o curso de Medicina. A possibilidade foi mencionada pela pró-reitora de Graduação, Ednaceli Damasceno, em entrevista concedida à Folha de S.Paulo.

A proposta surge como alternativa para garantir a presença de estudantes acreanos na graduação, diante de decisões judiciais que têm limitado a aplicação do chamado bônus regional.

A pró-reitora ressaltou que, além de ampliar o ingresso de estudantes locais, o bônus ajudou a diminuir a evasão/Foto: Reprodução

Desde 2019, a instituição acrescenta 15% à pontuação do Enem de candidatos que concluíram todo o ensino médio no Acre. A medida busca reduzir desigualdades regionais e incentivar que médicos formados permaneçam no estado. De acordo com dados divulgados pela Folha, os resultados foram expressivos: entre 2002 e 2018, apenas 19,3% dos alunos de Medicina eram naturais do Acre; já de 2019 a 2024, o percentual saltou para 49,8%.

O cenário começou a mudar após a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) considerar, em 2024, inconstitucional o bônus territorial aplicado pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). A decisão provocou a suspensão dessa política em várias instituições. Para manter o benefício, a Ufac retirou o curso de Medicina do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e passou a adotar um processo seletivo próprio, ainda com base no Enem, preservando a bonificação.

Mesmo assim, novas decisões judiciais determinaram que o acréscimo também fosse concedido a candidatos de outros estados. “Se, com o acréscimo, eles ficassem dentro do número de vagas, tínhamos que efetivar a matrícula”, explicou Damasceno.

A pró-reitora ressaltou que, além de ampliar o ingresso de estudantes locais, o bônus ajudou a diminuir a evasão. Em 2013, por exemplo, 30 alunos abandonaram o curso — muitos para voltar a estudar em universidades de seus estados de origem. Com a política, as desistências reduziram e mais profissionais optaram por permanecer no Acre após a formatura.

Damasceno ponderou que, apesar de o Sisu facilitar o ingresso no ensino superior, ele pode acentuar desigualdades em cursos muito concorridos. “Não há igualdade de condições entre os candidatos. Absolutamente não há”, declarou.

Um exemplo vem do estudante Luís Henrique, de 20 anos, morador do interior acreano, que contou ao jornal que o benefício foi determinante para sua conquista. “Sem o benefício, não sei se teria conseguido passar. Foram duas tentativas até eu entrar.”

Com informações da Folha de S.Paulo