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O conselho da Warner Bros. Discovery (WBD) rejeitou uma investida de última hora da Paramount Skydance e decidiu manter o acordo de fusão já firmado com a Netflix. A decisão reforça o avanço do negócio com o streaming liderado por Ted Sarandos.
Segundo a empresa, a proposta da Paramount foi considerada “inferior” em relação ao acerto com a gigante do streaming. A oferta da Paramount era de US$ 108 bilhões (R$ 596,3 bilhões, na conversão direta), contra cerca de US$ 83 bilhões (R$ 458,2 bilhões) da Netflix.
A diferença, no entanto, está no escopo: a proposta da Netflix incluía menos ativos do grupo do que a da Paramount. A escolha representa mais uma reviravolta no processo, que, em um momento, chegou a parecer favorável à Paramount.
A Netflix anunciou um acordo para adquirir a Warner Bros. Discovery em uma operação combinando dinheiro e ações. O negócio avalia a WBD em US$ 27,75 (R$ 153,22) por ação e totaliza quase US$ 83 bilhões (458,2 bilhões) em valor empresarial, com cerca de US$ 72 bilhões (R$ 397,5 bilhões) em valor de mercado para os acionistas.

O que muda para a Netflix
- Integração de um vasto catálogo histórico de filmes e séries, com ativos premium, como HBO/HBO Max, além de estúdios e franquias icônicas;
- Transição de um crescimento baseado principalmente em produção própria e licenciamento para a integração de grandes ativos tradicionais de Hollywood;
- Operação sujeita a aprovações regulatórias, com potencial escrutínio antitruste.
A aquisição indica uma expansão do modelo da Netflix. Sob seu guarda-chuva, a Warner manteria lançamentos nos cinemas com janelas tradicionais, em um arranjo híbrido entre telonas e streaming.
O negócio, contudo, enfrenta resistência. Cineastas e produtores pediram ao Congresso dos EUA uma análise antitruste rigorosa, citando riscos de concentração de mercado. Parlamentares também solicitaram avaliações sobre impactos na concorrência, distribuição e relações trabalhistas no audiovisual.
Ao longo do processo, a Paramount questionou a lisura da venda e acusou a WBD de favorecer a Netflix. A empresa defendeu a criação de um comitê independente para avaliar as propostas, enquanto grupos políticos republicanos manifestaram preocupação com a expansão da Netflix sobre operações de TV e cinema.
Próximos passos e reação do governo
As negociações seguem em exclusividade por tempo limitado e podem resultar em anúncio oficial se Netflix e WBD fecharem os termos finais. Depois, o acordo ainda precisará passar por reguladores, etapa que pode se estender ao longo de 2026.
A proposta da Netflix chamou a atenção de autoridades nos Estados Unidos. Em novembro, o representante republicano Darrell Issa enviou carta à Procuradora-Geral dos EUA, Pam Bondi, ao presidente da FTC, Andrew Ferguson, e à Procuradora-Geral Adjunta da Divisão Antitruste do Departamento de Justiça, Gail Slater.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, também falou a respeito da transação e disse que pode barrá-la, pois isso “pode ser um problema“.
Líder no mercado de streaming, a Netflix veria a incorporação do HBO Max como uma disrupção no setor. A Paramount, por sua vez, enviou carta ao time jurídico da Warner alertando que a negociação com a Netflix pode não se concretizar devido ao crivo regulatório e acusando a empresa de favorecer o streaming nas tratativas.

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Co-CEOs da Netflix comemoram
Os co-CEOs da Netflix, Ted Sarandos e Greg Peters, comemoraram a decisão do conselho da Warner de rejeitar a proposta apresentada pela Paramount. A manifestação ocorreu por meio de uma carta enviada aos acionistas da Warner, que seguem avaliando a oferta da Netflix para a companhia.
O texto, que também foi divulgado à imprensa estadunidense, traz a avaliação dos executivos de que a proposta apresentada pela Netflix representa “o acordo certo, com o parceiro certo, na hora certa”. Na carta, Sarandos e Peters defendem que a oferta da empresa de streaming oferece maior segurança financeira em comparação à proposta concorrente.
Segundo os co-CEOs, a oferta da Netflix não depende de investidores estrangeiros, diferentemente do que ocorre no caso da Paramount. Eles destacaram ainda que o acordo prevê o pagamento de uma multa de US$ 5,8 bilhões (R$ 32 bilhões) caso a Netflix desista da compra, valor apontado como a maior multa já registrada em uma aquisição desse tipo.
Na carta, os executivos também trataram do futuro dos lançamentos cinematográficos da Warner. Sarandos e Peters afirmaram que não pretendem alterar o tempo de exibição dos filmes nos cinemas e se comprometeram a manter os períodos padrão da indústria para lançamentos nas salas de cinema. No entanto, eles não prometeram exclusividade para os cinemas.
No início do mês, quando o acordo com a Netflix foi anunciado, Ted Sarandos já havia abordado o tema em uma coletiva de imprensa. Na ocasião, declarou: “O meu maior problema são as janelas de lançamento longas e exclusivas, que não consideramos amigáveis para o consumidor”.
Os co-CEOs também defenderam que Netflix e Warner têm operações complementares. Na avaliação deles, a Warner Bros. possui três áreas de atuação que a Netflix não tem: uma divisão cinematográfica de sucesso, um estúdio de televisão líder na indústria e a HBO, descrita na carta como “o padrão ouro na televisão de renome”.

“Combinando isso com o que a Netflix oferece em inovação, propriedade intelectual, alcance global e streaming top de linha, poderemos oferecer mais oportunidades aos criadores e reforçar toda a indústria do entretenimento”, afirmam Sarandos e Peters no documento enviado aos acionistas.
