A Polícia Civil da Bahia teve acesso a um vídeo que ajudou a esclarecer a motivação por trás do assassinato de três técnicos de internet em Salvador. As imagens mostram um integrante do grupo criminoso Bonde do Maluco (BDM) confundindo fios de fibra óptica com a instalação de uma câmera de vigilância em um poste do bairro de Marechal Rondon, na capital baiana.
Na gravação, o traficante alerta um comparsa ao acreditar que estaria sendo monitorado. A suposta “denúncia” levou os criminosos a suspeitarem que os trabalhadores estariam colaborando com forças de segurança, o que motivou o crime.
Em entrevista ao telejornal Bahia Meio Dia, o delegado-geral da Polícia Civil da Bahia, André Viana, afirmou que não havia nenhuma câmera no local. Segundo a investigação, os técnicos apenas realizavam a passagem de cabos de fibra óptica, procedimento comum no serviço de instalação de internet.
As vítimas — Ricardo Antônio da Silva Souza, de 44 anos, Jackson Santos Macedo, 41, e Patrick Vinícius dos Santos Horta, 28 — foram encontradas mortas na última terça-feira (16), no bairro Alto do Cabrito, no subúrbio ferroviário de Salvador. Os corpos apresentavam marcas de tiros e estavam com mãos e pés amarrados. Eles vestiam uniformes da empresa para a qual prestavam serviço e se preparavam para iniciar o trabalho quando foram capturados.
O vídeo mostra o criminoso alertando Jeferson Caíque Nunes dos Santos, conhecido como “Badalo”, apontado como um dos envolvidos diretos no crime. Dias depois, no domingo (21), Badalo morreu durante um confronto com policiais, em Salvador. Com ele, foi encontrado o celular de um dos técnicos assassinados.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), Badalo havia deixado o sistema prisional em outubro deste ano, beneficiado por livramento condicional. Ele possuía antecedentes por roubo a banco com uso de explosivos e tráfico de drogas e havia cumprido pena no Complexo Penitenciário da Mata Escura.
Crime autorizado por líderes presos
As investigações indicam que ao menos 11 integrantes do Bonde do Maluco participaram da ação criminosa, entre mandantes, executores e olheiros. Três líderes da facção, mesmo presos, teriam autorizado a execução dos trabalhadores após a falsa informação de que câmeras estavam sendo instaladas na área.
Entre os apontados como mandantes estão Jorge Ferreira Santos, conhecido como “Capenga”; Venício Bacelar Costa, o “Fofão”; e Antônio Dias de Jesus, o “Colorido”, todos já custodiados. Outro suspeito de ordenar o crime é Edson Silva de Santana, o “Jegue”, que segue foragido e já integrou o Baralho do Crime da SSP-BA, lista dos criminosos mais procurados do estado.
No domingo (21), um homem identificado como Jonatas Amorim Nascimento foi preso por suspeita de envolvimento no caso. Já na segunda-feira (22), um adolescente também se apresentou à polícia. De acordo com o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), ele teria atuado como olheiro durante a ação. O jovem compareceu à Delegacia para o Adolescente Infrator (DAI), mas a polícia não confirmou se houve apreensão.
Quem eram as vítimas
Patrick Vinícius dos Santos Horta estava apenas no segundo dia de trabalho quando foi morto. Ele morava no bairro de Castelo Branco, era pai de um menino de 7 anos e praticava jiu-jítsu. Após passar cerca de seis meses desempregado, havia conseguido a vaga como instalador. O sepultamento ocorreu na quinta-feira (18), em Candeias, na Região Metropolitana de Salvador.
“Patrick era um jovem negro, trabalhador, batalhador, sempre correria. Um menino de coração bom. Às vezes até faltava malícia, e isso revolta ainda mais”, disse o primo Vinícius Simões.
Ricardo Antônio da Silva Souza morava na região da Rótula do Abacaxi e trabalhava há três anos na empresa Planet Internet como motorista e instalador. Ele deixou uma filha de 14 anos e era casado há 27 anos com Sônia Regina.
“A vida dele era trabalhar. Pintava casa, consertava telhado, não parava nunca. Era um homem do bem, um pai, um marido exemplar. Nada vai trazer ele de volta, só ficou a dor”, lamentou a esposa.
Jackson Santos Macedo vivia no bairro do Lobato, era casado e pai de um jovem de 19 anos. No dia do crime, usou o próprio carro para chegar ao trabalho no horário. O veículo foi levado pelos criminosos e localizado dias depois, no bairro de Pirajá, onde passou por perícia.
Os corpos de Ricardo e Jackson foram enterrados na quarta-feira (17), no Cemitério Bosque da Paz, em Salvador, em cerimônias marcadas por comoção entre familiares, amigos e colegas de trabalho.
Veja o vídeo
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