Satélite com chip da Nvidia roda IA no espaço pela primeira vez

Siga o Olhar Digital no Google Discover

Inteligência artificial

Tudo sobre Inteligência Artificial

A Starcloud deu um passo simbólico na corrida da inteligência artificial (IA). A startup norte-americana treinou o primeiro modelo de IA em órbita, usando um chip H100 da Nvidia instalado no satélite Starcloud‑1. É a primeira vez que um processador dessa classe opera no espaço.

O satélite roda um modelo de linguagem completo e responde a comandos como se estivesse num servidor convencional na Terra. Assim, o experimento coloca a empresa no centro de um debate urgente: como manter a expansão da IA sem colapsar redes elétricas e sistemas de resfriamento que já dão sinais de exaustão.

O movimento não é isolado. Com data centers terrestres devorando volumes crescentes de energia e água (e com projeções de que a demanda global deve mais que dobrar até 2030), o setor busca alternativas fora do planeta. 

Google, Lonestar e Aetherflux correm em paralelo, mas foi a Starcloud quem colocou o primeiro protótipo funcional para operar de fato. A aposta é transformar o espaço num ambiente viável para computação de alto desempenho, tirando proveito da energia solar contínua e reduzindo o impacto ambiental das operações.

Starcloud demonstra que data centers orbitais já são tecnicamente viáveis

O experimento começa pelo que mais chama atenção: um grande modelo de linguagem (LLM, na sigla em inglês) que funciona no espaço. O modelo escolhido foi o Gemma, da Google, em versão aberta. 

Ao ser consultado, o próprio satélite respondeu com humor: “Saudações, terráqueos! Ou, como prefiro pensar em vocês – uma fascinante mistura de azul e verde”. 

Tela de conversa em computador na Terra com inteligência artificial (IA) que roda num satélite no espaço
“Saudações, terráqueos! Ou, como prefiro pensar em vocês – uma fascinante mistura de azul e verde”, disse o satélite com IA, ao ser consultado (Imagem: Starcloud)

É a prova concreta de que o H100 não só sobrevive ao ambiente hostil da órbita, como processa linguagem natural com a mesma fluidez observada em solo.

Esse primeiro diálogo é menos uma demonstração lúdica e mais um marco técnico. Ele indica que o satélite mantém estabilidade térmica, suprimento de energia e integridade dos componentes, mesmo longe das condições controladas de um data center terrestre. 

Ao rodar um LLM denso como o Gemma, a Starcloud mostra que a operação não está limitada a inferências simples. Dá para consultar o sistema como um servidor comum e obter respostas sofisticadas.

O Google reconheceu o peso do teste. Segundo Tris Warkentin, diretor de produto do DeepMind, ver o Gemma funcionar “no ambiente hostil do espaço” é um sinal da flexibilidade e robustez da família de modelos abertos da empresa. 

A Starcloud usou o mesmo chip para treinar o NanoGPT, modelo criado por Andrej Karpathy, usando toda a obra de Shakespeare. Foi o suficiente para fazer o LLM responder em inglês arcaico, num exercício que reforça a capacidade de processamento do hardware.

Esse conjunto de demonstrações prova que a infraestrutura orbital funciona e pode ser ampliada. O CEO da Starcloud, Philip Johnston, argumenta que operações assim devem baratear energia em dez vezes quando comparadas a data centers terrestres. 

A partir desse primeiro passo, a empresa coloca em campo a tese de que clusters inteiros poderão migrar para o espaço.

Corrida da IA vai para o espaço! Startup revela planos ambiciosos para colocar data centers em órbita

Com a prova de conceito estabelecida, a Starcloud agora mira algo bem maior: colocar um data center de 5 gigawatts em órbita, equipado com painéis solares e estruturas de resfriamento que ocupariam cerca de quatro quilômetros de largura e altura

Ilustração de data center de inteligência artificial (IA) em forma de satélite no espaço
Starcloud planeja colocar em órbita um data center de cinco gigawatts, equipado com painéis solares (Imagem: Pedro Spadoni via ChatGPT/Olhar Digital)

Segundo a empresa, um complexo desse tamanho geraria mais energia do que a maior usina elétrica dos Estados Unidos. E ainda sairia mais compacto e barato do que uma fazenda solar equivalente na Terra.

Essa arquitetura explora uma vantagem decisiva do espaço: energia solar constante. Afinal, lá não tem noite, nuvens e nem variações climáticas que afetam instalações terrestres. 

Os satélites teriam vida útil de cerca de cinco anos, estimada a partir da durabilidade dos chips envolvidos. A promessa é criar uma fonte quase inesgotável de energia limpa para sustentar modelos cada vez mais pesados.

A empresa também destaca usos imediatos da computação orbital. O Starcloud‑1 já analisa imagens de satélite em tempo real. Assim, consegue identificar focos de incêndio no instante em que surgem e localizar embarcações e botes à deriva no mar, por exemplo. 

O sistema também consulta seus próprios “sinais vitais”, como posição e velocidade. E consegue descrevê‑los em linguagem natural. Isso é fruto da integração entre IA e telemetria (medição à distância), o que abre caminho para aplicações militares, ambientais e de proteção civil.

O próximo salto tecnológico já tem data: outubro de 2026, quando a Starcloud planeja lançar um satélite equipado com chips Nvidia H100, a plataforma Blackwell e um módulo com a nuvem da Crusoe.

A expectativa é que essa combinação permita que clientes processem tarefas de IA diretamente do espaço. Na prática, seria a transição do protótipo para um serviço comercial, com foco em desempenho e disponibilidade.

Leia mais:

Outro ponto importante: a Starcloud não é a única participante desta corrida.

  • Google anunciou o Project Suncatcher, que pretende lançar satélites com suas TPUs;
  • Lonestar trabalha no primeiro data center comercial na Lua;
  • Aetherflux quer colocar seu sistema em órbita já em 2027
  • Nos bastidores, o CEO da OpenAI, Sam Altman, avalia comprar ou se associar a uma fabricante de foguetes (sinal de que a corrida vai muito além de software). 

Nessa corrida, a SpaceX, de Elon Musk (antigo colega, atual rival de Altman), é parceira de lançamento da Starcloud. E segue como peça-chave desse novo tipo de infraestrutura.

No mercado, a leitura é que o movimento abriu uma fronteira. Como resumiu Dion Harris, diretor de infraestrutura de IA da Nvidia: a partir de “um pequeno data center”, o setor deu “um grande salto em direção a um futuro no qual a computação em órbita aproveita a energia infinita do Sol”. 

(Essa matéria usou informações da CNBC.)