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Protesto em Cruzeiro do Sul ganhou voz indígena e expõs isolamento em Cruzeiro do Sul

O protesto dos moradores do Estirão do Remanso, em Cruzeiro do Sul, ganhou novos contornos com o depoimento do indígena Adelino Kaxinawá da Silva, do povo Huni Kuin (Kaxinawá), que denunciou o sofrimento das famílias após o fechamento do ramal de acesso à comunidade. A via foi bloqueada pela empresa responsável pelas obras da base da Petrobras, deixando moradores sem passagem terrestre e sem alternativas viáveis de deslocamento.

Há cerca de dez anos residente na localidade, Adelino relatou as dificuldades enfrentadas no dia a dia. “Hoje o dia está ruim para toda a comunidade. Fecharam nosso ramal e estamos sofrendo. Eu sou indígena verdadeiro, natural da terra Huni Kuin. A floresta está em pé, mas precisamos de ajuda”, afirmou. Segundo ele, muitas famílias não possuem barco ou canoa para se deslocar pelo rio. “Como vou sair com o portão fechado? Meu filho precisa estudar na escola Padamião, como ele vai?”, questionou.

O indígena cobrou providências imediatas das autoridades municipais e estaduais. “Preciso da ajuda do prefeito, dos vereadores, do governador e do governo. Estamos aqui pedindo força para abrir esse ramal”, declarou, destacando que a estrada é essencial para o deslocamento de crianças, trabalhadores e famílias sem meios alternativos de transporte.

O movimento conta com o apoio do presidente da Associação de Moradores do Bairro do Remanso, José Maria de Amorim Lima. Segundo ele, a mobilização é realizada em parceria com a associação do Estirão do Remanso e busca chamar atenção para o isolamento imposto às comunidades após o fechamento do ramal. “Chegamos para tirar o milho plantado e nos deparamos com portão, cadeado e corrente trancados. Nosso acesso foi negado”, relatou.

José Maria também criticou a decisão judicial da juíza Rosilene de Santana, que determinou o fechamento da via, mas estabeleceu prazo de 60 dias para que a Prefeitura de Cruzeiro do Sul garantisse um acesso alternativo. De acordo com ele, o prazo venceu sem que nenhuma solução fosse apresentada. “Isso não aconteceu. A justiça fechou o acesso e as pessoas hoje não podem passar, só por lama ou mata”, afirmou, questionando se houve vistoria no local antes da decisão.

Além dos impactos na produção agrícola, moradores relatam prejuízos sociais e à saúde. Necí Lima da Conceição, de 62 anos, moradora antiga da região, descreveu a situação como desumana. “Estamos isolados, não tem como tirar nossas coisas. A gente fazia a compra e entregavam em casa, agora estamos de cara para o céu. Estão fazendo humilhação com nós”, desabafou. Com problemas de coluna e hérnia de disco, ela teme não conseguir atendimento médico em caso de emergência. “Agora nem a pé passa”, disse.

Necí também alertou para a interrupção das aulas. “Tem muitas mães com filhos para estudar. As crianças já estão há dias sem aula”, relatou. “Nós não somos animais para tratar a gente assim. Somos cristãos, queremos nossos direitos. A comunidade está revoltada e quer solução urgente”.

Diante do impasse, os moradores mantêm o bloqueio da estrada de acesso ao porto governamental como forma de pressão pela reabertura imediata do ramal e por uma solução definitiva. Representantes das comunidades informaram que já buscaram o Ministério Público e planejam ir à Cidade da Justiça para tentar dialogar diretamente com a magistrada. A manifestação, que já dura cerca de uma semana, segue de forma pacífica, mas reflete o desespero de comunidades que permanecem isoladas.

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