O corpo de Tainara Souza Santos, de 31 anos, está sendo velado nesta sexta-feira (26), no Cemitério São Pedro, na Zona Leste de São Paulo, em meio a forte comoção e protestos por justiça. Familiares e amigos chegaram ao local vestindo camisetas, segurando cartazes e faixas com mensagens contra a violência de gênero e em memória de Tainara, que morreu após passar 25 dias internada. Ela foi atropelada e arrastada por um homem na Marginal Tietê, no dia 24.
Durante o velório, amigas da vítima concederam entrevistas emocionadas e transformaram o momento de despedida em um ato de denúncia. Em uma das falas mais fortes, uma amiga cobrou respostas do Estado e questionou a repetição de crimes semelhantes no país. “A gente está aqui para pedir justiça pela Tainara e pelas outras mulheres também que morrem todos os dias. Todos os dias a gente vê no jornal a notícia. Até quando?”, desabafou.
A amiga também fez um apelo direto às famílias e à sociedade, destacando a importância da educação dos homens desde a infância. “Vocês que têm filho homem, eduquem os filhos de vocês para respeitarem as mulheres. Até quando a gente vai ficar passando por esse tipo de situação?”, afirmou, emocionada.
Visivelmente abalada, ela relatou a dificuldade de aceitar a morte da amiga e classificou o crime como cruel. “Eu não consigo acreditar no que aconteceu com ela. Ela está ali, e eu não consigo acreditar nisso. Eu quero justiça pelo que aconteceu com ela”, disse, apontando o caixão.
O discurso também trouxe críticas às punições previstas na legislação brasileira. “O que são 40 anos de cadeia? Vai passar 10 anos preso, vai sair e vai fazer com a próxima? Até quando isso vai acontecer?”, questionou. Segundo ela, sem mudanças efetivas, novas vítimas continuarão surgindo. “O que aconteceu com a Tainara pode acontecer com qualquer outra mulher.”
A amiga cobrou uma atuação mais firme das autoridades e mudanças estruturais na legislação. “A gente quer que a autoridade veja o que está acontecendo, que mude as leis do país. Porque as leis hoje são simplesmente ficar preso, depois sair e fazer as mesmas coisas”, afirmou.
Em outro trecho, o desabafo ganhou um tom coletivo, dando voz a mulheres que sofrem violência em diferentes formas. “Hoje foi a Tainara, e amanhã quem será? Mulheres estão morrendo, sendo violentadas, estupradas, chorando. A justiça precisa ser feita, mas uma justiça justa”, disse.
Ela também mencionou a Lei Maria da Penha, destacando que, na prática, muitas mulheres seguem desprotegidas. “A Lei Maria da Penha é só por um dia. Depois sofremos violência física, doméstica, dentro de casa. Que hoje a autoridade escute a voz das mulheres que estão sofrendo”, declarou.
O velório seguiu marcado por lágrimas, abraços e pedidos de justiça, não apenas por Tainara, mas por todas as mulheres vítimas de violência. “O que aconteceu com a Tainara pode acontecer comigo, pode acontecer com qualquer uma. São mães, são amigas que estão sofrendo hoje. Que a justiça seja feita e que as leis do país mudem”, concluiu a amiga.
O sepultamento de Tainara está previsto para o meio-dia. O caso segue sendo investigado pelas autoridades.
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