O Terceiro Comando Puro, facção conhecida por reunir traficantes que se identificam como evangélicos, passou a integrar oficialmente o monitoramento das autoridades federais. Um levantamento da Agência Brasileira de Inteligência apontou que o grupo ultrapassou os limites do Rio de Janeiro e passou a atuar em diversos estados do país, incluindo o Acre.

Um levantamento da Agência Brasileira de Inteligência apontou que o grupo ultrapassou os limites do Rio de Janeiro: Foto/Reprodução
No Rio de Janeiro, pichações com a estrela de Davi sinalizam o domínio territorial do TCP. O coordenador-geral de análise de conjuntura nacional da Abin, Pedro Souza Mesquita, apresentou o alerta em reunião da Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência no Congresso. Ele destacou que o TCP está em rápida expansão e já controla áreas no Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Bahia, Ceará, Amapá, Acre, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul. Segundo Mesquita, o crescimento coloca o grupo como terceira força nacional no crime organizado, atrás apenas do Comando Vermelho e do Primeiro Comando da Capital.
No Ceará, a presença do TCP se tornou visível há cerca de três meses, quando símbolos da facção começaram a aparecer em paredes de bairros de Maracanaú, na região metropolitana de Fortaleza, acompanhados de frases como “Jesus é dono do lugar”. Ao mesmo tempo, foram registrados relatos de fechamento de terreiros de umbanda por determinação de integrantes da facção, repetindo ações já vistas na zona norte do Rio, onde a intolerância religiosa é uma característica conhecida do grupo.
O delegado-geral da Polícia Civil do Ceará, Márcio Gutiérrez, confirmou que os episódios estão sendo investigados. Segundo ele, o TCP chegou ao estado em setembro, quando 37 pessoas ligadas à facção foram presas na região metropolitana de Fortaleza. A entrada da organização no Ceará se deu por meio de uma aliança com uma facção local, estratégia semelhante à utilizada pelo Comando Vermelho e pelo PCC em outras expansões, conforme estudos sobre organizações criminosas no Brasil.
Além do tráfico de drogas, o TCP busca ampliar atividades de extorsão, pressionando economicamente moradores e comerciantes, modelo mais comum em milícias, como forma de aumentar a arrecadação em alguns estados.
Fundado em 2002 após uma cisão interna do Comando Vermelho, o TCP mantém uma guerra constante com a facção rival no Rio de Janeiro. O conflito envolve armas de grosso calibre, granadas, explosivos improvisados e drones usados para monitoramento e ataques. Com a expansão para outras regiões, especialistas alertam que a rivalidade tende a se intensificar, elevando o risco de violência.
No Ceará, a presença da facção preocupa autoridades de segurança pública. Apesar da queda nos homicídios nos últimos anos, o estado ainda figura entre os mais violentos do país. Três cidades cearenses, Maranguape, Maracanaú e Caucaia, aparecem entre as dez com maiores taxas de assassinatos no último Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Pesquisadores e autoridades temem que a chegada do TCP provoque disputas pelo controle de comunidades, aumentando confrontos armados e mortes violentas.
