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Entre a CLT e o palco: como artistas do DF conciliam jornadas

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Entre a CLT e o palco: como artistas do DF conciliam jornadas

Viver de arte é o sonho de muita gente, mas a realidade costuma ser mais complexa. No Distrito Federal, parte dos músicos concilia o expediente formal com a rotina de ensaios e apresentações. Alguns fazem isso por estratégia, outros por necessidade — todos em busca de manter a música viva em suas trajetórias. Esse cenário convive com o de artistas que se dedicam integralmente aos palcos e enfrentam a instabilidade da cena cultural do quadradinho.

A cantora e compositora Isadora Pina vive esse equilíbrio há alguns anos. Bancária concursada, ela atua na área de marketing de um banco público e organiza a rotina a partir da carga horária de seis horas diárias. A escolha pelo concurso nasceu de uma preocupação prática: pagar todas as contas.

“Hoje eu tenho uma carga horária de 6 horas, o que me permite fazer outras coisas no meu dia, incluindo ensaios e shows. Mas, às vezes, chegar em casa e ainda ter que ensaiar ou criar é difícil. O cansaço bate constantemente”, afirma.

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Isadora conta que já viveu exclusivamente da música e sabe o peso dessa escolha, porém, a decisão de assumir um emprego fixo não representou abandono da cena. Apesar disso, ela garante que não pretende voltar a precisar do dinheiro da noite para sobreviver.

“Eu não penso em viver só de música de novo. Na pandemia eu me abri para outras oportunidades. Foi uma escolha de ter outro trabalho para me dar estabilidade e financiar o que realmente gostava de fazer na música”.

Questionada sobre sofrer algum tipo de discriminação na cena musical do DF por não depender somente da música, ela garantiu que não.

“Eu já fui a artista que falou que nunca faria um concurso. Aos olhos de muitas pessoas, você não trabalhar exclusivamente com a música era como se você tivesse desistindo mesmo. Entendi que é uma escolha. Isso não exclui a artista que eu sou”, explica.

O DJ e designer gráfico Mike, também bastante conhecido na noite da capital, também divide a vida entre o emprego formal e a noite. Ele trabalha no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e mantém uma agenda ativa de eventos. A rotina, segundo ele, exige jogo de cintura.

“A maior dificuldade são os horários. A saúde e os compromissos pedem uma vida mais regrada, mas o final de semana começando na quarta ou quinta com eventos na madrugada baqueiam a organização de qualquer um”.

Mike gosta da dinâmica dos eventos e diz que já considerou viver só da música, mas conhece a realidade financeira: “Iria faltar metade do orçamento mensal”.

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Isadora Pina é bancária e artista

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Mike trabalha no STJ e é DJ na noite brasiliense

Reprodução/Instagram

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Isadora Pina

Reprodução/Instagram

Quem aposta tudo no palco

Do outro lado da narrativa estão músicos que vivem exclusivamente da arte. O percussionista André Silveira, do Samba da Tia Zélia, deixou a carreira de gerente de informática ao perceber que não estava feliz com a profissão.

“Em um momento percebi que estava envelhecendo mesmo sendo muito novo, e não era feliz”, conta. O maior obstáculo para ele foi a questão financeira: “Na época eu não tinha constância na música. Tocava mais de farra que como profissão”.

Apesar de alguns estigmas, André afirma que Brasília tem espaço e oferece condições para quem busca profissionalização. “Para o público tem muito romantismo, acha que tudo é farra, que você faz música por bebida e comida. A cena permite viver da música com dignidade. Você precisa se posicionar, ser bom no que faz e estar pronto quando as oportunidades aparecem”, garante.

O cavaquinista Pedro Molusco, integrante do mesmo grupo e ex-membro do 7 na Roda, decidiu cedo seguir a música como profissão. A escolha ganhou firmeza após um conselho materno.

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André Silveira, percussionista e cantor do Samba da Tia Zélia

Reprodução/Instagram

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Pedro Molusco é cavaquinista do Samba da tia Zélia e ex-7 na Roda

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André Silveira

Reprodução/Instagram

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Pedro é um dos nomes mais conhecidos do samba do DF

Reprodução/Instagram

“Ela disse: ‘Então estude e mire em ser o seu melhor no cavaquinho’. Com aquela mensagem eu senti uma benção para que me tornasse cavaquinista de fato”.

Pedro também vê romantização no ato de viver da arte, mas acredita que o estudo é o fator decisivo. “Sem muitas horas de estudos diários, acho que o dom não serve para você se tornar um grande musicista”.

Sobre viver da música no DF, Pedro faz uma ponderação que aparece na fala de quase todos os entrevistados. Ele aponta a Lei do Silêncio como um dos obstáculos recorrentes.

“A Lei do Silêncio é bem defasada e prejudica os profissionais da música em várias situações. Muitos bares têm dificuldade em manter as atrações semanalmente justamente por conta da lei. Eu particularmente, vivo de música no DF e com dignidade, porém acredito não ser a realidade de muitos amigos”, ressalta.

Muitas vezes, por falta de opção, a única saída é ter uma segunda fonte de renda. “Tenho vários amigos excepcionais que tocam na cidade e tem outro emprego para garantir as contas do mês. Percebo que essa talvez seja a maneira mais segura de se trabalhar com música no DF”.

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