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A iRobot, fabricante do robô aspirador Roomba, entrou com pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos e acertou sua venda para a Picea Robotics, empresa chinesa que já produzia seus equipamentos.
A decisão expõe uma crise que vinha se desenhando há meses. Depois do fracasso da venda para a Amazon, a iRobot passou a enfrentar concorrência mais agressiva, custos mais altos e dificuldades para manter fôlego financeiro.
Pedido de falência abre caminho para venda da iRobot para empresa chinesa
O pedido de recuperação foi apresentado num tribunal de Delaware e funciona, na prática, como uma reorganização assistida. A empresa segue ativa enquanto renegocia dívidas e redefine seu futuro.

A própria iRobot já havia alertado, em março, que existiam dúvidas reais sobre sua capacidade de continuar operando no longo prazo.
Parte central do problema está no mercado. A empresa ainda lidera segmentos importantes, mas passou a sofrer pressão constante de concorrentes mais baratos, muitos deles chineses.
Para tentar se manter relevante, precisou cortar preços e investir pesado em atualizações tecnológicas, o que corroeu margens e resultados.
Outro fator decisivo veio de fora. Novas tarifas comerciais dos EUA, incluindo uma taxa de 46% sobre produtos vindos do Vietnã, onde a iRobot fabrica aspiradores para o mercado americano, elevaram os custos em cerca de US$ 23 milhões (aproximadamente R$ 125 milhões) em 2025.
Nesse contexto, a estrutura da venda se fechou. A iRobot acumulava cerca de US$ 190 milhões (pouco mais de R$ 1 bilhão em dívidas), originadas de um empréstimo feito em 2023, quando a compra pela Amazon estava travada por investigações antitruste na Europa.
A Picea, que já era parceira industrial, assumiu esse débito ao comprá-lo de fundos ligados ao Carlyle Group. Agora, com a recuperação judicial, ficará com 100% da empresa, cancelando essas dívidas.
Segundo a iRobot, outros credores e fornecedores serão pagos integralmente. E serviços, aplicativos e suporte aos produtos não devem ser afetados.
Quem é a Picea e o que a mudança revela sobre o mercado de robôs
A Picea Robotics, também conhecida como 3irobotix, não é uma novata. Trata-se de uma das maiores fabricantes globais de robôs aspiradores no modelo ODM — empresas que projetam e produzem equipamentos para marcas terceiras. Além da iRobot, nomes como Shark e Anker aparecem entre seus parceiros industriais.
A relação entre as duas se estreitou após o colapso do acordo com a Amazon, no início de 2024. Naquele momento, a iRobot decidiu transferir parte de sua engenharia e produção para fora dos EUA, buscando reduzir custos.
A Picea passou a fabricar os Roombas lançados depois disso. Modelos que, segundo análises especializadas, se aproximaram mais do padrão técnico dominante do mercado.
A Picea também atua com marca própria. Ela já lançou a linha 3i, de aspiradores robôs, e afirma ter produzido e vendido mais de 20 milhões de unidades ao longo dos anos.
Com centros de pesquisa e fábricas na China e no Vietnã, a empresa representa bem a força industrial que hoje domina esse segmento.
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O contraste é simbólico. A iRobot chegou a valer cerca de US$ 3,56 bilhões (R$ 19 bilhões) em 2021, impulsionada pela demanda da pandemia. Hoje, seu valor gira em torno de US$ 140 milhões (R$ 759 milhões).
A venda para a Picea não apenas encerra esse ciclo como reforça uma tendência mais ampla: o avanço de fabricantes chineses no controle do mercado global de robôs domésticos.
O futuro da marca Roomba segue em aberto. E agora, definitivamente, fora do controle da empresa que a criou.
(Essa matéria usou informações de Reuters e The Verge.)