A Polícia Civil do Amazonas trabalha com quatro frentes de investigação para esclarecer a morte de Benício Xavier, de 6 anos, que recebeu uma dose incorreta de adrenalina pela veia durante atendimento em Manaus. A informação foi confirmada pelo delegado Marcelo Martins nesta quinta-feira (4), após acareação entre a médica responsável pela prescrição e a técnica de enfermagem que aplicou o medicamento.
O caso ocorreu na madrugada de 23 de novembro. Benício chegou ao Hospital Santa Júlia com suspeita de laringite e, segundo a família, foi medicado com lavagem nasal, soro, xarope e três doses de adrenalina intravenosa. Pouco tempo depois, seu quadro piorou rapidamente: o menino ficou pálido, relatou sensação de que o coração “queimava”, teve queda na saturação e foi levado à sala vermelha.
De acordo com o delegado, a investigação considera quatro possíveis responsabilidades: erro na prescrição feita pela médica Juliana Brasil Santos; falha na conferência da técnica de enfermagem Raiza Bentes Paiva antes da aplicação; falta de estrutura e protocolos adequados no hospital; e possíveis erros durante tentativas de intubação na UTI, que teriam provocado sucessivas paradas cardíacas.
A técnica de enfermagem afirmou em depoimento que apenas seguiu o que estava registrado no sistema, e alegou não ter recebido apoio no momento da aplicação. A mãe da criança chegou a questionar a via da medicação, mas foi informada de que estava prescrita de forma intravenosa.
Martins também destacou problemas estruturais no dia do atendimento: havia apenas três enfermeiros para cinco setores e não havia farmacêutico presente, o que poderia ter impedido a liberação da medicação de forma equivocada.
Durante a internação, Benício passou por três tentativas de intubação que não tiveram sucesso. Uma outra médica foi chamada e conseguiu realizar o procedimento horas depois, mas o menino sofreu seis paradas cardíacas consecutivas — a última delas fatal, às 2h55 do dia 23.
A defesa da médica afirma que a confissão de erro foi feita “no calor do momento” e que uma falha no sistema automatizado do hospital pode ter alterado a via de administração da adrenalina. Já a administração do Hospital Santa Júlia informou que não vai se pronunciar.
O Conselho Regional de Medicina do Amazonas abriu processo ético para apurar a conduta médica, enquanto a Polícia investiga o caso como homicídio doloso qualificado. A conclusão oficial dependerá de exames do Instituto Médico Legal (IML).
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