O pequeno Benício Xavier, de 6 anos, descrito pela família como uma criança alegre, carinhosa e apaixonada por desenhos animados, morreu na madrugada de 23 de novembro após uma prescrição médica equivocada no Hospital Santa Júlia, em Manaus. Filho único, faria 7 anos no dia 25 de dezembro. “O ser vivo mais puro que eu já encontrei”, disse o pai, Bruno Mello de Freitas.
Segundo os pais, Benício costumava acordar cedo nos fins de semana para assistir a desenhos e fazia questão de chamar a família para acompanhá-lo. Durante a semana, estudava pela manhã e tinha aulas de natação à tarde. A rotina era marcada por passeios em família, especialmente a restaurantes com brinquedoteca, onde adorava brincar.
Benício se formaria no ABC no último sábado (6). A cerimônia na escola foi marcada por homenagens emocionadas de colegas, professores e famílias.
Investigação
O Conselho Regional de Medicina do Amazonas (CREMAM) abriu, no dia 26 de novembro, um processo ético sigiloso para apurar a conduta da médica Juliana, responsável pelo atendimento. O Hospital Santa Júlia afastou tanto ela quanto a técnica de enfermagem Raiza Bentes Paiva.
Em relatório enviado à Polícia Civil e acessado pela Rede Amazônica, a médica admitiu ter prescrito adrenalina por via intravenosa — erro que reconheceu formalmente. Ela afirmou ter informado à mãe que a medicação deveria ser dada por via oral e disse ter se surpreendido por a enfermagem não questionar a prescrição. Já a técnica Raiza declarou ter apenas seguido o que constava no sistema.
O delegado Marcelo Martins investiga o caso como homicídio doloso qualificado e não descarta a possibilidade de crueldade, devido ao sofrimento experimentado pela criança durante o agravamento do quadro.
O caso
Benício foi levado ao hospital em 22 de novembro com tosse seca e suspeita de laringite. Segundo a família, ele recebeu lavagem nasal, soro, xarope e três doses de adrenalina intravenosa de 3 ml a cada 30 minutos — aplicadas pela técnica de enfermagem.
“Meu filho nunca tinha tomado adrenalina pela veia, só por nebulização. Perguntamos, e a técnica disse que também nunca tinha aplicado desse jeito. Mas afirmou que estava na prescrição”, relatou o pai.
Pouco depois, o menino piorou: ficou pálido, com extremidades arroxeadas, e disse que “o coração estava queimando”. Sua saturação caiu para cerca de 75%. Ele foi levado à sala vermelha e, mais tarde, para a UTI. Durante a intubação, sofreu a primeira de seis paradas cardíacas. Morreu às 2h55 do dia 23 de novembro.
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