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Em 1996, com a passagem do cometa Hyakutake, cientistas descobriram que esses corpos celestes podem emitir raios X, radiação normalmente associada a eventos altamente energéticos, como buracos negros ativos e supernovas. Agora, isso acaba de ser observado no 3I/ATLAS – o que representa a primeira emissão desse tipo detectada em um objeto interestelar.
O evento foi registrado pela Missão de Imageamento e Espectroscopia de Raios X (XRISM), um telescópio de raios X operado conjuntamente pelo Japão e pela Agência Espacial Europeia (ESA), e marca um avanço importante para entender como materiais vindos de fora do Sistema Solar interagem com o Sol.
Em resumo:
- Quase 30 anos após a primeira detecção de raios X em um cometa, esse tipo de emissão foi observado no objeto interestelar 3I/ATLAS;
- A detecção foi feita pelo telescópio XRISM, depois que o cometa se afastou o suficiente do brilho do Sol;
- As imagens mostram um halo fraco, mas consistente, estendendo-se por cerca de 400 mil km ao redor do objeto;
- Esse brilho ocorre quando o plasma solar em alta velocidade atinge a coma do cometa, gerando radiação de alta energia;
- A identificação de carbono, nitrogênio e oxigênio confirma que os raios X vinham realmente do 3I/ATLAS.

Além de mais rápido, mais ativo, muito maior e mais antigo que os outros dois visitantes interestelares já detectados (o asteroide 1I/‘Oumuamua, em 2017, e o cometa 2I/Borisov, em 2019), o 3I/ATLAS agora se destaca por mais este diferencial: ser o primeiro corpo celeste “forasteiro” a apresentar uma assinatura clara de raios X, algo até então inédito.
Conforme salienta o site IFLScience, a emissão de raios X por cometas é um fenômeno perfeitamente normal e esperado, e não um sinal anômalo. A radiação é gerada por interações específicas entre o plasma carregado de partículas liberado pelo Sol em alta velocidade e a coma do cometa (a atmosfera temporária de gás e poeira formada em torno do núcleo à medida que o objeto se aproxima do Sol). Essas colisões arrancam elétrons dos átomos do gás e aceleram as partículas solares a energias tão altas que elas passam a emitir raios X.
As capturas do XRISM foram realizadas entre a noite de 26 e o fim da tarde de 28 de novembro, totalizando 17 horas úteis de observação. A análise inicial identificou um brilho fraco, porém consistente, que se estende por cerca de 400 mil km ao redor do cometa. Segundo os pesquisadores, é improvável que esse sinal seja apenas ruído dos instrumentos.

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A equipe também detectou assinaturas específicas de carbono, nitrogênio e oxigênio, reforçando que o raio X observado realmente vem do cometa, e não de outras fontes, como a Via Láctea ou a atmosfera terrestre.
Essas medições só puderam ser feitas agora porque, desde que foi descoberto em 1º de julho, o 3I/ATLAS esteve por meses muito próximo do Sol no céu, o que impedia observações seguras em raios X.

Com a mudança de posição do objeto, novos observatórios já podem acompanhá-lo, e resultados adicionais devem surgir nas próximas semanas, enquanto ele se aproxima de sua menor distância da Terra, que será de cerca de 270 milhões de km, em 19 de dezembro.
