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Caso Katiane: suspeito de jogar mulher do 10º andar recebeu R$ 12 milhões do filme de Bolsonaro

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Caso Katiane: suspeito de jogar mulher do 10º andar recebeu R$ 12 milhões do filme de Bolsonaro

Alex Leandro Bispo dos Santos, preso pela morte da esposa após uma série de agressões, recebeu R$ 12 milhões da produtora executiva da cinebiografia de Jair Bolsonaro (PL). A quantia foi paga à empresa dele, a Favela Conectada, subcontratada pelo Instituto Conhecer Brasil (ICB), organização contratada pela prefeitura de São Paulo para instalar e manter pontos de wi-fi gratuito em comunidades de baixa renda.

Documentos obtidos pela coluna de Demétrio Vecchioli, do Metrópoles, revelam que o contrato recebeu assinatura de Alex Bispo e da mulher morta, Maria Katiane Gomes da Silva, como testemunha. Também assina o documento Karina Pereira da Gama, presidente do ICB e produtora executiva do filme Dark Horse, ligado à produtora Go Up.

Contrato milionário e irregularidades

Segundo investigação do The Intercept, o ICB foi contratado pela gestão Ricardo Nunes (MDB) por R$ 108 milhões, em junho do ano passado, para instalar e manter 5.000 pontos de wi-fi por um ano. O edital apresentava ao menos 20 irregularidades apontadas pelo Tribunal de Contas do Município, incluindo critérios genéricos para a escolha de uma ONG para executar um serviço técnico.

Enquanto a Prodam, empresa municipal especializada na área, cobra R$ 306 por ponto de wi-fi mantido, o ICB fechou contrato com a prefeitura por R$ 1.800 por instalação e mais R$ 1.800 mensais por manutenção. Inicialmente, o planejamento iria até dezembro de 2024, com início da instalação apenas em janeiro de 2025. Contudo, a prefeitura pediu antecipação e a implantação começou em setembro, intensificando em outubro, mês da eleição municipal.

Ainda segundo o Intercept, a prefeitura aceitou um acordo incomum ao considerar como data-base de instalação o dia 30 de junho de 2024, mesmo para pontos que só entraram em funcionamento meses depois. Com isso, pagou R$ 26 milhões pela manutenção de pontos que sequer existiam.

O papel de Alex Bispo no esquema

A Favela Conectada, empresa de Alex Bispo, foi contratada como terceirizada para manutenção dos pontos, recebendo R$ 712 por mês por cada um. Em um dos repasses, a empresa recebeu 12 mensalidades por 218 pontos instalados entre 22 e 28 de abril de 2025 — mesmo com o contrato válido só até 30 de junho. Na prática, o serviço funcionou pouco mais de dois meses, mas recebeu por um ano inteiro.

No total, a Favela Conectada deveria instalar 2.000 pontos. Apesar disso, a assinatura de Alex aparece apenas como “Alex” e com CPF ocultado no contrato de prestação de contas. Em outro termo, o nome completo dele e o de Maria Katiane aparecem juntos — ela como testemunha.

A empresa funciona no mesmo prédio de um escritório cujo aluguel era pago pelo ICB com verba pública. Até o cheque caução de R$ 18 mil foi incluído nas contas apresentadas à prefeitura.

Crime e prisão

Alex Leandro Bispo foi preso nesta terça-feira (9/12), suspeito de matar a esposa após uma sequência de agressões registradas por câmeras de segurança. O caso aconteceu na madrugada de 29 de novembro, em um prédio na zona sul de São Paulo.

As imagens mostram o suspeito espancando Maria Katiane em um estacionamento e dentro do elevador. Minutos depois, ela caiu da janela do 10º andar e morreu. A polícia trata o caso como feminicídio.

Nas gravações, é possível ver o momento em que Alex tenta agarrar o pescoço da vítima e, logo depois, a arrasta para fora do elevador. Ele retorna sozinho minutos depois, aparentando desespero.

A prisão preventiva foi decretada nesta semana. A investigação está a cargo da 89ª Delegacia de Polícia (Jardim Taboão).

Prefeitura rebate irregularidades

A prefeitura de São Paulo não respondeu à coluna, mas disse ao Intercept considerar “irresponsável qualquer associação entre as autorizações mencionadas para filmagens” e o programa WiFi Livre SP. A gestão defendeu o projeto, afirmando que já existem 3.200 pontos implementados e previsão de mais 1.800 até 2026.

Segundo o município, a contratação de uma OSC ocorreu porque a Prodam “não pode atuar em ambientes privados”, e a antecipação de entregas foi definida em plano de trabalho. A prefeitura diz ainda que o programa é “fundamental para dar acesso à internet a milhares de famílias vulneráveis”.

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