Alzheimer e Parkinson: estudo liga avanço das doenças ao consumo de microplásticos

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Um novo estudo publicado na revista Molecular and Cellular Biochemistry acendeu um alerta global ao apontar que microplásticos podem acelerar danos cerebrais associados a Alzheimer e Parkinson. A pesquisa, conduzida por cientistas da Universidade de Tecnologia de Sydney (UTS) e da Universidade de Auburn, investigou como partículas presentes em água, alimentos e até poeira doméstica conseguem atravessar barreiras de proteção, provocar inflamação e comprometer neurônios.

Segundo os autores, mais de 57 milhões de pessoas vivem hoje com algum tipo de demência no mundo — e a presença crescente de microplásticos no organismo pode ampliar ainda mais esse cenário nas próximas décadas.

Como os microplásticos chegam ao organismo e alcançam o cérebro

O professor associado Kamal Dua, da UTS, estima que um adulto ingira cerca de 250 gramas de microplásticos por ano, o equivalente a um “prato cheio”. Essas partículas vêm de diversas fontes, incluindo frutos do mar contaminados, alimentos processados, embalagens e até poeira gerada por roupas e carpetes sintéticos.

Microplásticos podem ser encontrados em alimentos ultraprocessados e embalagens, por exemplo (Crédito: TY Lim / Shutterstock)

Mesmo que parte seja eliminada, estudos já demonstram que microplásticos podem se acumular em tecidos profundos — inclusive no cérebro. A revisão científica identificou cinco mecanismos principais pelos quais essas partículas prejudicam as células nervosas:

  • ativação exagerada do sistema imune cerebral;
  • estresse oxidativo intenso;
  • ruptura da barreira hematoencefálica;
  • prejuízo às mitocôndrias;
  • danos diretos aos neurônios.

Esses processos, quando combinados, criam um ambiente favorável ao avanço de doenças neurodegenerativas.

Riscos aumentados para Alzheimer e Parkinson

O estudo indica rotas específicas de agravamento para doenças já conhecidas. No caso do Alzheimer, os microplásticos favorecem o acúmulo de beta-amiloide e tau, proteínas tóxicas relacionadas ao declínio cognitivo. Já com o Parkinson, eles estimulam a agregação de α-sinucleína, proteína que destrói neurônios dopaminérgicos.

Doença Alzheimer
Estudos já demonstram que microplásticos podem se acumular em tecidos profundos — inclusive no cérebro (Imagem: PeopleImages/Shutterstock)

Apesar disso, os pesquisadores ressaltam que ainda não há prova definitiva de que microplásticos causem Alzheimer ou Parkinson. Há, porém, fortes indícios de que podem acelerar sintomas e piorar quadros já existentes.

Tecnologias de análise celular em andamento procuram entender como essas partículas interagem com o cérebro, enquanto outros estudos investigam a entrada de microplásticos pelos pulmões por meio da inalação.

Como reduzir a exposição aos microplásticos

Embora os efeitos de longo prazo ainda estejam sendo estudados, especialistas defendem mudanças imediatas de hábito para diminuir a exposição:

  • evitar tábuas e recipientes de plástico;
  • reduzir alimentos processados;
  • optar por roupas de fibras naturais;
  • evitar secadoras de roupa, que liberam microfibras;
  • preferir embalagens de vidro ou metal.
microplasticos
Evitar tábuas e recipientes de plástico e reduzir alimentos ultraprocessados são dois hábitos que ajudam a reduzir o consumo de microplásticos (Imagem: SIVStockStudio/Shutterstock)

Os cientistas também defendem que as descobertas ajudem a impulsionar políticas públicas voltadas à redução da produção de plástico, ao controle de resíduos e à regulamentação de microplásticos em alimentos.

“Os microplásticos são um poluente onipresente”, conclui Dua. “Entender seu impacto no cérebro é essencial para proteger a saúde das próximas gerações.”

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