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Trump suspende ‘tarifaço’ sobre café, carne, banana, açaí e outros produtos agrícolas

O governo de Donald Trump anunciou a suspensão de parte das tarifas recíprocas aplicadas a todos os parceiros comerciais dos Estados Unidos sobre uma série de produtos agrícolas.

Entre eles, estão itens produzidos pelo Brasil como o café, vários cortes de carne bovina, açaí, castanha-do-pará, tapioca, mandioca e frutas como banana, laranja e côco, dentre outros.

A decisão foi anunciada com uma ordem executiva desta sexta-feira (14/11).

Trump suspende ‘tarifaço’ sobre café, carne, banana, açaí e outros produtos agrícolas/Foto: Getty Images

Nela, Trump afirma que decidiu mudar o escopo de produtos sobre os quais essas taxas são cobradas após receber informações e recomendações de autoridades que monitoram a aplicação destas medidas, além de considerar o andamento das negociações com outros países, a demanda interna por certos produtos e a capacidade de produção americana destes itens.

Na ordem, diz que a mudança será aplicada a uma série de produtos listados em um anexo e que ela entrará em vigor “em relação às mercadorias que entrarem para consumo, ou forem retiradas do armazém para consumo, a partir das 00h01 [no horário local] do dia 13 de novembro de 2025”.

As tarifas recíprocas foram anunciadas por Trump em abril deste ano, quando uma taxa mínima de 10% foi aplicada a todos os seus parceiros comerciais.

Ainda não está claro se as novas isenções se aplicarão aos 40% adicionais impostos por Trump sobre vários produtos brasileiros em julho.

Na terça (11/11), Trump havia mencionado em entrevista à Fox News uma possível redução em tarifas sobre o café, sem citar o Brasil ou quais países seriam beneficiados.

Questionados pela BBC News Brasil, os ministérios das Relações Exteriores e do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços do Brasil afirmaram que ainda buscam entender o alcance das medidas.

Em nota, o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) afirmou estar “em contato com seus pares americanos” para entender se a ordem executiva desta sexta-feira “se aplica apenas à tarifa base de 10%, à de 40% ou a ambas”.

Já a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) comemorou o anúncio.

“A medida reforça a confiança no diálogo técnico entre os dois países e reconhece a importância da carne do Brasil, marcada pela qualidade, pela regularidade e pela contribuição para a segurança alimentar mundial”, disse a associação.

“A redução tarifária devolve previsibilidade ao setor e cria condições mais adequadas para o bom funcionamento do comércio.”

Saudade do ‘cafezinho’ brasileiro

 

Crédito,Reuters

Legenda da foto,Ao menos antes das tarifas, Brasil era o principal fornecedor de café aos EUA

O anúncio de Trump terá um impacto significativo na economia brasileira porque, dentre os produtos agora com tarifas suspensas, estão alguns itens nos quais o Brasil é um fornecedor relevante dos EUA — nosso segundo maior parceiro comercial.

Uma análise do centro de pesquisas Tax Foundation destaca o Brasil como quarto maior fornecedor de alimentos para os EUA, com US$ 7,4 bilhões em importações, atrás de União Europeia (US$ 31 bilhões), México (US$ 17,6 bilhões) e Canadá (US$ 15,6 bilhões).

O Brasil é de longe, por exemplo, o principal fornecedor de café para os EUA, respondendo por cerca um terço de todas as importações.

Os EUA são o maior consumidor deste produto do mundo, mas praticamente não produzem a commodity.

O preço do café acumula neste ano uma forte inflação nos EUA, e a tarifa imposta sobre a produção brasileira estava agravando esse cenário — causando preocupação em Trump por pressioná-lo em uma frente importante para seu eleitorado, a economia.

Segundo um cálculo da BBC News Brasil a partir de dados oficiais do MDIC, em setembro, a quantidade de café brasileiro enviada aos EUA caiu quase pela metade (-47%) em relação ao mesmo mês de 2024.

Na primeira conversa travada com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para tratar das tarifas, no início de outubro, o presidente americano admitiu que os EUA estava “sentindo falta” de alguns produtos brasileiros afetados pelo tarifaço, e citou especificamente o café, segundo apurou a BBC News Brasil na época.

O Brasil também é o quarto maior fornecedor de mangas e goiabas (que estão juntos na nomenclatura de mercadorias usada no comércio exterior) para os americanos, tendo embarcado cerca de US$ 56 milhões desses produtos ao país em 2024.

O México é o principal fornecedor, com US$ 550 milhões, seguido do Peru (US$ 96,9 milhões) e do Equador (US$ 56 milhões), segundo o Observatório de Complexidade Econômica.

Os EUA cultivam manga em Estados como Flórida, Califórnia e Havaí, mas boa parte do consumo interno é suprido com importações. O mesmo vale para a goiaba, com cultivo modesto na Flórida, no Havaí e em Porto Rico.

Produtores brasileiros de manga foram duramente afetados pelas tarifas americanas, com produção encalhada diante do cancelamento de pedidos, como mostrou a BBC News Brasil.

O Brasil é ainda o maior exportador de carne bovina do mundo e responde por 23% das importações americanas do produto, segundo cálculo da Genial Investimentos.

Os EUA são o segundo maior mercado para o produto brasileiro, atrás apenas da China.

Mas, ao contrário do café e de frutas como a manga, no caso da carne os EUA são também um grande produtor.

No entanto, o país enfrenta uma queda histórica na oferta de carne bovina.

Atualmente, os EUA têm o menor número de cabeças de gado em 74 anos, depois que os pecuaristas reduziram a produção após vários anos de seca e preços baixos.

Paralelamente, a demanda dos consumidores se manteve firme, fazendo com que os preços nos supermercados aumentassem.

A suspensão das tarifas sobre a carne também deve beneficiar a Argentina, que responde por 2,1% das importações americanas e é governada por Javier Milei, aliado de Trump.

No início de novembro, Trump disse que compraria mais carne argentina para baratear o produto no mercado americano, o que deixou produtores nacionais enfurecidos.

Recente aproximação EUA-Brasil

 

Crédito,Ricardo Stuckert / PR

Legenda da foto,Trump e Lula durante encontro na Malásia em outubro

O anúncio desta sexta-feira não faz diretamente parte das negociações que estão sendo travadas entre Brasil e EUA sobre as tarifas aplicadas especificamente sobre produtos brasileiros e anunciadas em julho.

Elas foram adotadas em resposta ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, aliado ideológico de Trump, e incluem uma tarifa extra de 40% sobre boa parte dos produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos somada às taxas recíprocas de 10% anunciadas em abril.

Desde o breve encontro entre Lula e Trump na Assembleia Geral das Nações Unidas em setembro, os dois países se reaproximaram e reabriram as conversas sobre as taxas aplicadas pelos EUA.

Os dois presidentes se reuniram pessoalmente na Malásia no fim de outubro para tratar do tema.

Nesta semana, o ministro de Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, e o secretário de Estado americano, Marco Rubio, reuniram-se em duas ocasiões para discutir o tema, primeiro no Canadá e depois em Washington.

Após os encontros, Vieira disse acreditar ser possível chegar a um acordo ainda neste mês, o que levaria a negociações mais amplas nos próximos.

“[Um acordo] que estabelecesse um mapa do caminho para uma negociação, que poderia durar dois ou três meses, para então se concluir definitivamente todas as questões entre os dois países”, disse Vieira.

Segundo o ministro, durante uma reunião virtual em 4 de novembro, foi apresentada uma proposta aos americanos, que seria “uma resposta à primeira proposta que eles apresentaram, em 16 de outubro”.

Foi uma referência ao primeiro encontro com Rubio, na Casa Branca, para dar início ao processo de negociação.

Vieira ressaltou que a resposta americana pode vir nos próximos dias.

Na quinta-feira (13/11), a Casa Branca anunciou acordos de comércio com quatro países latino-americanos: Argentina, Equador, El Salvador e Guatemala.

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