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Terra pede socorro! Podcast trata crise climática com ficção e ciência

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Terra pede socorro! Podcast trata crise climática com ficção e ciência

S.O.S! Terra Chamando! – Ep1 – Terra na UTI

 🎵Sobe som barulho hospital🎵

 Dr. Cruz (Pablo Aguiar):  “Abram espaço, abram espaço, por favor! Paciente em choque não hemorrágico, desidratada, pressão arterial nove por cinco, baixa saturação de oxigênio. Em arritmia!

🎵Sobe som barulho hospital🎵

 Dr. Cruz: Senhora, eu sou o Dr. Cruz e vou acompanhá-la a partir de agora! Teremos que transferi-la para a UTI, ok? Mas, antes preciso que me responda a algumas perguntas.

 Terra (Kailane Vinício): UTI, Dr? Tem certeza? Estou morrendo?

 Dr. Cruz: Vamos fazer tudo para que a senhora fique bem!! Me diga: como se chama? Qual sua idade? E há quanto tempo tem sentido esses sintomas?

Terra: Me chamo Terra, tenho 4 bilhões e meio de anos, moro no sistema solar, vizinha de Vênus e de Marte, o Dr. conhece? Bem, eu tenho me sentido assim, desde que a humanidade passou aaa …..

🎵Sobe som 🎵

Dr. Cruz:  Atenção, equipe de emergência! Paciente em parada cardiorrespiratória. Manobras de reanimação! No 3, valendo! Um, dois, três…

🎵Sobe som 🎵

 🎵Vinheta de apresentação do podcast S.O.S! Terra Chamando! 🎵

Adrielen Alves:  Que cena dramática da Terra, na voz de Kailane Vinício, sendo transferida para a UTI. A Terra está aos cuidados do Dr. Cruz, que se apressa em dar uma nova chance à Terra.

Dr. Cruz:  Vamos fazer 8 mg de noradrenalina, eletro urgente, além de gasometria, hemograma e glicemia.

Adrielen: Mas, apesar dos esforços, o Dr. Cruz sabe que a situação da Terra é grave! Muito grave!

🎵Sobe som ritmado🎵

Adirielen: Eu sou Adrielen Alves, jornalista de ciência. Este é o episódio um da primeira temporada do podcast: S.O.S! Terra Chamando! – Uma parceria da Empresa Brasil de Comunicação e da Casa de Oswaldo Cruz.

🎵Sobe som trilha🎵

Adrielen: A Terra, esta jovem senhora, de (abre aspas) quatro bilhões e meio de anos, está na Unidade de Terapia Intensiva, com sintomas típicos de quem está intoxicada, ou envenenada, ou sob forte reação a um agente estranho. Agente estranho?!?

Dr. Cruz: Seria um parasita a causar tantos danos?

Adrielen: A Terra, nossa personagem principal nesta mistura de ficção e realidade, está doente: em franco aquecimento, com secas e cheias históricas, incêndios e perda da biodiversidade.

Terra: A sensação que tenho é da temperatura subindo. Às vezes seca, às vezes encharcada. Me sinto em colapso. Morrendo por dentro!!

Adrielen: E neste nosso metaverso cheio de prosopopeia (ela mesma, a figura de linguagem!), a Terra será ora essa personagem que tem voz e sentimentos, ora será apenas o planeta. Isso mesmo. “O” (entre aspas) planeta – O único com vida em abundância. O único com vida. Ponto.

Adrielen: Terra. De origem germânica. O nome, dado a este corpo celeste rochoso há mil anos, colou! Mas, Terra também era a deusa ‘’Gaia’’, para os gregos, ou ‘’Telo’’, para os romanos.

Terra, significa solo – que, com a velha e boa licença poética, a gente pode dizer “solo” para além do lugar onde pisamos, além da crosta terrestre.

Solo, porque é única. Especial. Diferente, até onde sabemos, de todos os outros incontáveis planetas do universo. Este errante, que é como os gregos se referiam aos planetas, segue carreira solo pela nossa galáxia, a Via Láctea. E é nele que temos uma combinação extraordinária que favorece a vida.

 Pra começar, estamos a uma distância ‘’perfeita’’ da nossa estrela – o Sol. “Ao ponto’’ para radiação, temperatura e água. E água em estado líquido!! E você já deve ter ouvido aquele ditado, onde tem água, tem vida! Quem está com a gente agora é a Simone Daflon, ela está a frente da coordenação de astronomia do Observatório Nacional do Rio de Janeiro. Vamos Ouvir:

 Simone Daflon: Então, tem uma coisa que é a zona de habitabilidade de um sistema planetário. Zona de habitabilidade é o seguinte, é uma faixa em torno da estrela central em que você pode ter água no estado líquido. Porque a água é um dos ingredientes fundamentais para o desenvolvimento da vida, como a gente conhece. Tudo isso que a gente está falando sempre é a vida como a gente conhece, que é só o que a gente sabe também, onde a gente pode separar. Então, se um planeta que está formado muito perto da estrela, antes dessa faixa de habitabilidade, dessa zona de habitabilidade, vai ser muito quente, a água vai evaporar. Então a gente não vai ter água na forma líquida. Um planeta que esteja muito afastado, esteja depois dessa zona de habitabilidade, a água vai estar congelada, vai estar na forma de gelo, então também não vai permitir que a vida se desenvolva. Então, você tem que ter um planeta que tenha um tamanho razoável que se encontre nessa faixa de distância em torno da estrela, e essa zona de habitabilidade ela varia de acordo com a estrela. Então, uma estrela muito quente, a zona de habitabilidade, é mais distante dela. Porque ela emite muita radiação quanto mais perto da estrela, aí que você evapora mesmo toda a água e tal, mas distante, e uma estrela muito pequena, a zona de habitabilidade é mais próxima da estrela.’’

Adrielen: Ela faz parte de um grupo de cientistas, estudantes e amadores engajados em dar a real “pra geral”. Ele é chamado Astrônomos pelo Planeta Terra.

Terra: Gente, acorda! Eu, Terra, sou a única chance de vocês!

Adrielen: Pois é, a Simone Daflon concorda! Assim como outros quase dois mil astrônomos de mais de 70 países que fazem parte do grupo. Esse movimento que reconhece os esforços para encontrarmos novos mundos, mas chama a Astronomia, que é a ciência que estuda o universo, para olhar para dentro. Pra sua própria casa! Pro nosso planeta!

🎵Barulho de campainha🎵

Simone Daflon: Em 1991, foi o primeiro planeta descoberto fora do sistema solar. Então foi a primeira vez que foi observado um planeta que não eram os 8 ou 9, agora 8 conhecidos aqui no nosso sistema solar. E de lá para cá, usando técnicas diferentes, cada vez foram surgindo novos planetas. Você tem uma ideia agora, tem a gente tem praticamente. Tem 5.700 planetas mais ou menos conhecidos em torno de outras estrelas que não sejam o sol.. A gente até agora só encontrou 200 planetas parecidos com a Terra. Todos os outros são planetas parecidos com Júpiter, ou parecidos com Netuno, que até onde a gente entende a vida, como a gente conhece, não seria possível a vida se desenvolver em planetas tão grandes. 

🎵Sobe som🎵

Adrielen: Uau, você deve estar dizendo? 200 planetas parecidos com a Terra? Sim. Mas, o único com vida e onde podemos estar é aqui. É só o que temos. Ou se sabe. Ou, por enquanto, se sabe.

 O que sabemos também é que a Terra é relativamente jovem, se considerarmos que o universo surgiu há pouco mais de 13 bilhões de anos, segundo a teoria do Big-Bang. Esta teoria cosmológica é considerada, até então, uma das mais aceitas sobre a origem e expansão do universo.

 Bilhões de anos mais tarde (e bota bilhões nisso), vem a formação do nosso sistema solar e da Terra, que é rica em ferro, oxigênio, silício, entre outros elementos.

Nesta evolução, a Terra desenvolveu sistemas complexos e interligados.

🎵Sobe som trilha história da Terra🎵

Adrielen: Chegou a hora de um breve passeio pela história do planeta! Partiu?

 Pay attention! Ou fait-attention! No bom e velho português: Presta atenção!

🎵Sobe som trilha história da Terra🎵

Adrielen:  A Terra é formada de atmosfera – camada de gases que envolve o planeta, entre eles o nitrogênio e o oxigênio. Hidrosfera – que são todas as águas que existem – oceanos, rios, lagos, águas subterrâneas e o vapor de água. E a Litosfera – é a parte mais externa do planeta, tem rochas e o solo (olha o solo aí novamente! E, por fim, mas não menos importante, a biosfera – que é onde eu, você e tudo que é vivo se inclui!

Em quase cinco bilhões de anos, o planeta já resfriou, aqueceu, congelou, inundou, uniu e separou continentes. O tempo dessas transformações foi dividido em éons, eras, períodos e épocas geológicas.

 Bora se situar? Pode levantar a mão quem está no Éon Fanerozóico, da Era Cenozóica, do Período Quaternário! Levantou a mão? Sim!! Você está. Eu estou. Enfim, humanidade presente!

 É ‘’oico’’ que não acaba mais…Todos aqueles nomes difíceis que a gente aprende nas aulas de Geografia no ensino fundamental, fazem parte da história do planeta Terra.

Talvez, a gente tenha familiaridade com um dos tempos mais ‘’lúdicos’’. Lúdicos com muitas aspass. Para quem é fã dos dinossauros, é fácil saber que eles viveram e foram extintos no Éon Fanerozóico, Era Mesozóica, períodos que vão do Triássico ao Cretáceo. Não? Não é fácil.

 Mas, para finalizar o nosso passeio pela escala de tempo geológico – que passa por Éon, Era, Período e Época, estamos na época chamada de Holoceno. Estamos no Holoceno? Holoceno?. Essa é realmente uma pergunta e já já você vai entender o porquê.

O Holoceno é a época iniciada há cerca de 11 mil anos, após o último período glacial, caracterizada pela estabilidade climática e da biodiversidade.

Sim. Você ouviu bem. Eu disse: estabilidade climática e da biodiversidade!!! Então, será que estamos mesmo no Holoceno?

Bem, na datação do tempo geológico, cabe uma comparação: a humanidade aparece no último segundo da prorrogação do jogo.

🎵Apito de cartão vermelho/ impedimento🎵

Dominichi Miranda: ‘’A gente lembra que o planeta, de fato, tem 4,5 bilhões de anos de existência. O Homo sapiens, não estão falando nem dos hominídeos. O Homo sapiens, a nossa espécie, tem 100 mil anos. Se a gente pensar em termos, como alguns teóricos sugerem, se a gente pensar em termos até de uma ilustração do corpo humano, se o planeta fosse um corpo humano no inteiro, os humanos seriam a poeirinha da unha, desse corpo humano. Então, realmente, a gente precisa, repensar como a gente se vê nesse planeta. É a espécie que mais produziu um impacto, sem dúvida, se a gente for pensar em termos de Antropoceno. Mas a gente está longe de ser essa espécie mais importante. Então, assim, ter clareza desse tipo de questão, ela é fundamental para que a gente se veja nessa rede planetária da vida.

Adrielen: A gente acabou de ouvir a Dominichi Miranda de Sá, pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz, da Fiocruz. É uma fala nocauteadora!

🎵Som de nocaute🎵

Terra: Quem são vocês que chegam por último e ainda exigem sentar na janela? Que poeirinha que nada! São uma pedra no meu sapato.

Adrielen: Daí, Dominichi larga a #Antropoceno. Seria a nova época geológica, que entraria após o Holoceno. ‘’Seria’’ porque o Antropoceno ainda não é unanimidade entre cientistas. Acredite se puder!

Mas, consenso há de que a espécie humana no centro, como preconiza o Antropoceno, é capaz de levar o planeta a uma fúria climática.

🎵colagem sonoras públicas🎵  

Adriana Alves:  Não tem saída. Está tudo conectado. Tem ação. Tem reação.

A Terra está viva! Gaia tá on, diriam nossos ancestrais! Super on!  Como conta a Adriana Alves, professora do Instituto de Geologia da Universidade de São Paulo

Adriana Alves: Os povos sul-americanos, incas e maias tinham a Terra como um organismo vivo, como se fosse qualquer ser vivo que a gente conhece. Então, era como se a Terra fosse a grande mãe ou Pachamama, como os peruanos gostam desse termo. Gaia é um ser vivo que provém tudo aquilo que a vida necessita. Então, Gaia tem um coração que seria o núcleo. Tem dispositivos de, vamos dizer assim, de demonstração de fúria, que seriam vulcões, terremotos, que vem da dinâmica mantélica. Aí, vem a parte da crosta terrestre, que é onde a gente vive. Gaia nos dá água, alimento. Então, Gaia essa entidade quase que mitológica, que representaria a Terra, que é mãe de tudo e que provê, conforme os seus humores.

Adrielen:  Essa é a dinâmica de Gaia, na voz de Adriana Alves que se conecta com um dos maiores pensadores de ecologia que o planeta já teve, Bruno Latour.

Não há chance de pensarmos em saúde da humanidade, se não pensarmos em saúde do planeta Terra.

 Estamos diante de uma escolha existencial, lembrou o filósofo francês no prefácio à edição brasileira do livro ‘’Diante de Gaia: oito conferências sobre a natureza no Antropoceno’’.

Sonoplastia – Sobe som instrumental

Thiago Regotto: “Gaia são todos os seres vivos e as transformações materiais que eles submeteram à geologia, desviando a energia do sol para benefício próprio. É nessa rede, nessas trajetórias de seres vivos, que alguns desses viventes – os viventes que somos, que se proclamam humanos, ou seja, pessoas feitas de terra, de húmus, de lama e de cinzas- encontram-se irreversivelmente emaranhados. Ou mantemos as condições que tornam a vida habitável para todos os que chamamos de terrestres, ou então não merecemos continuar vivendo.’’

🎵Sobe som🎵

Dr. Cruz: Boa noite, dona Terra, como a senhora se sente?

Terra: Doutor, me sinto muito fraca, cansada.

Dr. Cruz: Bem, isso é esperado. A senhora teve uma parada cardiorrespiratória, foi reanimada, e agora precisamos entender o que provocou esse sério colapso. A suspeita é de que seja realmente o Antropoceno.

Terra: Antropoceno? Eu já ouvi falar em ‘’Lixoceno’’, é a mesma coisa? Que doença é essa, Dr?

🎵Sobe som🎵

Adrielen: No segundo episódio, o diagnóstico, as causas e os sintomas do Antropoceno- tudo sobre o mal que tem levado a Terra ao esgotamento.

Sonoplastia – Sobe som trilha

Adrielen:Este é o S.O.S! Terra Chamando! O podcast sobre a saúde do planeta. Uma co-produção da Empresa Brasil de Comunicação e da Fundação Oswaldo Cruz.

Eu sou Adrieleen Alves, responsável pela idealização, roteiro e apresentação. A pesquisa e a produção são de Anita Lucchesi e Teresa Santos.

A edição de conteúdo é da Julianne Gouveia.

A revisão é da Ana Elisa Santana.

A locução de trechos do livro do Bruno Latour é do Thiago Regotto.

Fazem parte da comissão técno-científica: Carlos Machado de Freitas da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca; Carlos Henrique Assunção Paiva, Diego Vaz Bevilaqua, Dilene Raimundo do Nascimento, Magali Romero Sá, da Casa de Oswaldo Cruz; e Tereza Amorim Costa, do Museu da Vida Fiocruz, unidades da Fundação Oswaldo Cruz.

Os atores são Kailane Vinício e Pablo Aguilar.

O apoio à produção em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo, ficou por conta de Adriana Ribeiro e Victor Ribeiro. A operação de áudio é de Álvaro Seixas, Thiago Coelho e Reynaldo Santos, Thales Santos e Reinaldo Shiro.

A edição final e a sonoplastia são da Pipoca Sound.

Este episódio usa áudios de Simone Daflon, do Observatório Nacional; Dominichi Miranda de Sá, da Casa de Oswaldo Cruz e de Adriana Alves, do Instituto de Geologia da Universidade de São Paulo; Antonio Guterres, Chefe das Nações Unidas, além do acervo da Empresa Brasil de Comunicação.

 Até a próxima!

🎵 Vinheta de Encerramento 🎵

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