O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) oficializou nesta terça-feira (25) o reconhecimento do Ofício das Tacacazeiras da Região Norte como Patrimônio Cultural do Brasil. A decisão foi tomada durante a 111ª Reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, órgão que reúne técnicos e representantes da sociedade civil para deliberar sobre bens culturais materiais e imateriais.

Iphan reconhece Ofício das Tacacazeiras como Patrimônio Cultural do Brasil/Foto: Gov.br
Com a inscrição no Livro dos Saberes, o ofício das tacacazeiras passa a ter destaque nacional, reforçando a importância das mulheres amazônicas na preservação de tradições ligadas à culinária regional.
O tacacá, prato típico da Amazônia feito com tucupi, goma de mandioca, camarão seco, jambu e temperos variados, vai além da receita: compreende um conjunto de práticas agrícolas, técnicas culinárias, formas de sociabilidade e significados simbólicos. “É o reconhecimento dos saberes e tradições da região Norte. Valorizar essas práticas é valorizar o que é o Brasil”, destacou o presidente do Iphan, Leandro Grass.
Segundo o parecer técnico aprovado pelo conselho, o ofício surgiu em meio a crises econômicas e à falta de oportunidades formais de emprego. Mulheres da Região Norte, que não encontravam espaço no mercado de trabalho, passaram a comercializar alimentos de rua como forma de sustento e manutenção familiar.
Tacacá da Dora, um dos principais pontos de venda do produto no centro de Rio Branco. Foto: Cristian Raphael/FEM
O pedido de registro das tacacazeiras começou em 2010, conduzido pelo Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP) como parte de estudos sobre saberes da mandioca no Pará. Em 2024, o processo foi reforçado por pesquisa em parceria com a Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), que entrevistou mais de 100 tacacazeiras em Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.
A pesquisa revelou que quase 70% das pessoas que trabalham com tacacá são mulheres, muitas de meia-idade ou mais velhas, que aprenderam o ofício com mães, avós ou sogras e agora transmitem o conhecimento às novas gerações.
Com o registro oficial, o Iphan dará início à elaboração de um Plano de Salvaguarda, que inclui cinco eixos: gestão e empreendedorismo; acesso a matérias-primas; melhoria das condições de comercialização; divulgação cultural e gastronômica; e direito à cidade, garantindo melhores condições de infraestrutura nos pontos de venda.