Sindicatos reagem após treta de diretor com Taís Araújo: entenda

Sete sindicatos estaduais de artistas divulgaram uma nota conjunta em defesa de Taís Araújo e em resposta às declarações do presidente do Sated-RJ, Hugo Gross. As entidades afirmaram que não compactuam com discursos que minimizam ou negam o racismo estrutural e criticaram o dirigente por atacar a atriz após a denúncia feita por ela ao compliance da Globo.

A reação ocorre após a revelação de que Taís levou ao setor de compliance uma queixa sobre divergências com a autora Manuela Dias a respeito dos rumos da personagem Raquel na novela. Segundo o F5, a atriz buscava contribuir para o debate sobre a representação de pessoas negras nas produções da emissora.

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“É lamentável que o dirigente do Sated-RJ utilize um espaço público e de visibilidade para direcionar críticas a artistas, em vez de cobrar responsabilidade das estruturas empresariais e das produções que perpetuam a exclusão e a desigualdade”, diz o comunicado.

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Taís Araújo, de Vale Tudo

Reprodução/Instagram

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Manuela Dias e Taís Araújo viveram conflito nos bastidores de Vale Tudo

Globo

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Globo e Taís Araújo.

Reprodução/Internet.

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Ivan (Renato Góes) e Raquel (Taís Araujo) se casam no último capítulo de Vale Tudo

Reprodução/Globo

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Taís Araújo

Reprodução/Instagram @taisdeverdade

Os sindicatos também ressaltaram que o papel das entidades é “proteger trabalhadoras e trabalhadores”, e não deslegitimar denúncias de injustiças. “Cabe às entidades representativas promover o diálogo e a transformação social, e não reforçar narrativas preconceituosas ou relativizar o sofrimento de seus representados”, afirmaram.

A nota é assinada pelos Sateds de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Paraíba, além do Sindicato dos Profissionais da Dança do Rio de Janeiro (SPD-RJ).

A denúncia de Taís contra Manuela Dias

Segundo a Folha de S. Paulo, Taís Araújo procurou a autora Manuela Dias em agosto para discutir o rumo da personagem Raquel, em Vale Tudo. A atriz teria demonstrado desconforto com o fato de mais uma mulher negra ser retratada em meio a muito sofrimento e levou o caso ao compliance da Globo para fomentar o debate sobre representatividade.

O diálogo terminou em desentendimento. Manuela discordou das críticas e também chegou a registrar uma queixa contra Taís no compliance da emissora. A autora alegou quebra do código ético da empresa, já que Taís revelou publicamente a insatisfação com os rumos da personagem à revista Quem em agosto.

A atriz relatou a cobrança de movimentos negros dos quais participa, que se diziam decepcionados com a condução da trama. Manuela teria se incomodado com o fato de a atrista ter levado a questão racial para o debate. Ela é autora do filme Malês, lançado em outubro, sobre a Revolta dos Malês, o maior levante de pessoas escravizadas da história do país.

Reação do Sated-RJ

Em entrevista ao Metrópoles, Hugo Gross reforçou que não vê perseguição racial no caso e disse que “hoje, qualquer coisa é que o negro não teve chance”.

“Está reclamando de negros, porque não teve papel para negro. Hoje, qualquer coisa, é que o negro não teve chance. Vale Tudo teve três negros protagonistas. Tem que parar com isso, a vida não é isso. Qualquer coisinha ‘ah, porque o negro não tem voz’. Ninguém está pensando mais nisso, isso já passou milhões de anos atrás”, afirmou.

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Hugo Gross

O presidente do sindicato também defendeu que a Globo tem dado mais espaço a artistas negros. Entre 1994 e 2014, apenas 10% dos protagonistas das novelas da emissora eram negros, segundo estudo da UERJ. Em 2023, pela primeira vez, todas as novelas inéditas exibidas tiveram protagonistas negros.

“A Globo está colocando os negros para trabalhar, mais do que obrigação! Sempre teve chance e hoje tem melhor ainda. A leitura que o Sated tem é que tem que aceitar o que o autor está fazendo. O ator tem que executar e agradecer, né, se tiver essa humildade”, disse Gross.

Ele ainda se posicionou contra movimentos de inclusão racial e declarou não existir perseguição dentro do meio artístico.

“A gente tem que parar de humanizar essa história de qualquer coisa é negro. Hoje tem um movimento a favor disso que nem deveria ter, porque negro e branco é tudo igual. [Dentro da compliance] Não vai dar nada. Não existe perseguição racial. As pessoas estão banalizando isso. O ator não tem sexo, não tem cor. Ele leva alegria e faz você pensar. É isso que tem que ter. E principalmente: humildade!”, concluiu.