OpenAI no vermelho? Vazamento expõe cifras preocupantes da parceria com a Microsoft

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A OpenAI, dona do ChatGPT, opera com uma estrutura financeira mais cara e complexa do que parecia. É o que sugerem documentos vazados pelo blog Where’s Your Ed At e analisados pelo TechCrunch. Eles revelam valores bilionários em circulação entre a empresa e a Microsoft, tanto em pagamentos de participação na receita quanto em gastos operacionais

Os números sugerem que a startup gasta quantias abissais para rodar seus modelos de inteligência artificial (IA), bem acima do que estimativas públicas indicavam até agora.

Essas cifras expõem um contraste crescente entre o que a OpenAI diz faturar e o que os documentos deixam implícito. Eles também ajudam a entender por que a parceria com a Microsoft é tão central. E por que o debate sobre a sustentabilidade financeira da corrida da IA voltou a ganhar força no Vale do Silício. 

A leitura desses dados aponta para um cenário no qual a conta para manter o funcionamento de modelos avançados pode estar superando, e muito, o ritmo da geração de receita.

Como funciona o acordo financeiro entre OpenAI e Microsoft

A parceria entre OpenAI e Microsoft combina investimento bilionário, infraestrutura de nuvem e um sistema de compartilhamento de receita que vai e volta entre as duas empresas. 

Logos de OpenAI e Microsoft
Parceria entre OpenAI e Microsoft combina investimento bilionário, infraestrutura de nuvem e sistema de compartilhamento de receita (Imagem: Daniel Constante/Shutterstock)

Pelo acordo firmado após os mais de US$ 13 bilhões (R$ 69 bilhões, aproximadamente) investidos pela big tech, a OpenAI compartilha 20% de sua receita com a Microsoft – número mencionado nos documentos vazados, mas sem confirmação oficial. 

Esses repasses ajudam a remunerar o uso massivo do Azure, que sustenta praticamente toda a operação de IA da startup.

Em 2024, a Microsoft recebeu US$ 493,8 milhões (R$ 2,6 bilhões) em participação na receita da OpenAI. Nos primeiros três trimestres de 2025, esse valor já havia saltado para US$ 865,8 milhões (R$ 4,6 bilhões), segundo os documentos analisados. 

O detalhe relevante é que esses valores representam o net revenue share. Traduzindo: a quantia líquida repassada à Microsoft, depois de descontados internamente os royalties que ela mesma paga à OpenAI.

Isso acontece porque a relação não é de mão única. A Microsoft também devolve cerca de 20% do que ganha com o Bing – que usa modelos da OpenAI – e com o Azure OpenAI Service, que vende acesso corporativo ao GPT. 

Assim, enquanto a OpenAI paga à Microsoft pelo uso de computação e pelo acordo de receita, a Microsoft também paga à OpenAI pelas receitas geradas com seus próprios produtos. 

O resultado é uma engrenagem financeira complexa, difícil de acompanhar até para analistas experientes. E que torna mais nebulosa a estimativa real de quanto cada empresa de fato fatura nessa parceria.

O custo explosivo de rodar os modelos da OpenAI

Se a parceria financeira já é complexa, os gastos operacionais da OpenAI ajudam a explicar por que tanto dinheiro circula entre as duas empresas. 

Pessoa escrevendo pergunta no aplicativo do ChatGPT num celular
O maior gasto da OpenAI é em inferência – processo de computação necessário para geração de respostas em modelos/plataformas de IA (Imagem: Yarrrrrbright/Shutterstock)

O maior peso está na inferência, o processo de computação necessário para gerar cada resposta do ChatGPT ou de modelos usados por empresas via API. 

Esses custos são pagos majoritariamente em dinheiro vivo – ao contrário do treinamento, que costuma usar créditos concedidos pela própria Microsoft. E dependem quase totalmente da infraestrutura do Azure. Segundo os documentos vazados, essa conta cresceu em velocidade inédita.

Em 2024, a OpenAI gastou US$ 3,77 bilhões (R$ 20 bilhões) com inferência no Azure. Mas o número dispara quando olhamos para 2025: apenas nos nove primeiros meses do ano, o gasto já tinha atingido US$ 8,67 bilhões (R$ 46 bilhões). É mais que o dobro do total do ano anterior. 

Para efeito de comparação, reportagens anteriores estimavam algo próximo de US$ 2 bilhões em custos de inferência em 2024 e cerca de US$ 2,5 bilhões no primeiro semestre de 2025. 

Os documentos, porém, mostram que só o primeiro semestre de 2025 consumiu US$ 5,02 bilhões (R$ 27 bilhões), praticamente o dobro do que o mercado acreditava.

Esse salto expõe um problema estrutural: a expansão do uso dos modelos (seja no ChatGPT, seja na API corporativa) aumenta o custo operacional de maneira direta e agressiva. Quanto mais usuários, mais pedidos de resposta, mais instâncias de modelo sendo executadas, maior a conta de computação. 

Os documentos sugerem que o ritmo de crescimento da demanda pode estar ultrapassando a capacidade da OpenAI de transformar essa operação em margens saudáveis. Isso reforça dúvidas sobre a sustentabilidade de modelos tão grandes e tão dependentes de infraestrutura externa.

Receita da OpenAI pode ser menor do que a divulgada oficialmente

Os pagamentos de participação na receita permitem estimar, ainda que de forma indireta, quanto a OpenAI realmente faturou. E os números implícitos divergem bastante do discurso público. 

CEO da OpenAI, Sam Altman, falando em evento
Números implícitos da receita da OpenAI divergem bastante do discurso público da empresa de Sam Altman (Imagem: alprodhk/Shutterstock)

Pela lógica do acordo, no qual a OpenAI repassa 20% da receita à Microsoft, os US$ 493,8 milhões (R$ 2,6 milhões) transferidos em 2024 sugerem que a empresa gerou pelo menos US$ 2,47 bilhões (R$ 13 bilhões) naquele ano.

Esse valor fica bem abaixo dos US$ 3,7 bilhões (R$ 20 bilhões) a US$ 4 bilhões (R$ 21 bilhões) mencionados pela imprensa internacional. 

Até setembro de 2025, os US$ 865,8 milhões (R$ 4,5 bilhões) pagos à Microsoft implicam uma receita mínima de US$ 4,33 bilhões (R$ 23 bilhões), novamente distante das projeções divulgadas pela própria OpenAI.

Esse contraste ganha peso quando colocado ao lado da explosão dos custos de inferência. Se a OpenAI gastou US$ 3,77 bilhões para rodar seus modelos em 2024 (mais do que a receita implícita daquele ano, diga-se) e queimou US$ 8,67 bilhões em inferência apenas nos nove primeiros meses de 2025, a conta não fecha. 

Leia mais:

Em suma, os documentos vazados reforçam a hipótese de que a empresa opera no vermelho mesmo com o crescimento acelerado de usuários e contratos corporativos. 

Esse descompasso reacende um debate no mercado. Se a líder da corrida da IA ainda não consegue transformar escala em rentabilidade, o que isso significa para o resto do setor? E para o futuro do modelo de negócios da IA generativa? Pois é.

(Essa matéria usou informações do site TechCrunch e do blog Where’s Your Ed At.)