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Uma vida sexualmente ativa não se restringe a momentos de prazer e afeto, é um hábito considerado significativo pela medicina para melhora do sono, redução do estresse, fortalecimento do sistema cardiovascular, entre outras benesses. E, nesse sentido, o orgasmo é o ponto alto a ser conquistado.
No entanto, muitas pessoas podem apresentar a anorgasmia, uma disfunção sexual que pode impactar a saúde mental e a qualidade de vida.
A anorgasmia atinge com mais frequência as mulheres do que os homens. Especialistas apontam que o fator cultural e tabu em torno da questão do prazer feminino é uma das causas, bem como o desconhecimento de parte das mulheres sobre o próprio corpo e o seu funcionamento – prática também pouco estimulada socialmente.
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O que é a anorgasmia?

Antes de entendermos o que é a disfunção sexual, é importante se inteirar da complexidade que engloba esse ápice sexual. O orgasmo é um processo fisiológico e psicológico complexo. O cérebro, os órgãos genitais, e também outras regiões do corpo com alta sensibilidade, trabalham juntos com nervos e hormônios no direcionamento da resposta sexual.
Jerry Kennard, psicólogo da Sociedade Britânica de Psicologia, desmembra o ciclo orgástico em 4 fases: o desejo (libido), a chegada da excitação (emoção), o orgasmo (clímax) e a resolução, que são as sensações e sentimentos sentidos imediatamente após o sexo.
A anorgasmia, por sua vez, se caracteriza pela incapacidade de atingir o orgasmo, mesmo tendo estímulos sexuais e sentindo excitação – o que é diferente da assexualidade, que é a ausência voluntária de interesse em ter relações sexuais. Existem dois tipos principais de anorgasmia, a primária e a secundária.
A anorgasmia primária é caracterizada pelas pessoas que nunca conseguiram atingir o orgasmo. Já no caso da anorgasmia secundária, os casos são diferentes, tem a ver com pessoas que já experienciaram o orgasmo, mas por um episódio físico ou psicológico deixaram de ter.
Existem ainda outros dois tipos. Na anorgasmia situacional a pessoa só consegue atingir o orgasmo com determinado estímulo (masturbação, por exemplo) ou com determinada pessoa, ou preliminares bem específicas. E por fim existem os casos de anorgasmia induzida por medicamentos, alguns antidepressivos e remédios para ansiedade podem causar interferências no desejo sexual.
Segundo artigo divulgado pela publicação científica Research, Society and Development, que discute a fisioterapia como alternativa de tratamento para casos de anorgasmia relacionados a problemas no assoalho pélvico, existem ainda outras causas para o aparecimento da disfunção nas mulheres.

“A anorgasmia é uma situação clínica que acomete principalmente mulheres e tem origem por diversas causas, podendo estar relacionada a traumas, alterações físicas ou fisiológicas”, aponta o estudo.
Além disso, quando as mulheres entram na menopausa há uma queda no hormônio estrogênio, o que pode causar a perda da libido e a anorgasmia. A cirurgia de histerectomia (remoção do útero) e doenças como a endometriose também podem desencadear o quadro.
Referente às causas psicológicas, elas atingem tanto homens quanto mulheres. Quadros de ansiedade, depressão, problemas financeiros, visão negativa em relação ao sexo devido à educação religiosa ou cultural repressiva e abusos sexuais estão entre os principais gatilhos da disfunção.
Embora os homens em geral tenham uma educação que estimula a prática sexual, alguns deles também desenvolvem a anorgasmia. O urologista Juliano Plastina alerta que é importante diferenciar disfunção erétil de anorgasmia masculina.
“A anorgasmia não deve ser confundida com ejaculação retardada ou com disfunção erétil. No caso da ejaculação retardada, o orgasmo acontece, mas demora muito mais do que o esperado. Já na disfunção erétil, há dificuldade em manter uma ereção adequada. Na anorgasmia, por outro lado, o orgasmo simplesmente não ocorre, ou ocorre sem prazer, mesmo que haja ereção e até ejaculação”, explica o médico.
A anorgasmia pode afetar a autoestima, gerando insegurança e pode gerar sintomas de depressão por não conseguir alcançar o desempenho sexual desejado. As relações sexuais e mesmo os parceiros que não possuem a disfunção também são afetados. Caso não haja busca por tratamento, pode haver desgaste da intimidade do casal, afastamento afetivo e discussões.
Quais são os tratamentos?

O tratamento para a anorgasmia é bastante complexo e não tem uma receita pronta para todos os casos. A abordagem deve ser específica e individualizada, e geralmente requer um tratamento multidisciplinar, que pode incluir administração de medicamentos, terapia sexual, terapia de casal, entre outras alternativas.
Independente disso, é válido buscar outros tipos de estímulos como brinquedos sexuais, ou inovar e variar as preliminares, por exemplo, com o parceiro para estimular o corpo e o cérebro de outras maneiras.
A autoinvestigação, independente de um parceiro, também é importante para descobrir zonas erógenas no corpo que ainda não tenham sido exploradas. Afinal, a sexualidade também é uma questão de saúde e bem-estar.
“O orgasmo não é apenas o final prazeroso da relação sexual: ele tem papel na saúde física e mental. Durante o clímax, o corpo libera endorfinas e ocitocina, hormônios ligados ao prazer, relaxamento e bem-estar. A ausência desse momento pode trazer consequências importantes”, alerta Plastina.
