“Negro e branco é tudo igual”, diz Sated sobre denúncias de Taís Araújo

Hugo Gross, presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado do Rio de Janeiro (Sated-RJ), opinou sobre a denúncia de Taís Araújo ao compliance da TV Globo contra Manuela Dias, após o caminho escolhido para a personagem Raquel na novela Vale Tudo.

Em conversa com o Metrópoles, nesta quarta-feira (5/11), Gross minimizou a denúncia da atriz e afirmou que tudo não se trata de “vaidade”. Para ele, a autora tem direito de escrever para quem achar melhor, além de garantir que não existem questões raciais envolvidas.

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“Está reclamando de negros, porque não teve papel para negro [em Vale Tudo]. Hoje qualquer coisa é que o negro não teve chance. Vale Tudo teve três negros protagonistas. Tem que parar com isso, a vida não é isso. Qualquer coisinha ‘ah, porque o negro não tem voz’. Ninguém está pensando mais nisso, isso já passou milhões de anos atrás. A gente está aqui para agregar, para crescer. Qualquer coisinha vão falar que é negro, que ofende”, disparou.

Gross ainda apontou que a TV Globo sempre deu oportunidades para pessoas negras em novelas. Entre 1994 e 2014, no entanto, apenas 10% dos personagens principais em novelas da emissora eram negros, segundo estudo da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

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Taís Araújo, de Vale Tudo

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A atriz Taís Araújo

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Lázaro Ramos e Taís Araújo dão beijão

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Lázaro Ramos e Taís Araújo posam durante viagem

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Lázaro Ramos e Taís Araújo posam sorridentes para as redes sociais

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Somente em 2023 que o cenário começou a mudar: foi a primeira vez na história da emissora que todas as novelas inéditas em exibição na TV tiveram protagonistas negros.

“A Globo está colocando os negros para trabalhar, [isso é] mais do que obrigação! Sempre teve chance e hoje tem melhor ainda. A leitura que o Sated tem é que tem que aceitar o que o autor está fazendo. O ator tem que executar e agradecer, né, se tiver essa humildade”, alega Gross.

“Negro e branco é tudo igual”

Questionado se a denúncia de Araújo pode render problemas para alguma das partes, Gross disse acreditar que não. “Achar que o negro não foi aproveitado, essa falácia. Tem três protagonistas negros e ela escreve para quem achar melhor”, afirmou.

“A gente tem que parar de humanizar essa história de qualquer coisa é negro. Hoje tem um movimento a favor disso que nem deveria ter, porque negro e branco é tudo igual. Não existe perseguição racial. As pessoas estão banalizando isso. O ator não tem sexo, não tem cor, ele leva alegria e faz você pensar, e principalmente: humildade!”, finalizou.

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Hugo Gross

A denúncia ao compliance

De acordo com a página F5, da Folha de S. Paulo, a atriz procurou Manuela em agosto para discutir o desenvolvimento da personagem. Taís teria expressado incômodo com o fato de Raquel ser mais uma mulher negra retratada em meio a muito sofrimento, e afirmou não estar satisfeita com a condução da trama.

A artista também relatou que vinha sendo cobrada por integrantes de movimentos negros dos quais participa, que se diziam decepcionados com a forma como a personagem era retratada.

A conversa acabou resultando em uma discussão entre as duas. Manuela Dias discordou das críticas e, após o episódio, Taís levou o caso ao compliance da Globo, com o objetivo, segundo fontes, de contribuir para o debate sobre a representação de pessoas negras nas produções da emissora.

Ainda segundo o F5, a atriz também reclamou que a personagem vinha perdendo espaço na novela. Em setembro, o veículo apontou que Raquel aparecia em poucas cenas, muitas delas ligadas a ações de merchandising.

O atrito entre as duas ocorreu antes da entrevista de Taís à revista Quem, em agosto, na qual ela revelou publicamente a insatisfação com os rumos da personagem. A fala teria desagradado Manuela, que então registrou a própria queixa contra a atriz no compliance da Globo, alegando quebra do código ético da empresa.

Manuela teria ficado especialmente incomodada por Taís ter levado a questão racial para o debate. A autora, que também é engajada em pautas raciais, escreveu o filme Malês, lançado em outubro, sobre a Revolta dos Malês – maior levante de pessoas escravizadas da história do Brasil.

Desde a discussão, as duas não mantêm contato. Pessoas próximas a Taís afirmam que ela não guarda mágoa pessoal da autora e que a intenção dela é promover mudanças internas na emissora sobre a forma de retratar personagens negros nas novelas.

Manuela, Taís e a Globo não comentaram oficialmente sobre o assunto. O espaço segue aberto.