Siga o Olhar Digital no Google Discover
Na última semana, o Olhar Digital noticiou que cientistas haviam identificado uma mudança de cor no cometa interestelar 3I/ATLAS, além de uma aceleração causada por fatores além da gravidade. A suposta alteração de cor foi descartada como falsa impressão, e agora a aceleração extra ganha explicação em um artigo disponível no servidor de pré-impressão arXiv, onde aguarda revisão de pares.
Terceiro objeto interestelar confirmado a passar pelo Sistema Solar, depois do asteroide 1I/‘Oumuamua, em 2017, e do cometa 2I/Borisov, em 2019, o 3I/ATLAS foi detectado pela primeira vez oficialmente em 1º de julho de 2025. Não demorou para que a natureza cometária do corpo celeste fosse confirmada – ele exibia as características típicas de um cometa: um núcleo gelado e rochoso, uma coma brilhante e as caudas de poeira e íons formadas pela ação do Sol.
Em resumo:
- O cometa interestelar 3I/ATLAS apresentou uma aceleração não explicada pela gravidade;
- Estudo investigou se gases internos poderiam causar esse impulso;
- A conclusão é que a desgaseificação é capaz de explicar a aceleração observada;
- Simulações indicaram que menos de 1% da superfície do objeto é ativa;
- Observações do radiotelescópio MeerKAT detectaram liberação de água;
- Estima-se que o 3I/ATLAS guarde pistas sobre a origem de sistemas planetários.

Suspeitas se confirmaram sobre aceleração “turbo” do 3I/ATLAS
Um estudo disponibilizado para revisão de especialistas no fim do mês passado descobriu que o visitante está acelerando de forma que não pode ser explicada apenas pela gravidade. Essa “aceleração não gravitacional” foi medida a cerca de 203 milhões de km de distância da estrela.
Esse tipo de variação de velocidade normalmente ocorre quando gases aprisionados no interior do cometa se aquecem e escapam, agindo como pequenos jatos que impulsionam o corpo no espaço.
O engenheiro de computação, mestre em física e doutor em ciência da computação Florian Neukart, professor do Instituto de Ciência da Computação Avançada de Leiden (LIACS) da Universidade de Leiden, na Holanda, resolveu investigar se essa aceleração poderia ser explicada pela liberação comum de gases voláteis – como monóxido e dióxido de carbono – ou se seriam necessários materiais mais exóticos. Segundo seus cálculos, a explicação realmente é a mais simples: a desgaseificação natural é suficiente para justificar o movimento acelerado.

Ele observou que algumas teorias mais incomuns, propostas em casos semelhantes, envolvem a ação da pressão da luz solar sobre corpos extremamente leves ou até a presença de tecnologias artificiais. Mas sua pesquisa mostra que tais hipóteses não são necessárias. “Um mecanismo convencional impulsionado por voláteis reproduz tanto a magnitude quanto a direção da aceleração”, afirma o pesquisador.
Neukart utilizou simulações termofísicas e o método estatístico de Monte Carlo para testar diferentes combinações de gases e temperaturas. Os resultados mostraram que apenas uma pequena fração da superfície do cometa – menos de 1% – precisaria estar ativa para gerar o impulso observado. Substâncias como amônia e metano, isoladamente, não produziriam força suficiente, mas podem contribuir em misturas de gelo.
Leia mais:
- Nova imagem mostra que cauda iônica do cometa 3I/ATLAS não para de crescer
- Cometa 3I/ATLAS pode não ser mais o mesmo (e isso deixa origem em segredo para sempre)
- Acompanhe o visitante interestelar 3I/ATLAS em tempo real pela internet
Não há nada sobrenatural – é pura física
Com isso, o estudo de Neukart reforça que não há necessidade de recorrer a explicações exóticas ou não físicas para entender o comportamento do 3I/ATLAS. O pesquisador conclui que “um mecanismo puramente físico, impulsionado por voláteis, é suficiente para explicar a aceleração não gravitacional inferida”. Ainda assim, ele ressalta que novas observações serão necessárias para confirmar o modelo e entender melhor o processo.
Enquanto isso, o 3I/ATLAS segue sendo monitorado. Recentemente, o radiotelescópio sul-africano MeerKAT detectou moléculas de hidroxila (OH) na atmosfera do cometa – um sinal claro de liberação de água por superaquecimento.

Ao site IFLScience, a astrônoma Cyrielle Opitom, da Universidade de Edimburgo, na Escócia, a presença de OH é típica de cometas ativos. “Isso significa que o cometa está liberando água atualmente, o que é esperado para um cometa que acabou de passar pelo ponto mais próximo do Sol. A água não foi detectada em observações anteriores com o mesmo telescópio, mas isso não é muito surpreendente, já que ele estava mais distante do Sol (produzindo, portanto, menos água) e mais fraco, tornando sua detecção muito mais difícil. Mas a água já havia sido detectada com outros telescópios anteriormente”.
Por vir de fora do Sistema Solar, o 3I/ATLAS pode conter material preservado há bilhões de anos, oferecendo pistas sobre a formação de planetas em outros sistemas estelares. À medida que ele atravessa o céu e volta às origens, novas análises deverão revelar mais detalhes sobre essa rara e enigmática visita cósmica.
