Marcha dos Povos pede para ser ouvida pelos negociadores da COP30

O povo espera e exige ser ouvido nas negociações climáticas da COP30. Esse foi o recado dado pelos movimentos sociais e comunidades de todo o mundo que participaram da Marcha dos Povos pelo Clima realizada neste sábado (15) em Belém. A mobilização levou dezenas de milhares de pessoas a percorrer as ruas centrais da capital paraense com faixas, cartazes, bandeiras, fantasias e alegorias, em meio a discursos e palavras de ordem por justiça climática.

Entre as principais reivindicações da manifestação estavam a extinção dos combustíveis fósseis, o fim do financiamento público ao agronegócio, a demarcação de terras indígenas e quilombolas e a retirada dos invasores desses territórios. Artur Colito, da coordenação estadual do Movimento de Atingidos por Barragens no Pará, afirmou que as negociações climáticas oficiais precisam considerar as ideias e anseios dos movimentos populares.

“As soluções climáticas ela vem de quem já defende as florestas, de quem já protege os biomas, de quem está nos territórios, e muitas vezes é atacado por essas falsas negociações, ou negociações que têm muito mais interesses corporativos do que interesses de fato de preservação do meio ambiente. A gente fala que defender a Amazônia é defender a vida. Já tem pessoas, comunidades tradicionais, indígenas, originários, quilombolas, entre outras, que estão se organizando”.

O Movimento Negro Unificado também participou da Marcha dos Povos pelo Clima. O grupo ressaltou que as consequências da crise climática atingem principalmente as populações que vivem em locais de risco, majoritariamente negras. Marcelino Conti, coordenador estadual do movimento, também lembrou que os povos quilombolas, assim como os indígenas, são os principais responsáveis por proteger as áreas de floresta e mata nativa.

Belém (PA), 14/11/2025 - Marcha Global pelo Clima, evento paralelo à COP30. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

“Aonde tem quilombo não tem garimpo. Onde tem quilombo não tem madeireiro. Não tem desmatamento. A gente não precisa de uma COP30 pra ensinar pra gente como é que a gente vai preservar essa floresta. Eles estão aqui pra fazer um mercado. Transformar nossa floresta numa mercadoria e monetizar em cima disso. Nós estamos há duzentos anos protegendo essa floresta. Os negros que vieram pra cá escravizados”.

A quilombola Daniele Abreu, da comunidade Bandeira Branca em Inhangapi, no Pará, ressaltou que os territórios quilombolas estão sendo afetados pela pressão da atividade agropecuária extensiva.

“Lá no nosso quilombo, estamos tentando preservar a reserva que ainda existe. Porque muitos rios estão secando. Peixes estão morrendo. Na minha região, são os fazendeiros que estão derrubando, fazendo desmatamento, sem pensar que isso tá degradando o meio ambiente e acabando com a vida dos animais, dos peixes e da floresta”.

A Marcha dos Povos pelo Clima em Belém foi marcada por uma forte presença de povos originários, tanto do Brasil quanto de outros países. Taywade Juruna, da comunidade indígena do Pacajaí, alertou que o território em que seu povo vive já sofre consequências tanto da crise climática quanto de empreendimentos econômicos instalados na região.

“A nossa comunidade é afetada diretamente. Porque lá, foi construído o Belo Monte. Essa questão climática afetou diretamente lá ainda mais. O nosso rio lá secou. Lá não tem piracema mais, não tem igapó. Os peixes lá acabaram. É dizer que nós existimos, resistimos e não queremos mais esses empreendimentos que matam, que destroem o nosso meio ambiente”.

Belém (PA), 14/11/2025 - Marcha Global pelo Clima, evento paralelo à COP30. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

A manifestação pelas ruas de Belém começou por volta das 10h no Mercado São Brás e encerrou perto do meio-dia na Aldeia Amazônica. Os participantes permaneceram no local de encerramento ainda por muitas horas em atividades de protesto. A Marcha dos Povos pelo Clima é uma das atividades que marcam o encerramento da Cúpula dos Povos, organizada em paralelo à COP30 por mais de mil movimentos sociais da cidade e do campo, povos indígenas e quilombolas, do Brasil e de vários países do mundo.