Povos indígenas de todos os países da América do Sul participaram neste sábado (15) da Marcha Mundial pelo Clima, que reuniu cerca de 70 mil pessoas nas ruas de Belém, durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30).

Apesar das particularidades e desafios regionais, eles uniram as vozes para pedir que seus direitos sejam respeitados e territórios tradicionais sejam demarcados.
Cristian Flores, da Bolívia, integra a Plataforma Boliviana Frente à Mudança Climática e participa da Cúpula dos Povos. Ele explica que a presença da sociedade civil é essencial para garantir que a voz dos povos originários seja ouvida durante as negociações oficiais da COP30.
Segundo ele, os povos enfrentaram muitos obstáculos para participar das discussões, que acabam sendo dominadas por delegados e representantes oficiais.
“As COPs acabam sendo espaços muito elitistas, unicamente para os delegados dos países membros da ONU, que, no final de tudo, tomam decisões importantes sem escutar devidamente a sociedade civil”, disse o ativista indígena.
Flores veio da capital boliviana, La Paz, e relata que a delegação está no Brasil desde o dia 4 de novembro, acompanhando o fóruns de discussão indígenas, e vai permanecer no país até o dia 21. Ele disse que, apesar do calor forte que faz em Belém, os dias têm sido felizes, porque o povo brasileiro os acolheu de maneira muito carinhosa.
Sobre a Cúpula dos Povos, Flores considera o espaço fundamental, mas destaca que ainda há avanços a fazer.
“É necessário trabalhar muito mais para que as nossas propostas não permaneçam apenas como demandas, mas que também se convertam em ações concretas para garantir os direitos dos povos”, disse Flores.
União indígena
Cahuo Boya, liderança do povo Wairani, no Equador, veio a Belém acompanhado de um grupo de indígenas para reforçar a voz da Amazônia, das mulheres, dos homens e dos anciãos. Segundo ela, as comunidades enviam energia e força para que os representantes possam falar em nome do território.
Ela denuncia que o governo do Equador não cumpriu sua obrigação de respeitar a consulta popular realizada sobre atividades extrativistas nos territórios onde vivem.
“O Estado equatoriano deveria respeitar as nossas reivindicações, ouvir as nossas vozes. Mas, até hoje, não conseguimos obter nenhuma resposta do governo”, disse o ativista indígena.
Boya destaca que os impactos do petróleo e da mineração atingem territórios indígenas em toda a Amazônia, e que é preciso criar uma agenda comum.
“Chegamos aqui para nos unir com os demais povos indígenas da América do Sul e do mundo. Queremos ocupar esses espaços nas ruas e nos centros de decisão para que sejamos ouvidos. Merecemos respeito do Estado equatoriano e dos organismos internacionais”, disse Boya.
