Golpe das canetas emagrecedoras: dupla é presa por falsificar medicamentos populares

Investigação revelou produção clandestina e venda irregular mesmo após a proibição da Anvisa

Dois homens foram detidos e levados à delegacia após policiais militares apreenderam uma grande quantidade de ampolas com substâncias utilizadas na fabricação de canetas emagrecedoras, em São Mateus, zona leste de São Paulo, na manhã da última quinta-feira (30/10).

A dupla fabricava os dispositivos de maneira clandestina, colocando em risco a saúde da população/Foto: Reprodução

A dupla fabricava os dispositivos de maneira clandestina, colocando em risco a saúde da população.

A PM chegou ao local após denúncias anônimas e informações repassadas pela Agência Regional do CPA/M-9, que indicavam o transporte irregular de produtos controlados na região.

Dois veículos foram abordados e vistoriados. Em um deles, os agentes encontraram diversas ampolas contendo substâncias de uso controlado.

Durante a abordagem, os suspeitos admitiram que utilizavam o material para produzir e comercializar canetas emagrecedoras de forma clandestina, adquirindo os produtos no mercado paralelo e revendendo-os após o fracionamento e embalagem, informou a PM.

Os veículos e os materiais foram apreendidos. A dupla foi encaminhada ao 49º Distrito Policial (DP), de São Mateus, onde o caso foi registrado. Os dois homens permaneceram à disposição da Justiça.

Anvisa proíbe manipulação de canetas emagrecedoras

Em 25 de agosto, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu a manipulação de medicamentos agonistas de GLP-1, como Ozempic, Wegovy e Mounjaro, indicados para o tratamento da diabetes tipo 2 e perda de peso. A decisão faz parte das novas regras para importação e manipulação de insumos farmacêuticos usados nas “canetas emagrecedoras”.

A decisão foi formalizada no Despacho nº 97/2025, acompanhado da Nota Técnica nº 200/2025, e busca reduzir riscos sanitários em meio ao crescimento da procura por essas substâncias.

Segundo a agência, insumos de origem biotecnológica só poderão ser importados por empresas devidamente autorizadas e desde que se trate do mesmo insumo farmacêutico ativo (IFA) já analisado no processo de registro do medicamento de referência.

Nesse cenário, farmácias de manipulação não podem importar diretamente esses insumos e, quando utilizarem o material adquirido de importadoras, deverão comprovar a realização de testes mínimos de controle de qualidade e seguir normas rígidas de preparação estéril.

No caso da semaglutida, princípio ativo do Ozempic e do Wegovy, a Anvisa foi categórica: a manipulação não está autorizada no Brasil.

Já em relação a insumos obtidos por síntese química, a manipulação só será possível quando houver no país um medicamento registrado com a mesma molécula. Atualmente, não existe nenhuma forma sintética de semaglutida registrada, o que torna inviável sua manipulação.

A agência também determinou que todas as etapas de importação desses insumos biotecnológicos passem por análise no chamado “Canal Amarelo”, exigindo relatórios de qualidade dos fabricantes internacionais.

A regra teve apoio de entidades médicas como a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) e a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), que consideraram a restrição um avanço no uso seguro dessas terapias.

Metrópoles