Um grupo internacional de cientistas encontrou, na Antártida, o gelo mais antigo já datado. As amostras, retiradas da região das Allan Hills, no leste do continente, contêm bolhas de ar aprisionadas há cerca de 6 milhões de anos. As informações são do portal IFLScience.
Esses pedaços de gelo não são apenas água congelada: neles estão minúsculas bolhas que revelam como era o ar da Terra há milhões de anos. Ao analisar a composição química desse ar aprisionado, os pesquisadores conseguem identificar pistas sobre a temperatura global, os níveis de gases e as condições climáticas do passado remoto.
Pedaços de gelo que funcionam como “cápsulas do tempo”
“Os núcleos de gelo funcionam como máquinas do tempo que nos permitem observar o planeta em outras eras”, explica Sarah Shackleton, do Woods Hole Oceanographic Institution, uma das líderes do estudo. “As amostras das Allan Hills nos levam muito mais longe no tempo do que imaginávamos ser possível”.

Em 2024, pesquisadores europeus conseguiram perfurar uma camada contínua de gelo com 1,2 milhão de anos. No entanto, o material coletado agora nas Allan Hills, embora não seja contínuo, ultrapassa em milhões de anos qualquer outro registro até hoje.
“Nós sabíamos que o gelo daquela região era antigo”, afirmou Ed Brook, diretor do COLDEX e paleoclimatologista da Universidade Estadual do Oregon. “Esperávamos encontrar amostras com cerca de 3 milhões de anos, talvez um pouco mais, mas o resultado superou todas as expectativas.”
Perfuração e pesquisa
Para alcançar esse gelo pré-histórico, a equipe perfurou entre 100 e 200 metros de profundidade nas bordas da camada de gelo antártica. Nesses locais, o relevo montanhoso e o movimento lento do gelo empurram naturalmente as camadas mais antigas para mais perto da superfície, dispensando perfurações muito mais profundas.

Os cientistas ainda investigam as condições que permitem a preservação de um gelo tão antigo próximo da superfície. “Provavelmente é uma combinação de ventos fortes e frio extremo”, explica Shackleton. “O vento remove a neve nova, e o frio desacelera o fluxo do gelo, mantendo as camadas antigas quase imóveis.”
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A equipe analisou os isótopos químicos presentes nas bolhas de ar. As medições indicaram que, nos últimos 6 milhões de anos, a região passou por um resfriamento de cerca de 12 °C. Esse dado que reforça outras evidências de que a Terra era significativamente mais quente naquela época.
