Estreia da Keeta no Brasil tem queixas, protesto e investigação policial

A estreia do aplicativo de delivery Keeta no Brasil foi turbulenta. Com pouco mais de uma semana de operação-piloto em Santos e São Vicente, no litoral paulista, o serviço – controlado pela gigante chinesa Meituan – tem enfrentado reclamações de entregadores, protestos e uma investigação policial por suposta espionagem industrial.

A empresa chegou ao país prometendo investir R$ 5,6 bilhões e desafiar o domínio do iFood, que concentra mais de 80% do mercado de entregas. Mas os primeiros dias foram marcados por denúncias de pagamentos baixos, polêmicas sobre bloqueios de entregadores e críticas ao modelo de terceirização usado para organizar as corridas.

Queixas e bloqueios marcam estreia da Keeta no Brasil

A operação-piloto da Keeta em Santos e São Vicente mal começou e já motivou protestos de entregadores. As principais reclamações envolvem pagamentos abaixo do esperado, falta de transparência e bloqueios automáticos aplicados a quem recusa corridas. 

Entregador da Keeta segurando sacolinha da marca com uma mão e celular com aplicativo da marca aberto na outra, ao lado de moto com mochilona também da marca
Estreia na Keeta no Brasil foi marcada por protestos de entregadores (Imagem: Divulgação/Keeta)

Em prints compartilhados em grupos de WhatsApp, entregadores relataram que até clientes insatisfeitos podiam pedir a suspensão de um profissional, sem que ele fosse avisado. 

Após a repercussão, a empresa afirmou que o recurso foi desativado e que ele “esteve brevemente disponível durante as operações-piloto”.

Além dos valores baixos, os trabalhadores apontam problemas no modelo de Operadores Logísticos (OLs) adotado pela Keeta para organizar as entregas nas cidades. 

Nesse formato, os motoboys e ciclistas são contratados por terceirizadas, que definem turnos, áreas de cobertura e pagamentos. 

O Ministério Público do Trabalho considera esse arranjo uma forma de terceirização irregular, por submeter entregadores a metas e horários típicos de vínculo empregatício, mas sem os direitos garantidos pela CLT.

Em nota ao UOL, a Keeta informou que 60% dos entregadores em Santos e São Vicente atuam de forma independente, sem ligação com operadores logísticos. 

A empresa também disse ainda que as taxas pagas seguem o padrão de mercado – R$ 7,50 para motociclistas e R$ 7 para ciclistas – e que um bônus de R$ 5 por entrega foi oferecido durante o lançamento. 

A companhia afirma ainda acompanhar o “cenário econômico local” e avaliar possíveis ajustes no modelo de remuneração. O Olhar Digital pediu um posicionamento à empresa e vai incluí-lo nesta matéria, caso chegue.

A chegada da Keeta ao Brasil também acarretou uma batalha judicial contra a rival 99Food, que voltou a operar no Brasil em 2025. 

Chegada da Keeta ao Brasil acarretou batalha judicial contra a 99Food (Imagem: Divulgação/99Food/Keeta)

A empresa chinesa acusou a concorrente de concorrência desleal, alegando que ela teria fechado acordos de exclusividade com restaurantes para impedir que firmassem contratos com a Keeta. 

Em decisão publicada em outubro, o Tribunal de Justiça de São Paulo considerou ilícitas essas cláusulas e determinou sua remoção dos contratos.

A 99Food negou qualquer irregularidade. E afirmou ao Olhar Digital que os acordos de “exclusividade parcial” visam proteger seus investimentos num setor dominado pelo iFood.

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Caso de espionagem aprofunda tensão no mercado de delivery

Um episódio policial também marcou a estreia da Keeta no Brasil. A Polícia Civil de São Paulo investiga um caso de suposta espionagem corporativa contra o aplicativo chinês. 

Segundo a Folha de S.Paulo, ao menos oito pessoas são suspeitas de se passarem por funcionárias da empresa para acessar sistemas internos em restaurantes e fotografar telas com dados confidenciais. As autoridades apuram os crimes de falsa identidade e concorrência desleal.

Em nota ao jornal, a Keeta informou que os suspeitos buscavam informações estratégicas de negócios, como modelos de contrato, prazos de pagamento e taxas cobradas. A empresa nega qualquer envolvimento e diz cooperar com as investigações.

O Olhar Digital também pediu um posicionamento da empresa sobre isso.