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Esperança no Ártico: “bomba de metano” pode não ser tão grave quanto se pensava

Esperança no Ártico: “bomba de metano” pode não ser tão grave quanto se pensava

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As mudanças climáticas geram uma preocupação extra no Ártico. Conforme as temperaturas aumentam e o gelo derrete, expõem uma camada de solo acima do permafrost composta por micróbios que transformam carbono em metano, um gás até 30 vezes mais poluente. O resultado seria uma verdadeira “bomba de metano“.

Um estudo publicado recentemente na Communications Earth and Environment trouxe uma nova esperança nesse assunto. O trabalho revelou que a produção de metano nessa camada pode não ser como esperado. Pelo contrário, pode até ajudar a reduzir os níveis de carbono.

O aquecimento global que provoca o derretimento do gelo nas regiões polares da Terra preocupa cientistas. Para além da perda desses biomas e do aumento no nível do mar, a perda no Ártico, especificamente, gerava um alerta extra.

Uma camada do permafrost (trecho de gelo permanentemente congelado) contém micróbios que metabolizam carbono e o transformam em dióxido de carbono e metano – esse segundo, ainda mais danoso ao efeito estufa. E conforme mais carbono é liberado na atmosfera, mais é absorvido e transformado em metano nessa camada, num ciclo de retroalimentação.

A preocupação é de que, quando esse trecho do solo for exposto com o derretimento do gelo, essa verdadeira “bomba de metano” seja liberada no ar.

Micróbrios estudados ficam acima do permafrost, camada de gelo permanentemente congelada (Imagem: Communications Earth and Environment/Reprodução)

Uma nova esperança para o Ártico

O estudo trouxe uma nova esperança. A equipe responsável catalogou os tipos de micróbios encontrados no solo do permafrost em várias regiões do Ártico, como Canadá, Groenlândia e Sibéria. O objetivo era ter uma visão mais clara da biodiversidade de seres vivos no local e como eles agem diante do aquecimento global.

Então, eles realizaram análises genômicas do microbioma de oito amostras de permafrost e solo pan-árticos, além de amostras de permafrost já degradada perto de Fairbanks, no Alasca. Eles analisaram especificamente micróbios, como bactérias e arqueias, que liberam ou consome metano.

A resposta foi positiva. Os pesquisadores descobriram que a diversidade de micróbios associados ao metano é menor do que se pensava. Além disso, em certas condições, pode haver mais organismos que consomem o metano do que aqueles que produzem.

Entre os que consomem o metano (chamados metanotróficos), um único gênero, o Methylobacter, dominou as amostras de todos os locais. Essas bactérias são encontradas em praticamente todo o Ártico.

Ou seja, no final das contas, em vez de criar um gás novo e mais poluente, pode ser que os micróbios estejam diminuindo os níveis de carbono.

Pesquisa comparou permafrost preservado com trechos já degradados pelo aquecimento global (Imagem: Communications Earth and Environment/Reprodução)

Os pesquisadores também analisaram amostras do permafrost degradado em duas situações: áreas úmidas e secas.

As amostras de locais úmidos apresentaram mais micróbios que produzem metano (metanogênicos), que prosperavam nas condições de falta de oxigênio. Já os locais mais secos tinham predominância de micróbios que consomem metano (metanotróficos), incluindo uma variedade capaz de capturar o metano do ar em transformá-lo em dióxido de carbono (que, apesar de poluente, é menos potente).

Segundo Tim Urich, coautor do estudo e microbiologista da Universidade de Greifswald (Alemanha), ao Eos.org, isso mostra que o Ártico mais quente e seco pode ser uma vantagem para as mudanças climáticas. No caso de um ambiente seco, o solo absorve o carbono e o transforma em um gás menos poluente, não a bomba de metano que se esperava.

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Os resultados dão uma nova esperança para o futuro do Ártico, mas ainda deixam dúvidas:

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