Parem de nos matar. A frase estava em cartazes e foi repetida com frequência por lideranças na Marcha Global dos Povos Indígenas nesta segunda-feira (17), em Belém. No ato, houve solidariedade, em especial, ao assassinato de Vicente Fernandes Vilhalva Kaiowá, de 36 anos, atingido por um tiro na cabeça durante um ataque armado à retomada Pyelito Kue, no município de Iguatemi, Mato Grosso do Sul, neste domingo.

Outros quatro indígenas, entre eles adolescentes e uma mulher, ficaram feridos por arma de fogo ou balas de borracha. A comunidade relatou que os pistoleiros tentaram levar o corpo de Vicente, o que foi impedido pelos indígenas.
Vilma Vera Caletana Rios, do povo Avá Guarani, aldeia Guasu Gauavira, no Paraná, mostrou indignação pelo assassinato do Guarani Kaiowá e cobrou punição para os responsáveis.
Vilma Vera Caletana Rios mostra indignação pela morte de Vicente Fernandes em Mato Grosso – Bruno Peres/Agência Brasil
“Mais um indígena, mais uma liderança, mais um homem assassinado no seu território. Quando a gente fala de justiça climática, não podemos esquecer de fazer justiça pelas pessoas que já foram assassinadas nos seus territórios. Não podemos nos calar diante de uma violência tão grande”, disse Vilma.
Paulo Macuxi, coordenador do Conselho Indígena de Roraima (CIR), endossou o discurso da companheira de luta e a crítica pela falta de ação da justiça.
“Nossos parentes estão sendo assassinados e isso não vai ficar barato. Isso não pode ficar como se fosse algo comum. Alguém tem que ser responsabilizado, alguém tem que ser punido porque são vidas sendo perdida, dia após dia, e ninguém faz nada. Os órgãos são incompetentes, ninguém faz nada para sanar essas nossas dores”, disse Macuxi.
Nadia Tupinambá, do território indígena de Olivença, no sul da Bahia, exigiu que as autoridades tenham mais respeito pelo “sangue derramado de todos os ancestrais”.
“Estamos aqui para dizer: ‘parem de nos matar’. Parem de matar nossas florestas. Parem de vender nossos rios. Enfrentamos muitas lutas, mas não vamos desistir”, disse Nádia.
“Na COP30, eles estão falando de clima, mas não estão falando de demarcação do nosso território, onde nosso povo está perdendo vida, onde tem criança, mulher e indefeso sendo atacado, até pela polícia, pelo Estado, sem ordem judicial. Mas nós não vamos desistir. Somos todos Guarani Kaiowá”, complementou.
