Día de Los Muertos: aquecimento global ameaça flor que ‘guia as almas’ no México 

Neste domingo (2), enquanto o Brasil lembra seus entes queridos no Dia de Finados, o México celebra de forma festiva o Día de Los Muertos. Altares coloridos, velas e o brilho alaranjado do cempasúchil – símbolo da data – representam a ligação entre vivos e mortos. Mas essa tradição pode estar ameaçada: a flor que “guia as almas” está desaparecendo com o avanço do aquecimento global.

Em resumo:

  • O cempasúchil é uma das tradições do Día de Los Muertos, no México;
  • Ele é a flor mais usada em homenagem aos mortos;
  • A crença popular diz que essa flor “guia as almas”;
  • Seu cultivo é ameaçado pelo aquecimento global, sendo afetado por secas e enchentes;
  • Agricultores enfrentam perdas econômicas e temem o desaparecimento da espécie;
  • Cientistas armazenam e resgatam sementes nativas mais resistentes às mudanças climáticas;
  • Mesmo com dificuldades, comunidades rurais seguem cultivando a flor para manter viva sua herança cultural.
Crença popular no México diz que o cempasúchil é a flor que “guia as almas”. Crédito: Dario Gaston Forcada – Shutterstock

México tem imensas plantações de “flor dos mortos” destruídas

Nos canais de Xochimilco, ao sul da Cidade do México, o tom vibrante do cempasúchil vem desbotando sob o impacto de secas prolongadas, chuvas intensas e enchentes cada vez mais comuns. Essas mudanças no clima afetam o solo, reduzem a produtividade e favorecem pragas que atacam as raízes. Para os agricultores, o prejuízo é duplo – econômico e cultural.

Lucia Ortíz, de 50 anos, cultiva o cempasúchil há três décadas em um terreno herdado da família. Hoje, teme pelo futuro. “Perdemos muito este ano. Houve momentos em que não tínhamos dinheiro nem para comprar fertilizante”, contou à agência Associated Press. “Com o cempasúchil, às vezes ficamos sem nada.” Casos como o dela se repetem em diversas regiões.

Mudanças climáticas tornam o plantio de cempasúchil mais difícil, com solo enfraquecido, menos produção e pragas nas raízes. Crédito: Light and Vision – Shutterstock

De acordo com o governo mexicano, cerca de 37 mil acres de plantações foram destruídos em 2025, com perdas de até 50% da safra. Mesmo assim, os produtores resistem. A prefeita da Cidade do México, Clara Brugada, informou que a produção chegou a 6 milhões de unidades neste ano, que é o maior número já registrado, resultado do esforço coletivo para manter viva a tradição, ainda que com lucros menores.

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Cempasúchil: valor espiritual e mercado milionário

Mais do que um ornamento, o cempasúchil tem forte valor espiritual. Suas pétalas intensamente alaranjadas são usadas, segundo a crença local, para traçar o caminho das almas e enfeitam ruas e altares por todo o país. Além disso, o cultivo movimenta cerca de R$14 milhões por ano, sendo essencial para milhares de famílias rurais.

Também conhecido como cravo-de-defunto-asteca e cravo-de-defunto-mexicano, o cempasúchil (Tagetes erecta) é uma flor nativa o México que pode desaparecer devido ao aquecimento global. Crédito: Mohd_Sohel – Shutterstock

Diante da crise, cientistas buscam salvar essa herança cultural. No banco de sementes Toxinachcal, pesquisadores do governo armazenam milhares de espécies nativas, incluindo 20 variedades do cempasúchil. O objetivo é resgatar tipos tradicionais mais resistentes às mudanças climáticas e reintroduzi-los nas regiões mais afetadas.

A bióloga Clara Soto Cortés, responsável pelo projeto, explica que a substituição das variedades locais por sementes híbridas importadas dos EUA piorou a situação. “As sementes nativas são mais adaptadas ao clima mexicano. As híbridas não têm a mesma diversidade genética e sofrem mais com o calor e a umidade”.Enquanto esperam apoio, Ortíz e outros agricultores, como Carlos Jiménez, de 61 anos, buscam formas de continuar produzindo. Ele estuda usar estufas para proteger as plantas das variações do clima. “Quando a safra se perde, vai junto parte da nossa história”. Mesmo com prejuízos, Jiménez diz que desistir não está nos planos: “O cempasúchil representa nossos antepassados. Precisa resistir.”