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Astronautas “presos” reforçam necessidade de sistema internacional de resgate espacial 

Astronautas “presos” reforçam necessidade de sistema internacional de resgate espacial 

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Tudo sobre China

Conforme noticiado pelo Olhar Digital, os astronautas chineses Chen Dong, Chen Zhongrui e Wang Jie, membros da missão Shenzhou-20, estão em órbita há mais de seis meses. A cápsula trazendo o trio deveria retornar à Terra na última quarta-feira (5), mas a Agência Espacial Tripulada da China (CMSA) anunciou o cancelamento do pouso, sob suspeita de que a nave teria sido impactada por pequenos detritos espaciais, o que poderia tornar a viagem arriscada.

Em resumo:

Nesta terça-feira (11), a CMSA publicou um comunicado breve sobre o status da tripulação. A agência afirmou que, seguindo os princípios de “vida e segurança em primeiro lugar”, medidas de emergência foram ativadas e os trabalhos seguem de forma organizada.

Os membros da missão Shenzhou-20, Chen Dong, Chen Zhongrui e Wang Jie, em foto oficial antes de serem lançados à estação espacial chinesa em abril. Crédito: CNSA

Pequenos detritos, grandes consequências

O comunicado, porém, não detalha qual problema a Shenzhou-20 enfrentou nem sua posição exata. Há especulações sobre um possível lançamento da cápsula Shenzhou-22, não tripulada, como substituta da nave danificada. Especialistas agora monitoram a situação e questionam o andamento do resgate.

Darren McKnight, especialista em detritos orbitais da LeoLabs, declarou ao site Space.com que a falta de transparência dificulta entender o que aconteceu. Ele destacou que a China costuma omitir informações para “não queimar cartucho”, mas lembra que o espaço é um ambiente coletivo, e a comunicação é importante para todos.

McKnight estuda há anos os impactos de detritos na órbita terrestre baixa, que podem prejudicar satélites e missões espaciais. Ele alerta que pequenas colisões podem ser sinais de problemas maiores, conhecidos como Síndrome de Kessler, quando detritos se multiplicam e aumentam o risco de acidentes no espaço.

Representação artística da grande concentração de lixo espacial na órbita da Terra. Crédito: Frame Stock Footage – Shutterstock

Segundo o especialista, a falta de dados sobre eventos como o da Shenzhou-20 dificulta prever e planejar futuros incidentes. Ele lembra que, nas últimas duas décadas, várias missões de satélites comerciais foram afetadas por detritos, mas pouco se divulga sobre isso.

Jan Osburg, engenheiro sênior da RAND Corporation, comentou que o anúncio inicial da China foi positivo, apesar de raro. Ele destacou, porém, que situações de “pessoas presas no espaço”, como a Shenzhou-20 e outros casos, mostram a necessidade de um sistema de resgate espacial internacional.

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Astronautas da NASA ficaram nove meses “presos” na ISS

Osburg relembrou a missão tripulada da Boeing Starliner à ISS em junho de 2024. Apesar de chegar com segurança, a cápsula apresentou vazamentos de hélio e falhas nos propulsores ao longo do trajeto. Os astronautas Buch Wilmore e Suni Williams precisaram estender a estadia na estação e retornaram à Terra apenas em março de 2025, em uma cápsula Crew Dragon da SpaceX. Assim, a missão foi prolongada de oito dias para quase nove meses.

Ele ressalta que missões a estações espaciais têm refúgio seguro, mas que muitas cápsulas comerciais operam “free fly”, sem possibilidade de acoplagem. Nesses casos, o resgate precisa ser rápido, considerando suprimentos limitados e riscos à tripulação.

Os astronautas da NASA Sunita Williams e Butch Wilmore passaram muito mais tempo que o previsto dentro da Estação Espacial Internacional. Crédito: NASA

Para Osburg, soluções simples podem ajudar, como sistemas de acoplamento compatíveis e comunicação padronizada entre naves. Ele defende a criação de procedimentos de resgate semelhantes aos do setor marítimo, com planejamento e coordenação claros.

O engenheiro ainda aponta que uma capacidade inicial de resgate não exigiria grandes gastos nem uma nova agência. Um pequeno grupo estratégico, sem fins lucrativos, poderia coordenar resgates, realizar exercícios e padronizar protocolos por poucos milhões de dólares ao ano. Ele conclui que é urgente definir estratégias de resgate espacial antes que novos incidentes aconteçam. 

A situação da Shenzhou-20 reforça a necessidade de preparar respostas rápidas e seguras para proteger astronautas no espaço. O episódio também evidencia a complexidade do ambiente espacial atual, repleto de detritos, e a importância de cooperação internacional e transparência entre agências para evitar acidentes graves. A segurança de missões tripuladas depende tanto de tecnologia quanto de protocolos bem definidos.

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