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Amazônia enfrenta incêndios e conflitos agrários mesmo com queda no desmatamento

Amazônia enfrenta incêndios e conflitos agrários mesmo com queda no desmatamento

Mesmo com a redução do desmatamento pelo quarto ano consecutivo, a Amazônia brasileira ainda enfrenta incêndios devastadores e conflitos fundiários que ameaçam seus ecossistemas e comunidades locais. A combinação de estiagem prolongada, práticas rurais tradicionais e a falta de fiscalização tem alimentado uma crise que reacende o debate sobre o futuro da floresta e a responsabilidade de grandes produtores rurais.

As informações desta reportagem são do AFP.

Fogo fora de controle e impactos ambientais

Na região de São Félix do Xingu, no estado do Pará — conhecida como o “país do boi” — o fogo continua sendo uma ferramenta comum entre pecuaristas. Chamado de “João Vermelho” pelos moradores, o uso do fogo é visto como uma maneira barata de limpar pastos, apesar dos riscos. “Mão de obra e pesticidas são caros, e aqui não há apoio público”, afirmou o fazendeiro Antônio Carlos Batista, que possui 900 cabeças de gado.

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Estiagem prolongada, práticas rurais tradicionais e falta de fiscalização alimentam uma crise que reacende o debate sobre o futuro da floresta (Imagem: Toa5/iStock)

Mas o que antes era considerado uma prática de baixo custo se transformou em uma ameaça descontrolada. A seca recorde de 2024, associada às mudanças climáticas, intensificou os incêndios, que devastaram quase 18 milhões de hectares da Amazônia brasileira. Pela primeira vez, a área de floresta queimada superou a de pastagens.

A maioria dos focos começou em fazendas de gado e se espalhou rapidamente pela vegetação seca. São Félix do Xingu registrou mais de 7 mil incêndios, tornando-se o município com o maior número de ocorrências do país.

Entre os principais fatores apontados para a persistência do problema estão:

Conflitos e desigualdade agravam a crise

O Pará, que sediará a COP30 em 2025, é o estado com as maiores emissões de dióxido de carbono ligadas ao desmatamento. O município de São Félix do Xingu, com 2,5 milhões de cabeças de gado, exemplifica o contraste entre grandes produtores e pequenos agricultores.

Pequenos produtores afirmam sofrer perseguição e falta de apoio (Imagem: AngelaMacario/iStock)

Enquanto empresas como a Agro SB, dona da fazenda Lagoa do Triunfo, acumulam multas ambientais não pagas desde 2013, pequenos produtores afirmam sofrer perseguição e falta de apoio. “Nos chamam de criminosos da Amazônia, mas ninguém nos ajuda”, diz o agricultor Dalmi Pereira, que vive na comunidade de Casa de Tábua.

A desigualdade é visível também nas relações de poder. Grandes fazendas com sedes em outras cidades controlam extensas áreas e, segundo denúncias, são responsáveis por incêndios e desmatamento. Já pequenos agricultores, muitas vezes sem títulos de terra, afirmam ser tratados como invasores.

A ausência de brigadas de incêndio e de infraestrutura agrava a situação. “Quando há fogo, quem apaga somos nós”, afirmou o prefeito e pecuarista Fabrício Batista, que já foi multado por desmatamento.

Perspectivas para a Amazônia

Apesar do cenário crítico, dados recentes apontam uma redução no número de incêndios em 2025, o menor índice desde 1998. Especialistas atribuem a melhora à fiscalização intensificada durante o governo Lula e à neutralização dos efeitos climáticos de El Niño e La Niña.

Apesar do cenário crítico, dados recentes apontam uma redução no número de incêndios em 2025 (Crédito: PARALAXIA – Shutterstock)

Ainda assim, desafios permanecem. Segundo o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, identificar e punir quem provoca os incêndios continua difícil. “É preciso perícia, imagens de satélite e inteligência artificial para encontrar os responsáveis”, explicou.

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Para a diretora científica do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, Ane Alencar, a recuperação exige políticas públicas duradouras e o engajamento da população.

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