Acre tem aumento nos casos de estupro e integra cenário de avanço da violência sexual na Amazônia

O levantamento aponta que, em 2024, foram contabilizados 13.312 registros de violência sexual nos nove estados da Amazônia Legal

O Acre registrou um salto de 736 para 860 casos de estupro entre 2023 e 2024, um aumento de 16%, e compõe o quadro de crescimento da violência sexual em toda a Amazônia Legal. Os dados foram divulgados nesta quarta-feira (19) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e mostram que a região enfrenta índices bem acima da média nacional.

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A maior parte das vítimas é composta por crianças e adolescentes | Foto: Ilustrativa

O levantamento aponta que, em 2024, foram contabilizados 13.312 registros de violência sexual nos nove estados da Amazônia Legal. A taxa chegou a 90,4 ocorrências por 100 mil habitantes, 38% superior à média do país. Em comparação ao ano anterior, a região teve alta de 4%, enquanto o Brasil como um todo apresentou leve redução de 0,3%.

A maior parte das vítimas é composta por crianças e adolescentes: 77% tinham 14 anos ou menos. O Amazonas foi o estado que apresentou a maior elevação proporcional, com alta de 41% nos registros. Já o Tocantins teve a maior queda, de 9%. Além do Acre, outras unidades também registraram aumento, como Roraima (13%), Amapá (14%) e Maranhão (14%).

De acordo com Isabella Matosinhos, pesquisadora do FBSP, o aumento das violações sexuais na Amazônia não pode ser explicado por um único fator. A especialista destaca que áreas de fronteira tornam mulheres e crianças mais vulneráveis, especialmente onde há menor presença do Estado. Além disso, a expansão das facções criminosas na região tem ampliado dinâmicas de controle social e até interferido em relacionamentos afetivos.

Isabella explica que a lógica interna desses grupos reforça padrões machistas e hierárquicos, o que tende a impulsionar práticas de violência contra mulheres. “As masculinidades que operam dentro das facções são, muitas vezes, orientadas por estruturas machistas. Isso se reflete diretamente nos índices de violência sexual. O crescimento das facções acompanha o aumento das taxas de estupro”, afirma.