8 coisas que você provavelmente não sabe sobre o upscaling da TV

Quando compramos uma TV nova, nos maravilhamos com a resolução 4K nativa, aquele conteúdo ultra nítido e detalhado que as lojas exibem. O grande trunfo das TVs modernas que ninguém te conta não é a resolução 4K, e sim a tecnologia de upscaling, a verdadeira mágica por trás da imagem que você vê.

No entanto, a realidade do nosso dia a dia é bem diferente, veja se não se identifica? Passamos a maior parte do tempo assistindo a filmes em streaming de qualidade duvidosa, canais de TV aberta com resolução HD (ou pior) e vídeos antigos do YouTube.

Agora, será que você sabia que quem faz a mágica de transformar esse conteúdo de baixa resolução em algo aceitável na nossa tela gigante é esse componente muitas vezes subestimado, o processador de upscaling?

Todo mundo sabe que ele existe, mas a maioria não faz ideia de como ele funciona ou do que realmente o torna bom. Prepare-se para descobrir que o upscaling é muito mais do que simplesmente “esticar pixels”.

8 coisas que você provavelmente não sabe sobre o upscaling da TV

O upscaling de TV aumenta digitalmente a resolução de vídeos de baixa qualidade (ex: 1080p) para preencher telas de alta resolução (ex: 4K). É como um artista digital redesenhando uma foto pequena para um mural, preenchendo os espaços vazios para criar uma imagem maior e mais nítida, em vez de simplesmente ampliar e pixelar.

Portanto, o upscaling de TV é a ponte tecnológica que transforma conteúdos de baixa resolução em uma imagem limpa e definida na sua tela de alta resolução. No entanto, existem mitos e verdades sobre esse processo que poucos entendem. A seguir, desvendamos 8 fatos essenciais que explicam não apenas como o upscaling funciona, mas o que realmente diferencia uma TV de outra.

1. Não é apenas esticar a imagem

Imagem mostra exibição de televisão 4K com comparação de resoluções
Para exibir sinais de baixa resolução (como 480p ou 1080p) em uma tela 4K, a TV utiliza o upscaling para preencher a tela, a imagem mostra a grande diferença de detalhes entre 480p, 720p, 1080i/p e 4K (2160p) (Imagem: Patryk Kosmider / Shutterstock.com)

A primeira ideia que vem à mente quando pensamos em upscaling é a de que a TV pega cada pixel da imagem original e o replica em um bloco de 2 x 2 ou 4 x 4 pixels na tela 4K. Esse método rudimentar existe e se chama interpolação bilinear ou bicúbica. O resultado? Imagens borradas e com “artefatos de serrilhamento”.

Não é mágica, é matemática complexa. O upscaling não cria detalhes reais, apenas estima pixels ausentes com base nos que já existem.

Os processadores modernos, especialmente os que usam Inteligência Artificial (IA), vão muito além. Eles não apenas esticam a imagem, mas a analisam e reconstroem. A IA foi treinada com milhões de pares de imagens (em baixa e alta resolução).

Ela aprendeu que um conjunto específico de pixels borrados em uma imagem de baixa qualidade provavelmente representa, por exemplo, os fios de cabelo. Ao fazer o upscaling, o chip não só estica os pixels, mas adiciona detalhes texturizados que se assemelham a cabelos reais, criando uma ilusão de detalhe que simplesmente não estava no sinal original.

O veredito confirmado é que a IA já faz parte do processo, reconhecendo rostos, texturas e letras para melhorar a nitidez de forma inteligente.

2. O “gargalo” muitas vezes está na sua internet, não na TV

Imagem ilustrativa de uma mão segurando um controle remoto apontando para a tela da TV
Muitas vezes, a imagem pixelada ou borrada que vemos na tela (como o fundo bokeh desfocado) não é culpa da TV, mas sim do sinal de entrada (Imagem: Angkana Sae-Yang / Shutterstock.com)

Você pode ter a TV mais avançada do mercado, mas se a sua conexão de internet estiver instável ou congestionada, o serviço de streaming (como Netflix e YouTube) vai automaticamente reduzir a qualidade do vídeo para evitar buffering.

Muitas pessoas culpam a TV por uma imagem “pixelada” ou borrada (eu era uma dessas pessoas), quando, na verdade, o processador de upscaling está recebendo um sinal de baixíssima bitrate (quantidade de dados por segundo).

O conteúdo original ainda é o fator mais importante. Um vídeo em 480p nunca vai parecer 4K real, o upscaling só ameniza o problema.

O upscaling lida com a resolução, mas ele não pode criar informações que foram perdidas pela compressão excessiva. Um vídeo altamente comprimido tem “blocos” de cor, ruído e falta de detalhe. O trabalho do chip é tentar suavizar esses defeitos, mas é uma batalha difícil. A qualidade do sinal de entrada é fundamental.

3. Diferentes conteúdos exigem diferentes estratégias de upscaling

Imagem mostra cena de animação em uma tela de TV, Trailer ou filme da Elemental na tela da TV. TV com controle remoto, tigela de pipoca e vasinho de planta doméstica
A imagem, que exibe uma cena de animação com cores sólidas e linhas bem definidas, ilustra o tipo de conteúdo que é mais fácil para os processadores de upscaling converterem para a resolução 4K (Imagem: Hamara/Shutterstock.com)

O processador não trata todos os conteúdos da mesma forma. Ele usa algoritmos diferentes para, veja:

  • Desenhos animados e animações: por terem cores sólidas e linhas bem definidas, são os mais fáceis de serem convertidos. O upscaling pode ser mais agressivo, resultando em imagens incrivelmente nítidas e limpas.
  • Imagens reais (live-action): requerem mais nuance. O algoritmo precisa equilibrar a nitidez sem exagerar no ruído da imagem ou criar uma aparência “artificial”.
  • Imagens com muito texto (credenciais e legendas): aqui, a precisão é fundamentall. Um bom upscaling evita que as letras fiquem borradas ou com serrilhas, usando técnicas específicas para manter a clareza das bordas.

Algumas TVs high-end já fazem essa detecção de cena automaticamente, ajustando o processamento em tempo real.

4. A taxa de bits é tão importante quanto a resolução

A imagem ilustra a diferença entre uma fonte digital com perda severa de dados (esquerda) e a imagem rica em detalhes (direita). A parte esquerda simula o que acontece quando um vídeo tem uma taxa de bits (bitrate) excessivamente baixa, resultando em falta de detalhe e no aparecimento dos
Não é só a resolução, é a quantidade de dados por segundo (bitrate) que define se o upscaling entregará uma imagem 4K fantástica ou apenas uma imagem borrada em uma tela grande (Imagem: Andrii__Ivaniuk / Shutterstock.com)

Dois vídeos em 1080p podem ter qualidades visuais drasticamente diferentes. Por quê? A taxa de bits (Bitrate). Um arquivo 1080p com um bitrate alto (por exemplo, de um Blu-ray) é uma fonte riquíssima de informações para o upscaling. O processador tem dados detalhados para trabalhar, resultando em uma imagem 4K fantástica.

O conteúdo original ainda é o fator mais importante (a qualidade do arquivo fonte é primordial). Já um vídeo 1080p de streaming, com um bitrate baixo, está cheio de artefatos de compressão.

O upscaling tenta “adivinhar” o que há entre os pixels, mas como a informação original é pobre, o resultado final, mesmo em 4K, pode parecer pior do que o Blu-ray upscaled. A lição é: resolução não é tudo, a qualidade do arquivo fonte é primordial.

5. A fonte do sinal faz uma diferença enorme (players externos vs. apps da TV)

Imagem mostra televisores Samsung em loja de eletrônicos Hi-tech
A imagem de uma TV High-End da Samsung (QLED), exibindo uma cena vibrante e com alta qualidade, serve como um poderoso lembrete de que o resultado final é determinado pela capacidade de processamento (Imagem: NA.MAT / Shutterstock.com)

Muitos entusiastas de home theater preferem usar players externos dedicados, como o Apple TV 4K, Nvidia Shield ou consoles de última geração. Isso acontece porque o upscaling pode ser feito na fonte ou na TV.

  • Upscaling na fonte: o player externo faz o upscaling do conteúdo e envia um sinal já em 4K para a TV. A qualidade dependerá da capacidade do processador do player.
  • Upscaling na TV: você configura o player para enviar o sinal nativo (por exemplo, 1080p) e deixa a TV fazer todo o trabalho.

Nem todo upscaling é feito pela TV. Consoles, players de Blu-ray e serviços de streaming às vezes fazem o upscaling antes da TV.

Geralmente, o processador de uma TV high-end (como LG OLED, Samsung QD-OLED ou Sony Bravia) é superior ao de um player médio. Portanto, na maioria dos casos, é melhor deixar a TV, que foi projetada para sua tela específica, fazer o upscaling.

No entanto, players top de linha como o Nvidia Shield têm algoritmos excelentes, especialmente para conteúdo de baixa resolução, e podem ser uma opção viável. Cada marca tem seu próprio algoritmo, com Samsung, LG e Sony usando processadores e técnicas proprietárias diferentes.

6. A resolução nativa do painel é o “teto”, mas não é tudo

Imagem mostra exibição de televisão com comparação de resoluções. Ultra HD 8K completo em uma TV moderna
A imagem ilustra a impressionante diferença de detalhes da resolução Full HD (1080p) para a Ultra HD (4K) e, finalmente, para a Full Ultra HD (8K) (Imagem: REDPIXEL.PL / Shutterstock.com)

Uma TV 8K tem quatro vezes mais pixels que uma 4K. Isso significa que, em teoria, o upscaling de um conteúdo 4K para 8K é uma tarefa menos complexa do que upscaling de 1080p para 4K, pois a densidade de pixels a ser “preenchida” é menor em relação ao salto anterior.

No entanto, isso não é uma regra absoluta. Uma TV 8K com um processador medíocre pode produzir uma imagem pior do que uma TV 4K com um processador excelente fazendo o upscaling do mesmo conteúdo 1080p. A qualidade do algoritmo e do poder de processamento é frequentemente mais importante do que a resolução nativa do painel quando falamos de conteúdo não-nativo.

O upscaling consome poder de processamento, então, modelos de entrada têm desempenho inferior devido a chips mais simples.

7. O motion handling e o upscaling estão intimamente ligados

Imagem mostra telespectador sentado em poltrona e assistindo a imagem dinâmica dos jogadores em movimento e a clareza da cena de futebo
A imagem vibrante de uma partida de futebol, com a ação tão intensa que parece saltar da tela, é a ilustração perfeita de quando o upscaling e o processamento de movimento (motion handling) trabalham em harmonia (Imagem: alphaspirit.it / Shutterstock.com)

O upscaling não acontece em um único quadro estático. Ele precisa funcionar em tempo real, a 24, 30 ou 60 quadros por segundo. Isso adiciona uma camada extra de complexidade: o processamento de movimento.

Upscaling é diferente de interpolação de quadros, um aumenta a resolução espacial (pixels), o outro cria quadros extras (movimento).

Um algoritmo de upscaling precisa ser inteligente o suficiente para rastrear objetos em movimento pela tela e aplicar a melhoria de resolução de forma consistente, sem criar “rastros” ou “fantasmas” atrás dos objetos. 

Muitas das tecnologias de suavização de movimento (como o MEMC – Motion Estimation, Motion Compensation) são parte integrante do mesmo sistema que realiza o upscaling, trabalhando em conjunto para criar uma imagem estável e nítida, mesmo em cenas de ação rápida.

8. A calibração de fábrica pode “treinar” o processador

Imagem mostra televisor LG dentro de uma loja de eletrônicos
A imagem de uma TV LG OLED EVO exibindo uma paisagem deslumbrante, com nuvens e um céu azul intenso, ilustra a excelência em qualidade de imagem que é possível quando o upscaling é otimizado para a tecnologia do painel (Imagem: 8th.creator / Shutterstock.com)

Os fabricantes não criam um algoritmo universal para todos os modelos. Eles calibram e “treinam” o processador de upscaling de cada modelo de TV especificamente para as características do painel que ele vai controlar.

O tipo de painel influencia o resultado: TVs OLED e Mini LED mostram menos artefatos. Isso significa que o algoritmo é ajustado para o tipo de painel (OLED, QLED, Mini-LED), seu brilho máximo, a gama de cores e até mesmo como os pixels se comportam em transições de cor. 

Um upscaling otimizado para um painel OLED, com seus pixels que podem desligar completamente, pode ser sutilmente diferente daquele otimizado para um painel QLED. Essa sintonia fina é o que separa um bom upscaling de um excepcional. Você pode desativar ou ajustar o efeito em configurações avançadas da TV.

Bônus: o futuro é o “upscaling por contexto”

A próxima fronteira do upscaling já está sendo explorada em tempo real nos videogames, com tecnologias como DLSS (NVIDIA) e FSR (AMD). Elas usam IA não apenas para analisar pixels, mas o contexto tridimensional da cena.

Enquanto o upscaling tradicional de vídeo é “cego” para o conteúdo, essas novas técnicas entendem que um determinado conjunto de pixels representa uma textura de metal, um reflexo na água ou folhas em uma árvore. 

No futuro, é possível que os processadores de TV integrem esse tipo de tecnologia, usando bancos de dados de texturas do mundo real para reconstruir imagens com uma fidelidade que hoje consideramos impossível, tornando a distância entre um conteúdo de baixa resolução e um nativo cada vez mais imperceptível.

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O upscaling deixou de ser um recurso técnico secundário para se tornar o coração da experiência de visualização moderna. É uma forma de arte digital que combina poder de processamento bruto com a sofisticação da inteligência artificial. Entender suas nuances nos torna espectadores mais críticos e nos ajuda a apreciar a verdadeira engenharia que existe por trás das telas que tanto amamos.

Na próxima vez que você assistir a um filme antigo em sua TV 4K, lembre-se da complexa e silenciosa revolução digital que está acontecendo em milissegundos, quadro a quadro, para trazer essa imagem à vida.