Tarifaço: os próximos passos após o encontro de Lula e Trump

Governo brasileiro vai enviar uma comitiva a Washington nas próximas semanas, quando os EUA devem apresentar demandas para acordo

Kuala Lumpur – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) retorna a Brasília nesta terça-feira (28/10) tendo superado o primeiro momento de aproximação com o presidente dos EUA, Donald Trump. Os líderes se encontraram na Malásia e deram o pontapé inicial para a negociação sobre o tarifaço, e as próximas semanas serão cruciais para a construção de um acordo com Washington.

conversa entre Lula e Trump, realizada no último domingo (26/10) em meio à 47ª Cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), serviu para estabelecer confiança entre os presidentes sobre a vontade de negociar. Eles trocaram contatos diretos e determinaram que os auxiliares passassem a tratar dos termos o mais cedo possível.

Uma primeira conversa técnica ocorreu ainda em Kuala Lumpur, nessa segunda-feira (27/10). Participaram da reunião, pelo lado brasileiro, o ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, o secretário-executivo do Ministério da Indústria, Comércio e Serviços, Márcio Rosa, e assessor-chefe adjunto da Assessoria Especial para Assuntos Internacionais, Audo Faleiro.

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Lula e Trump na Malásia

Lula e Trump na Malásia
Encontro entre Lula e Trump na Malásia
Lula e Trump na Malásia
Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores

Pelo lado norte-americano, os enviados foram o representante de comércio dos EUA (USTR), Jamieson Greer, e o secretário do Tesouro, Scott Bessent. Na conversa, ficou acordado que o Brasil enviaria uma comitiva a Washington o quanto antes, provavelmente na primeira semana de novembro.

“Já falei com os meus negociadores. Ele [Trump] foi para a Coreia, para o Japão, mas, a depender do resultado desta semana, eu já vou importuná-lo com um telefonema direto. Ele também tem o meu telefone. Só que, como eu não uso celular, eu dou o do meu cerimonial”, disse Lula em coletiva de imprensa na Malásia.

Segundo fontes do Planalto, os cotados para liderar a comitiva são os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Geraldo Alckmin (Indústria, Comércio e Serviços), além do próprio chanceler Mauro Vieira. Só então, acredita o Planalto, o Brasil ficará ciente das reais demandas dos EUA. A Casa Branca, dizem interlocutores do presidente Lula, até o momento não apresentou as exigências.

A leitura do governo brasileiro é que Trump ainda prepara uma proposta. O Brasil, por outro lado, colocou as cartas na mesa. O presidente Lula pediu a suspensão do tarifaço com o início da negociação e também o cancelamento das sanções impostas a ministros do governo e do Supremo Tribunal Federal (STF).

Dessa forma, as próximas semanas serão cruciais para o desenrolar da negociação. O Planalto e a Casa Branca passaram a ter um contato direto, e querem negociar o mais rapidamente possível. O encontro, dizem interlocutores, só não ocorrerá esta semana porque os norte-americanos têm agendas externas na Coreia do Sul e Japão.

Lula e Trump com “química”, Bolsonaro escanteado.

O secretário executivo do MDIC, Márcio Rosa, afirmou que aspectos políticos foram superados e não serão levados em conta na negociação sobre os Estados Unidos sobre o tarifaço. A medida foi imposta pela Casa Branca como retaliação ao que Trump considerava uma perseguição política a Bolsonaro e à suposta limitação das redes sociais. Dessa forma, espera-se que a discussão se limite a termos comerciais.

O republicano, que durante a conversa com Lula não garantiu que levaria Bolsonaro em consideração nas negociações, disse ter tido um bom encontro com o petista. A jornalista no voo para o Japão, Trump chegou a dar parabéns ao mandatário brasileiro, que completou 80 anos na última segunda-feira.

“Quero desejar feliz aniversário ao presidente. Hoje é o aniversário dele. Você sabia? Ele é um cara muito vigoroso, na verdade, e fiquei muito impressionado. Mas hoje é o aniversário dele. Então, feliz aniversário”, disse.