Planeta Terra está à beira do colapso – mas há esperança, segundo relatório

O planeta está em alerta máximo. Dos 34 “sinais vitais” que medem o estado do clima da Terra, 22 atingiram níveis recordes, segundo o Relatório do Estado do Clima 2025, publicado na revista BioScience nesta quarta-feira (29). 

A Terra vive a década mais quente já registrada. E mostra sinais de que as mudanças climáticas entram numa fase de aceleração perigosa, com impactos que já se espalham por todos os ecossistemas.

Planeta está perto de virar ‘estufa terrestre’, alerta relatório

Produzido por cientistas da Universidade Estadual do Oregon e do Instituto Potsdam de Pesquisa sobre Impacto Climático, o estudo alerta que o sistema climático pode estar se aproximando de pontos de inflexão irreversíveis

Ilustração de planeta Terra esquentando por conta das mudanças climáticas
Estudo alerta que o sistema climático da Terra pode estar se aproximando do colapso (Imagem: tete_escape/Shutterstock)

A combinação de recordes de temperatura, perda de gelo, incêndios e desastres extremos sugere que o planeta caminha para uma trajetória de “estufa terrestre”. 

Ainda assim, os autores insistem: há tempo para reverter o quadro, mas a janela está se fechando rapidamente.

Limites quebrados

O relatório mostra um planeta que rompeu seus próprios limites. O ano de 2024 foi o mais quente já registrado e, segundo os pesquisadores, provavelmente o mais quente dos últimos 125 mil anos – superando até os picos do último período interglacial. 

O aumento da temperatura média global foi acompanhado por uma escalada sem precedentes na concentração de gases de efeito estufa. Em maio de 2025, o nível de dióxido de carbono (CO₂) na atmosfera ultrapassou 430 partes por milhão (ppm), valor que não era visto há milhões de anos.

Os cientistas identificam uma combinação de fatores que aceleram o aquecimento. Entre eles, estão:

  • Redução do resfriamento por aerossóis;
  • Aumento da retenção de calor pelas nuvens, que passam a refletir menos radiação solar;
  • Diminuição da refletividade da Terra, que faz o planeta absorver mais energia.

Esses mecanismos empurram o sistema climático para um ponto de instabilidade no qual os próprios efeitos do aquecimento passam a se reforçar mutuamente.

A avaliação é: a Terra pode estar se aproximando de uma “trajetória de estufa terrestre”, cenário no qual o aquecimento global continua mesmo que as emissões de gases de efeito estufa diminuam. 

Os autores alertam que cada fração de grau evitada pode representar a diferença entre um planeta ainda habitável e um ambiente marcado por colapsos ecológicos em cadeia.

Impacto humano e colapso dos ecossistemas

O relatório aponta a ação humana como força central por trás do colapso climático. O crescimento populacional, o aumento do consumo e a expansão econômica pressionam os limites do planeta. 

Calor extremo
Ação humana é força central por trás do colapso climático, segundo relatório (Imagem: Piyaset/Shutterstock)

Ainda segundo o estudo, a humanidade consume recursos naturais mais rápido do que eles podem ser repostos. Desde 1990, dois terços do aquecimento global são atribuídos aos 10% mais ricos da população, responsáveis pelo maior uso de energia e pelo padrão de vida de alto consumo.

A dependência de combustíveis fósseis continua sendo o principal motor dessa crise. Em 2024, o uso global de carvão, petróleo e gás bateu recorde. E o consumo total de energia fóssil foi 31 vezes maior que o de fontes renováveis

As emissões relacionadas à energia aumentaram 1,3%, atingindo 40,8 gigatoneladas de CO₂ — o maior valor da história. China, Índia e Estados Unidos responderam juntos por mais da metade dessas emissões.

Os impactos dessa pressão já são visíveis nas florestas. A perda de cobertura arbórea ligada a incêndios florestais cresceu 370% em 2024, alimentada pelo calor extremo e pelo El Niño. 

A perda de florestas tropicais primárias liberou cerca de 3,1 gigatoneladas de CO₂, o equivalente a 8% das emissões globais do ano. Mesmo com a queda de 30% no desmatamento da Amazônia brasileira, a região enfrentou uma onda de queimadas atípicas.

Oceanos em crise e riscos em cascata

Os oceanos e as regiões polares também dão sinais de colapso. O calor oceânico atingiu um recorde histórico, alimentando o maior branqueamento de corais já registrado, que afetou cerca de 84% dos recifes do planeta entre 2023 e 2025. 

Ilustração de correntes no oceano
A Circulação Meridional do Atlântico (AMOC), sistema de correntes que regula o clima global, emite sinais preocupantes (Imagem: NASA/Goddard Space Flight Center Scientific Visualization Studio)

A acidificação das águas segue em alta e pode já ter ultrapassado o limite seguro definido por cientistas. Isso compromete cadeias alimentares marinhas e a capacidade dos oceanos de absorver carbono. 

Ao mesmo tempo, a taxa de aumento do nível do mar dobrou nas últimas três décadas, um reflexo direto do derretimento acelerado das calotas polares.

Na Groenlândia e na Antártida, o volume de gelo está em mínimas históricas. Pesquisas indicam que as duas regiões podem ter cruzado pontos de inflexão críticos, o que torna inevitável o aumento do nível dos oceanos nos próximos séculos. 

Os cientistas também observam sinais preocupantes na Circulação Meridional do Atlântico (AMOC), sistema de correntes que regula o clima global. 

Seu enfraquecimento pode desencadear eventos em cascata, como alteração de regimes de chuva, intensificação de secas e ampliação da instabilidade climática em escala planetária.

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Caminhos possíveis (e a janela que se fecha)

Apesar dos sinais de colapso, o relatório destaca que as soluções estão ao alcance. E que agir agora ainda pode evitar o pior. 

Estudo aponta que energia solar é hoje a fonte mais econômica do mundo
Energia solar e a eólica têm potencial para gerar até 70% da eletricidade global até 2050 (Imagem: Miha Creative/Shutterstock)

Os pesquisadores reforçam que mitigar o aquecimento é mais barato do que lidar com seus danos, que já custaram trilhões de dólares em desastres climáticos nas últimas décadas. 

A transição energética é central nesse processo. A energia solar e a eólica têm potencial para gerar até 70% da eletricidade global até 2050, caso os combustíveis fósseis sejam eliminados rapidamente.

Além da energia, o estudo defende mudanças estruturais na forma como sociedades produzem, consomem e se alimentam. Restaurar ecossistemas como florestas e manguezais poderia remover até dez gigatoneladas de CO₂ por ano, enquanto reduzir o desperdício de alimentos e adotar dietas mais ricas em vegetais ajudaria a cortar emissões e melhorar a saúde pública. 

Para os autores, o desafio não é apenas tecnológico, mas social. Movimentos coletivos e políticas de equidade podem acionar “pontos de inflexão positivos” capazes de reverter o curso da crise climática.