Buraco negro gigante é descoberto no coração de galáxia minúscula

Um artigo publicado este mês no periódico científico Astrophysical Journal Letters relata a descoberta de um buraco negro inesperadamente grande no coração de Segue 1, uma galáxia anã ultra tênue localizada a cerca de 75 mil anos-luz da Terra

Usando modelagem avançada e observações do Observatório WM Keck (um dos maiores e mais avançados complexos astronômicos do mundo, localizado no Havaí e equipado com telescópios de 10 metros de diâmetro), os pesquisadores concluíram que a dinâmica de Segue 1 é governada por um buraco negro de aproximadamente 450 mil massas solares – e não por um halo dominante de matéria escura, como se pensava. 

O achado redefine o entendimento sobre como galáxias extremamente pequenas conseguem se manter unidas e evoluir ao longo do tempo.

Segue 1, uma galáxia anã extremamente tênue no centro desta imagem, contém apenas algumas estrelas. Novas pesquisas revelam um buraco negro surpreendentemente massivo em seu núcleo. Crédito: SIMBAD, DSS.

Buraco negro em Segue 1: o que você precisa saber

Os resultados da pesquisa mostram que:

  • As simulações só coincidiram com as observações quando os cientistas incluíram um buraco negro muito massivo no centro da galáxia;
  • Esse buraco negro tem uma massa maior que a soma de todas as estrelas de Segue 1 – algo raro em galáxias tão pequenas;
  • As estrelas próximas ao núcleo se movem em órbitas muito rápidas e apertadas, um sinal claro da intensa força gravitacional no local;
  • A descoberta pode mudar o modo como os astrônomos entendem as galáxias anãs, antes explicadas principalmente pela presença de matéria escura;
  • Segue 1 pode ter sido parcialmente “despida” pela gravidade da Via Láctea ou representar uma versão em miniatura dos chamados “pontos vermelhos compactos”, observados no Universo primitivo.

Como descobriram o gigante escondido em Segue 1

Segue 1 é uma das companheiras mais tênues da Via Láctea, com poucas centenas a milhares de estrelas – material demais para desaparecer, mas de menos para gerar a gravidade necessária para se manter unida sem ajuda extra. Por décadas, essa “ajuda” foi atribuída a grandes porções de matéria escura.

No novo trabalho, porém, os astrônomos analisaram a movimentação das estrelas com base em dados do Observatório WM Keck e testaram inúmeros cenários em simulações. O único que reproduziu as velocidades e as órbitas observadas foi o que colocava um buraco negro central extremamente massivo no comando gravitacional.

Segue 1 é 50 vezes menos brilhante que o aglomerado estelar mostrado acima, mas é mil vezes mais massivo, o que sempre fez com que os cientistas acreditassem que a maior parte de sua massa fosse composta de matéria escura. Crédito: Sloan Digital Sky Survey

“Nosso trabalho pode revolucionar a modelagem de galáxias anãs ou aglomerados estelares, incluindo buracos negros supermassivos em vez de apenas halos de matéria escura”, afirma Nathaniel Lujan, estudante de pós-graduação da Universidade do Texas em San Antonio e autor principal, em um comunicado. O coautor Karl Gebhardt, professor de astrofísica na Universidade do Texas em Austin, reforça que o buraco negro em Segue 1 é significativamente maior do que o esperado. “Se essa grande proporção de massa for comum entre galáxias anãs, teremos que reescrever como esses sistemas evoluem.”

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As órbitas circulares e velozes medidas perto do centro da galáxia são a pista decisiva: elas indicam uma fonte de gravidade extremamente concentrada. Segundo a equipe, o buraco negro supera em cerca de dez vezes a massa de todas as estrelas de Segue 1 somadas – uma inversão da hierarquia típica nas galáxias, onde as estrelas costumam dominar a massa visível.

Há duas leituras principais para a origem desse cenário. A primeira é que, por estar tão perto da Via Láctea, Segue 1 pode ter sido maior no passado e, ao longo do tempo, perdido estrelas por forças de maré, deixando para trás um núcleo compacto dominado pelo buraco negro. A segunda aproxima Segue 1 de uma classe de objetos batizada de “pequenos pontos vermelhos”, possíveis galáxias primitivas e compactas que já nascem com buracos negros grandes e poucas estrelas. Enquanto esses sistemas distantes são difíceis de estudar diretamente, Segue 1 serve como um laboratório local para entender processos que moldam as primeiras galáxias.

Se buracos negros supermassivos forem mais comuns e decisivos em galáxias anãs do que supúnhamos, os modelos cosmológicos precisarão acomodar um papel mais ativo desses objetos desde o início da formação galáctica. Para os autores, isso não elimina a matéria escura, mas realinha sua participação e distribuições esperadas em menores escalas.