A música eletrônica tem ganhado força mundialmente com artistas como Charli XCX e a febre dos remixes nas redes. Longe dos grandes palcos e festivais, uma jovem brasileira transforma o próprio guarda-roupa em estúdio e o celular em ferramenta de criação.
Luna Maria, conhecida artisticamente como Devil In a Skirt, tem 24 anos e já lançou três álbuns de música eletrônica produzidos de forma independente. O mais recente, Hypertecnológico (2025), traduz sua paixão pelo futuro em batidas intensas e sons digitais que projetam o ouvinte para as pistas.
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Devil In a Skirt
Acervo pessoal
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Capa do álbum Hypertecnologica (2025)
Reprodução/Instagram @skirt.in.a.devil
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Devil In a Skirt
Acervo pessoal
“Eu era uma criança fissurada em música eletrônica que morava na fazenda, que não tinha nem internet. Eu sempre tive esse fascínio pela tecnologia. Eu costumo dizer que a minha música não é nenhuma música, ela é um objeto tecnológico sonoro”, conta.
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Natural da zona rural de Catalão (GO) e morando atualmente em Uberlândia (MG), a jovem trans enfrenta insegurança alimentar e se mantém com a venda de conteúdo adulto na internet.
“Minha maior inspiração para poder criar é a fome, primeiramente. E a urgência de ser ouvida mesmo, de ser vista”, afirma.
A ideia de gravar dentro do guarda-roupa surgiu por necessidade. “A minha família é muito grande, muito grande mesmo. Então a minha casa não tinha silêncio e eu não podia gravar as minhas músicas em paz. Era o único jeito mesmo que eu tinha de gravar alguma coisa. Era entrando dentro do guarda-roupa mesmo”, lembra.

Devil começou a produzir em um computador, mas, após o equipamento quebrar, passou a criar e editar apenas com o celular. No processo, desenvolveu uma estética própria que combina colagens sonoras, áudios da internet e referências tecnológicas.
O primeiro álbum, Marginal Process (2022) foi um experimento de aprendizado. Em seguida veio Brazil22 (2022), que mistura o analógico ao digital e traz releituras do folclore regional, incluindo uma versão eletrônica de Boate Azul, clássico do modão sertanejo. Agora, em Hypertecnológico, a artista mergulha no futuro e aborda as vivências da população LGBTQ+ por meio de ruídos e texturas digitais.
Ela se orgulha das comparações com ídolos como Sophie e Charli XCX, embora reconheça as diferenças de estrutura. “Esses artistas são engenheiros musicais, eles produzem os sons um por um do zero. […] Eu crio as minhas músicas a partir de recortes de outras coisas, de loops, de samples. E eu fico muito feliz de alcançar esse objetivo, mesmo fazendo dessa forma”, diz.
Algumas faixas de Devil já repercutiram nas redes. Fashion, criada a partir do áudio de um cliente, ganhou versões remixadas usadas em vídeos de internautas no Brasil e no exterior. “Para mim, quatro mil pessoas me ouvindo já é como se eu fosse uma artista hiper mega bem-sucedida”, reflete.
Além da própria trajetória, a produtora se dedica a conectar outros artistas independentes para colaborações. Mesmo sem convites para grandes eventos, ela mantém o humor: “Estou esperando os convites”. Com o som feito dentro de um guarda-roupa e a ambição de “democratizar a produção musical”, Luna vê a tecnologia como uma aliada.
“Agora, a internet tem o poder de colocar pessoas diferentes em espaços de holofote”, opina.