Cientistas desenvolveram uma solução de software para corrigir o desfoque nas imagens do telescópio James Webb; inovação virou até tatuagem

Com nova solução de software, James Webb pode captar imagens mais nítidas. (Imagem: Vadim Sadovski / Shutterstock)

Pesquisadores desenvolveram uma solução de software que pode resolver o desfoque do Telescópio Espacial James Webb (JWST). Sem precisar de uma missão espacial, esse recurso pode ser instalado da Terra e já tem dado resultados. O estudo desse projeto está disponível no servidor de pré-impressão arXiv, onde aguarda pela revisão por pares.

A solução inédita deve ser instalada no Interferômetro de Mascaramento de Abertura (AMI), um instrumento que permite observar astros em alta resolução. Ele faz isso ao combinar a luz captada por diversas regiões do espelho principal do telescópio, uma técnica conhecida como interferometria.

O AMI tem perdido desempenho desde o início das operações do JWST. Pesquisadores descobriram que sutis distorções eletrônicas no detector da câmera infravermelha estavam deturpando as imagens captadas. O novo recurso promete resolver essa falha.

Imagens antes (acima) e depois (abaixo) da solução. Da esquerda para a direita: um jato de buraco negro, a lua Io de Júpiter e os ventos da estrela WR 137. (Imagem: Max Charles/Universidade de Sidney)

Para resolver o problema, um grupo de pesquisadores da Universidade de Sidney, na Austrália, criou a solução baseada em dados das observações. Com apenas calibrações no software, esse recurso pode resolver as falhas de foco do telescópio.

Chamado de AMIGO (sigla para Observações Gerativas de Interferometria de Mascaramento de Abertura), esse sistema usa simulações avançadas e redes neurais para modelar o comportamento da óptica e da eletrônica do JWST. Ao detectar a imperfeição, quando a carga elétrica se espalha para píxeis vizinhos, algoritmos desenvolvidos pela equipe corrigem o desfoque das imagens e restauram a sensibilidade total do AMI.

“Em vez de enviar astronautas para instalar novas peças, eles conseguiram consertar as coisas com código”, relatou Peter Tuthill, professor na Universidade de Sidney e membro do estudo, em um comunicado. Os pesquisadores Louis Desdoight e Marx Charles tatuaram o instrumento que ajudaram reparar.

Os cientistas Louis Desdoigts e Max Charles com tatuagens da ‘Máscara não redundante’, instrumento de captação de imagem que ajudaram a consertar. (Imagem: Universidade de Sidney)

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Com o AMIGO, o JWST captou imagens mais nítidas de objetos celestiais. O grupo testou o telescópio ao gerar imagens de um jato de buraco negro, da superfície vulcânica da lua “Io” de Júpiter e dos ventos estelares empoeirados de WR 137. Esses resultados estão disponíveis em um estudo complementar no arXiv.

“Este trabalho faz da visão do JWST ainda mais aguçada. É incrivelmente gratificante ver uma solução de software ampliar o alcance científico do telescópio e saber que isso foi possível sem precisar sair do laboratório”, concluiu o professor.

Samuel Amaral

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Samuel Amaral é jornalista em formação pela Universidade de São Paulo (USP) e estagiário de Ciência e Espaço no Olhar Digital.

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.